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Câncer de pulmão: 6 novidades no diagnóstico e tratamento

Novas terapias e estratégias para rastrear este que é o tipo mais comum de câncer são validadas por estudos e entidades médicas

Por Larissa Beani
Atualizado em 21 ago 2024, 09h46 - Publicado em 19 ago 2024, 14h44
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Cerca de 2,5 milhões de pessoas são diagnosticadas com câncer de pulmão todos os anos em redor do mundo (Thiago Lyra/Veja Saúde)
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Com 2,5 milhões de novos casos por ano, o câncer de pulmão é o mais comum em todo o mundo depois dos tumores de pele não-melanoma. No Brasil, estima-se que, anualmente, 32 mil pessoas recebem o diagnóstico e 28 mil morrem pela doença.

Em geral, os casos são descobertos em fase avançada, o que diminui as chances de cura — mas médicos e pesquisadores estão trabalhando para mudar o cenário negativo.

Na verdade, com a melhora no diagnóstico e o avanço de estratégias terapêuticas mais precisas, ele já está mudando. No A.C. Camargo Cancer Center, referência no país, a taxa de sobrevida depois do diagnóstico saltou de 10,4% em 2000 para 51,1% em 2017 nos homens. Para as mulheres, o avanço foi de 18,8% para 59%.

Ainda há, contudo, um longo caminho à frente. Neste contexto, a campanha Agosto Branco busca disseminar informações e promover ações de conscientização sobre combater e prevenir este câncer, cujo o principal causador é o tabagismo. Hoje, a instrução é evitar não apenas o cigarro como também vape e outros dispositivos eletrônicos.

+ Leia também: Anvisa mantém proibição ao cigarro eletrônico: por quê?

“Desde os anos 1980, temos feito um excelente trabalho ao reduzir as taxas de consumo de cigarro em todo o globo, mas agora essa conquista foi abalada pelo uso de cigarros eletrônicos, que são igualmente prejudiciais à saúde e tem se popularizado entre os mais jovens“, alerta Javier de Castro, oncologista espanhol que esteve recentemente no Brasil para discutir formas de combate à doença.

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Para Daniel Bonomi, diretor científico da Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica (SBCT), o rastreamento de novos casos precisa avançar a fim de flagrar o tumor quando ele ainda está em estágios iniciais e tem um melhor prognóstico.

O apelo é para tabagistas e não tabagistas, especialistas e pessoas de todos os gêneros e idades, para que compareçam ao médico regularmente e não limitem seus conhecimentos sobre a saúde“, afirma o médico brasileiro.

A seguir, confira como a ciência tem avançado em todas as frentes do combate a essa doença:

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1. Nova diretriz de rastreamento

Em 2023, foi lançado o 1º Consenso Brasileiro para Rastreamento de Câncer de Pulmão, documento no qual entidades médicas determinam estratégias para agilizar o diagnóstico da doença, identificando casos de maneira mais precoce e eficaz.

De acordo com o consenso, exames de tomografia do tórax de baixa radiação devem ser realizados anualmente por quem se enquadre nos seguintes critérios

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  • Ter entre 50 e 80 anos de idade;
  • Fumar regularmente ou ter parado há menos de 15 anos;
  • Apresentar carga tabágica de 20 anos-maço.

A carga tabágica é calculada ao dividir a média de cigarros tragados diariamente por 20 (padrão do maço), multiplicando o resultado por anos de fumo. Por exemplo, quem fuma dez cigarros por dia há 40 anos tem carga de 20 anos-maço. 

+ Leia também: Câncer de pulmão: conheça as estratégias para detectá-lo cedo

2. Biópsia líquida no diagnóstico

Outro avanço na área diagnóstica diz respeito ao desenvolvimento de biópsias líquidas, isto é, de formas de detectar e definir diferentes tipos de câncer por amostras de sangue.

A abordagem dá aos médicos uma visão mais completa sobre o quadro do paciente, já que fornece informações genômicas do tumor que “escapam” para a corrente sanguínea do indivíduo. A análise é feita por meio da identificação de DNA tumoral circulante (ctDNA).

Em julho, a Illumina, empresa americana líder em decodificação genética, integrou ao NovaSeq X, um dos sequenciadores mais rápidos do mundo, um novo exame capaz de avaliar mais de 500 genes relacionados ao câncer.

A novidade pode beneficiarr principalmente pessoas com o tipo mais comum de câncer de pulmão, que corresponde a 85% dos casos: o de células não pequenas (CPNPC). A análise genética ajuda a identificar qual é o subtipo do tumor e definir tratamentos mais eficazes a partir das suas características.

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+ Leia também: A biópsia líquida e a caça ao câncer pelo sangue

3. Medicamento demonstra efeito em casos iniciais

Boas notícias para o futuro do tratamento de casos de CPNPC em estágio inicial. O alectinibe, um inibidor de quinase desenvolvido pela farmacêutica Roche e já aprovado para quadros avançados da doença (em que a neoplasia se espalhou para outras partes do corpo), reduziu em 76% o risco de óbito ou recidiva naqueles com tumor localizado, um estágio mais inicial.

Os dados foram publicados em abril no periódico New England Journal of Medicine e são fruto da terceira fase de ensaios clínicos do estudo Alina, que avaliou 257 pacientes ALK-positivo — isto é, que possuem mutação no gene quinase de linfoma anaplásico (ALK).

Os participantes foram divididos em dois grupos: 130 receberam o alectinibe e 127 foram encaminhados para quimioterapia-padrão — sendo que o primeiro grupo melhores índices de sobrevida.

A doença costuma retornar em metade dos indivíduos com a doença em estágio inicial, mesmos após a realização de cirurgia e o uso de quimioterapia. “Isso nos mostra que precisamos encontrar novas alternativas de tratamento — e o alectinibe demonstrou ser uma delas”, comemora Javier de Castro, oncologista que coordenou estudos com o medicamento na Espanha.

+ Leia também:  Os estágios do câncer de pulmão e o tratamento em cada um

4. Maior controle de metástases

Em artigo publicado no Journal of Clinical Oncology, o medicamento lorlatinibe demonstrou aumentar consideravelmente a sobrevida de pessoas com câncer de pulmão de células não pequenas, ALK-positivo e metastático (quando a doença aparece também em outros órgãos).

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O cérebro de pacientes com esse perfil costuma ser um dos órgãos mais afetados nessa fase avançada da doença, mas, segundo o ensaio, o lorlatinibe pode ser um aliado na redução da progressão de tumores na região e, ainda, prevenir o surgimento de novos.

O estudo comparou o medicamento com outro inibidor de ALK, o crizotinibe, já aprovado para o tratamento desse tipo de caso. Após cinco anos acompanhando quase 300 pacientes, os pesquisadores observaram que 60% daqueles que receberam o lorlatinibe estavam vivos e sem piora do quadro, enquanto apenas 8% dos que tomaram crizotinibe atingiram o mesmo marco.

+ Leia também: Tumores cerebrais: os sintomas, tratamentos e avanços médicos

5. Esperança para outras mutações

Outro inibidor de tirosina quinase que têm trazido resultados positivos para o tratamento de casos avançados de CPNPC é o osimertinibe, voltado para pacientes com mutação no gene EGFR (receptores do fator de crescimento epidérmico). 

Dados da terceira fase do ensaio clínico Laura mostram que o medicamento, após uso de quimiorradioterapia, aumenta o período de sobrevida sem progressão da doença por, em média, 39 meses — comparado a 5,6 meses no grupo placebo. Foram avaliados 216 pacientes em 17 países. A conclusão foi publicada no New England Journal of Medicine.

“Esses estudos mostraram o impacto de novos medicamentos, como o lorlatinibe e o osimertinibe, na luta contra o câncer de pulmão”, avalia Carlos Gil Ferreira, oncologista torácico e presidente do Instituto Oncoclínicas, que não esteve envolvido nos ensaios. 

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O especialista também chama a atenção para a necessidade de melhorar o acesso a essas novas soluções. “O alto custo dos medicamentos e a falta de infraestrutura adequada são barreiras significativas que precisam ser superadas”, pontua.

+ Leia também: O novo guia de prevenção ao câncer

6. Quimioterapia mais prática

Um quimioterápico utilizado no tratamento do câncer de pulmão de não pequenas células e de tumores que atingem a pleura (membrana que reveste os pulmões e a parede torácica) ganhou uma nova apresentação.

A Teva Brasil, lançou uma versão líquida do pemetrexede, comercializado também como Pemdia.

O produto, que geralmente é encontrado sob a forma de pó, agora está disponível em fórmula pronta para uso, agilizando o consumo por pacientes e a administração em hospitais.

A nova versão elimina a necessidade de reconstituir o medicamento,  acelerando a manipulação da droga e reduzindo o risco de erros no processo, de contaminação e de produção de lixo hospitalar.

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