Nas últimas semanas, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e outros estados registraram aumento de internações e óbitos por doenças respiratórias nas crianças. A alta se deve em especial a dois patógenos: o vírus sincicial respiratório (VSR), da bronquiolite, e o Sars-CoV-2, por trás da Covid-19.
Alguns hospitais chegaram a atingir a ocupação máxima de leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) pediátrica. E, sim, é normal que mais vírus respiratórios circulem com a chegada do outono e do inverno, mas a alta procura rompe um padrão de dois anos de diminuição desse tipo de infecção nos pequenos.
“Temos um vírus respiratório a mais na história, o coronavírus. Por causa do esforço feito para contê-lo nos últimos anos, outros vírus acabaram circulando menos”, comenta o infectologista Renato Kfouri, presidente do departamento de imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Aí, com a flexibilização das medidas preventivas, o cenário voltou ao seu padrão habitual. “Porém, como praticamente não vimos crianças doentes nos últimos anos, essa retomada de casos talvez tenha assustado algumas pessoas”, pondera a pediatra Kelly Oliveira, colunista da Veja Saúde.
De acordo com o último boletim Infogripe da Fundação Oswaldo Cruz, dos 7,1 mil casos ocorridos entre 22 e 28 de maio de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) – uma complicação de infecções do tipo -, 2,5 mil aconteceram em crianças entre 0 e 4 anos de idade.
Nessa faixa etária, o problema maior é realmente o VSR, embora a incidência de infecções por coronavírus também tenha crescido, seguindo a tendência dos adultos. Já entre os 5 e os 11 anos, a Covid-19 continua como a principal preocupação.
Bronquiolite, o problema dos bebês
A bronquiolite é uma doença inflamatória que atinge o bronquíolo, uma estrutura do pulmão. Ela pode ser causada por vários vírus, mas o mais comum é o VSR, com o qual quase todas as crianças têm contato nos primeiros anos de vida, sem grandes complicações.
Os primeiros sintomas são semelhantes aos de um resfriado comum: tosse, coriza e febre. “Mas a doença também é marcada por muco no pulmão e secreções nas vias aéreas, que levam à dificuldade para respirar”, explica Kelly. Daí pode surgir um chiado ou sibilo no peito e edema [inchaço] nas vias aéreas.
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Em alguns casos, a bronquiolite leva a complicações perigosas, como pneumonia, atelectasia [fechamento de uma área do pulmão] e até morte. Bebês menores de 2 anos são os mais acometidos pela bronquiolite. Recém-nascidos, prematuros, cardiopatas e portadores de doenças pulmonares crônicas estão em maior risco.
O tratamento da bronquiolite é feito com anti-inflamatórios e broncodilatadores receitados pelo médico. Pode ser necessário internar a criança para fornecer oxigênio e monitorar o quadro de perto.
E é bom lembrar que o público mais vulnerável de hoje nasceu na pandemia. “Eles estão virgens de exposição viral, e as primeiras infecções são sempre as que têm mais risco de se agravarem por causa da imaturidade do sistema imune”, completa Kfouri.
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O coronavírus nas crianças
Apesar de ser uma doença principalmente respiratória, a Covid-19 pode ter manifestações diferentes no público infantil. “É um espectro amplo de sintomas: diarreia, febre, alterações de pele…”, enumera Kelly. Essas consequências, cabe ressaltar, nem sempre vêm acompanhadas de tosse e dificuldade para respirar.
Se antes as crianças pareciam mais protegidas do Sars-CoV-2, o aumento de internações e mortes pela doença em 2022 atestou que ela pode, sim, ser grave nesse público. Entre as complicações, destacam-se as miocardites, a síndrome do pós-Covid e a MIS-C (uma inflamação sistêmica severa), além da própria síndrome respiratória aguda grave.
E isso provavelmente não tem a ver com a Ômicron. “As variantes não têm preferência por idade. O que acontece é que as ondas atingem as populações menos protegidas”, destaca Kfouri. Nesse sentido, o Brasil está deixando a desejar.
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Ora, a cobertura vacinal infantil contra a Covid-19 está apenas em 60% para as duas doses. Menos de 35% das crianças completaram o esquema vacinal. A desinformação e a ausência de campanhas de conscientização são alguns dos fatores que explicam a baixa adesão.
Quando procurar o hospital?
Em geral, os sinais de gravidade são febre persistente, que não baixa mesmo com o uso de antitérmicos ou dura mais de três dias, e dificuldade para respirar. O desconforto fica evidente com a criança ofegante, fazendo inspirações mais curtas e rápidas ou movimentando com rapidez o nariz.
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Entretanto, nos menores a piora pode ser sutil, com dificuldades na amamentação e maior irritabilidade. Se a criança apresenta prostração, está mais apática do que o usual e “molinha”, procure orientação médica.
É hora de reforçar medidas preventivas
O uso de máscaras segue importante, em especial nos locais fechados e com alta circulação de pessoas. Isso vale tanto para crianças maiores de 2 anos (inclusive nas escolas), quanto para os adultos que convivem com elas.
Se alguém adoece em casa, o ideal é evitar o contato com os outros membros da família – assim como crianças com sintomas gripais não deveriam ir à escola.
No caso do VSR, integrantes do grupo de risco podem receber o palivizumabe, uma imunoglobulina que fornece anticorpos prontos para barrar a infecção. Contra a Covid-19, maiores de 5 anos podem tomar a vacina, que é segura e eficaz. Aliás, é possível que o imunizante seja liberado para os mais novos ainda em 2022.
Lembrando que os casos de gripe ainda não começaram a subir – o que ocorre mais perto do inverno. A campanha de vacinação do influenza começou em março, mas o imunizante está sobrando nos postos de saúde.