Pessoas diagnosticadas com asma relacionada ao ambiente de trabalho sofrem mais prejuízos na renda e na saúde mental, revela um novo estudo realizado pela Divisão de Pneumologia do InCor (Instituto do Coração) do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP).
Essa é uma das poucas pesquisas que avaliam os impactos socioeconômicos e emocionais da doença em um país de renda média como o Brasil.
A asma relacionada ao trabalho (ART) ocorre quando a doença é desencadeada ou agravada pela exposição constante a agentes alergênicos ou irritantes, como certos produtos químicos e alimentícios.
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Para avaliar esse impacto, os autores compararam 262 portadores de asma divididos em dois grupos: metade tinha a doença associada às condições ocupacionais, enquanto os demais não tinham.
Como esperado, aqueles expostos a alérgenos ou irritantes durante seu expediente apresentaram piora no controle da doença.
Em relação à saúde mental, 61% tiveram índices piores nos questionários sobre ansiedade e 53% na avaliação de depressão, em comparação com 45% e 26%, respectivamente, no outro grupo.
Além disso, mais da metade (52%) desses pacientes teve uma queda na renda após o diagnóstico, principalmente os informais e autônomos, em uma proporção de 56%. Apenas um terço dos demais sofreu redução nos rendimentos.
“Sabe-se que há uma associação entre pior controle da asma e menor a qualidade de vida”, diz a fisioterapeuta Lavinia Clara Del Roio, do Grupo de Doenças Respiratórias Ocupacionais, Ambientais e de Cessação do Tabagismo do InCor, e uma das autoras da pesquisa.
“Embora os dois grupos sejam afetados, o grupo com ART apresentou pior controle da doença, pior impacto na saúde mental e na qualidade de vida”, complementou.
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Entre os pacientes avaliados, as substâncias mais relacionadas à asma foram produtos de limpeza, isocianatos (presentes em tintas e vernizes), poeira, fumaças de plástico e borracha, látex, solventes clorados, farinha, resinas e alguns medicamentos.
Muitos desses pacientes ocupavam cargos em serviços de limpeza e indústrias dos setores metalúrgico, de plástico, borracha e alimentar, além de trabalhos relacionados à pintura de automóveis e outras atividades.
“Seja por falta de conhecimento ou também por falta de opção, essas pessoas acabam se expondo a esses agentes”, observa Del Roio. “A orientação nesses casos é que mudem de função, mas muitos simplesmente não conseguem, por exemplo, por falta de qualificação em outras áreas. Nosso estudo mostra que há uma falha muito grande na atenção a esses trabalhadores.”
Fatores ambientais e genéticos
A asma é uma doença crônica muito comum e de difícil controle, em que as vias aéreas inflamam dificultando a respiração. Ela é responsável por meio milhão de mortes por ano, sendo 7% delas relacionadas ao trabalho.
Embora as causas não sejam bem conhecidas, sabe-se que existem fatores genéticos e ambientais envolvidos.
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Portanto, agentes com potencial alergênico e irritante, como farinhas, grãos, plantas, animais, fungos, látex, certos medicamentos, solventes e cloro, podem desencadear a doença em pessoas predispostas, dependendo do tempo de exposição e da quantidade.
Diante da suspeita de asma, é importante relatar ao médico qualquer possível contato com substâncias nocivas para que seja possível determinar a melhor forma de controlar o quadro.
Fonte: Agência Einstein