Câncer já mata mais que doenças cardiovasculares em 727 cidades do Brasil

Uma pesquisa brasileira recém-publicada na revista científica The Lancet Regional Health – Americas mostrou que o câncer está se tornando, gradativamente, a principal causa de morte no Brasil. Em mais de 700 cidades do país, a tendência já se confirmou, com os tumores malignos superando as doenças cardiovasculares como aquelas que mais levam a óbito.

Comparando dados dos 5.570 municípios do país entre 2000 e 2019, o levantamento também considerou números relacionados às chamadas mortes prematuras pelas duas doenças, aquelas que ocorrem entre os 30 e 69 anos.

Enquanto no primeiro ano da série o câncer era o principal responsável pelos falecimentos “antes da hora” em 15,5% dos municípios, em 2019 essa proporção já havia saltado para 33,5%.

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O que isso significa?

O aumento da proporção de mortes por câncer pode estar relacionado à maior expectativa de vida da população, associada a uma melhor capacidade de monitoramento e tratamento precoce dos problemas cardiovasculares, evitando que eles se tornem um perigo fatal cedo demais na vida.

No entanto, o artigo também ressalta que só o envelhecimento da população não explica o aumento da mortalidade por câncer. A dificuldade de prevenção dos tumores, que envolve mais fatores de risco do que as doenças cardiovasculares, seria outro ponto importante a considerar, assim como a demora para iniciar o tratamento e o elevado custo para combater efetivamente os tumores.

Segundo o texto, os dados fornecem subsídios para guiar a criação de programas nacionais que busquem reduzir as mortes precoces por câncer – que vem afetando cada vez mais pessoas jovens.

Câncer pode passar a liderar no país todo?

Em 25 das 27 unidades da federação, o índice de mortes por doenças cardiovasculares teve um declínio no período analisado. De modo geral, elas caíram 39% entre 2000 e 2019 no país todo, enquanto nos casos de câncer esse recuo foi muito mais modesto, na ordem de 10%.

“[Isso] sugere que o câncer pode ultrapassar as doenças cardiovasculares como principal causa de morte no futuro próximo”, escrevem os pesquisadores.

Essa ultrapassagem, porém, ainda é uma tendência que faz parte de um processo de transição epidemiológica em andamento, como definem os pesquisadores. Neste momento, as doenças cardiovasculares seguem liderando em óbitos na maior parte do país, com exceção dos 727 municípios onde a curva já se inverteu.