No Brasil, 72 mil brasileiros recebem a notícia de que têm câncer de próstata anualmente. O diagnóstico é confirmado por uma biópsia que classifica o tipo de tumor encontrado, ajudando os médicos a traçar o melhor tratamento para cada paciente.
Felizmente, uma parte considerável dos diagnósticos de câncer de próstata têm muito baixo risco de evolução. Nestes casos, para a surpresa de muitos pacientes, a conduta é apenas acompanhar o caso, sem necessidade de iniciar algum tipo de tratamento prontamente.
“Isso é chamado de vigilância ativa. Os pacientes são orientados a fazer, periodicamente, exames de imagem (como ultrassom e ressonância magnética) e, quando necessário, novas biópsias para acompanhar a evolução da doença”, explica Wagner Matheus, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia em São Paulo (SBU-SP).
A periodicidade e os testes exigidos são definidos pelo profissional que acompanha o caso.
Tumores indolentes podem demorar anos para crescer, o que diminui muito o risco do câncer se disseminar para outras partes do corpo e de morrer pela doença.
Como é feita a classificação do tumor?
A análise é feita conforme a escala de Gleason, que avalia o quão semelhantes as células cancerosas são comparadas às normais. Quanto mais parecidas, mais lento é o padrão de crescimento do tumor e menor é o seu grau de agressividade.
A escala vai de 1 a 5, em que os nódulos de grupo de série 1 (GG1, na sigla em inglês) são os mais indolentes e os do grupo de série 5 têm células bastante anormais, tendem a crescer rapidamente e infiltrar outros tecidos.
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Mas não é só o comportamento celular do nódulo que é levado em consideração. Idade e comorbidades também entram na equação para decidir qual é a melhor conduta a ser seguida.
“Um paciente jovem, que é diagnosticado aos 40 ou aos 50, geralmente têm indicação de iniciar logo um tratamento, porque o período de vigilância seria muito longo, visto que esses pacientes ainda têm mais de duas décadas de expectativa de vida”, exemplifica Matheus.
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Quando bem indicada, a principal vantagem da vigilância ativa é que o indivíduo mantém sua qualidade de vida sem sinais da doença (já que o câncer de próstata não costuma causar sintomas nesse estágio) nem efeitos adversos comuns das terapias, como problemas urinários e disfunções sexuais.
A vigilância ativa é um método de supervisão bem consolidado, mas muitos pacientes não se sentem à vontade com o fato de não serem submetidos imediatamente a um tratamento contra o câncer.
“É sempre algo que deve ser muito bem conversado e esclarecido em consultório, onde o médico explicará a lógica e os riscos por trás de quaisquer decisões e onde as dúvidas e medos do paciente devem ser ouvidas, acolhidas e sanadas”, orienta Gustavo Fernandes, oncologista e diretor nacional da Dasa Oncologia.
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Mudança na nomenclatura
Os tumores de próstata de muito baixo risco se comportam de maneira tão distinta de outros nódulos que alguns médicos têm questionado se eles realmente devem ser chamados de “câncer”.
Um artigo recentemente publicado no periódico Journal of the National Cancer Institute por pesquisadores dos Estados Unidos e Canadá sugere que pacientes podem se beneficiar de uma mudança na nomenclatura desses achados. Até que isso aconteça, porém, há muito a ser discutido.
Por exemplo: se não câncer, como chamar esses tumores? Alguns sugerem que eles passem a ser classificados como incidentalomas, isto é, massas acidentalmente encontradas durante exames que teriam o objetivo de fazer outros achados (cânceres agressivos, no caso). Mas isso não muda o fato de que esses nódulos devem ser acompanhados de perto.
“Estamos agora encontrando alterações celulares excepcionalmente comuns na próstata que, em alguns casos, pressagiam o desenvolvimento de um câncer agressivo, mas, na maioria, não“, afirma Matthew Cooperberg, urologista, pesquisador da Universidade da Califórnia em São Francisco (UCFS) e coautor do artigo, em comunicado de imprensa.
Isso, no entanto, não muda o fato de que esses nódulos devem ser acompanhados de perto. E essa é uma ressalva levantada pelos especialistas: se os cânceres de muito baixo risco não se chamarem mais câncer, os pacientes seguirão a rígida rotina de exames para acompanhar o tumor?
Por outro lado, devem ser levados em conta o impacto psicológico que um diagnóstico de câncer traz ao indivíduo — a ansiedade e o medo associados à palavra, ainda que esse câncer seja indolente e com baixa probabilidade de se espalhar por outras partes do corpo.
Há também os riscos do excesso de tratamento (ou overtreatment) para uma condição de baixa gravidade. As intervenções podem causar disfunções urinárias e sexuais em alguns casos, diminuindo a qualidade de vida do paciente sem um ganho relevante em sua expectativa de vida.
“Precisamos absolutamente monitorar essas anormalidades, não importa como as rotulamos, mas os pacientes não devem ser sobrecarregados com um diagnóstico de câncer se o que vemos tem capacidade zero de se espalhar ou matar”, opina Cooperberg.