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Entenda a megapluma de fumaça que se espalha pelo país e afeta a saúde

Queimadas no Norte e no Centro-Oeste derrubam qualidade do ar em diversas regiões, aumentando o risco de doenças

Por Lucas Rocha
21 ago 2024, 08h48
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Imagens aéreas mostram áreas devastadas pelo fogo no Pantanal (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
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A temporada de incêndios na região amazônica e no Pantanal se agrava com os impactos das mudanças climáticas. Altas temperaturas, baixa umidade e escassez de chuvas aumentam significativamente o risco de fogo, e a fumaça das queimadas chegou em outras partes do Brasil.

Nos últimos meses, a estiagem tem castigado a Amazônia, potencializando a queima da floresta no Brasil, no Peru e na Bolívia. No Centro-Oeste, a devastação atinge vastas áreas do bioma, uma vez que cada incêndio pode reunir inúmeros focos de calor concentrados em uma região.

Assim, é possível visualizar em imagens de satélite megaplumas de fumaça circulando pelo Sudeste e pelo Centro-Oeste. Pluma é o nome técnico da névoa gerada nos incêndios.

Com elas, vem a queda da qualidade do ar, que representa um risco para a saúde da população, especialmente de pessoas mais vulneráveis, como crianças, idosos e indivíduos com doenças respiratórias crônicas.

Abaixo, um exemplo obtido no site Earth Data, mantido pela Nasa, do dia 16 de agosto:

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Imagem mostra nuvem de fumaça disseminada entre Norte, Centro-Oeste, Sul e parte do Sudeste (NASA/Reprodução)

+ Leia também: Os impactos desiguais das mudanças climáticas

Consequências da seca

O índice de seca na Bacia Amazônica alcançou o pior patamar das últimas duas décadas.

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No mês passado, a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) declarou situação crítica de escassez hídrica no rio Madeira, que banha os estados de Rondônia e Amazonas, e no rio Purus, que corta o Peru, com trechos no Acre e Amazonas.

A probabilidade de condições favoráveis aos incêndios na região, como a estiagem, foi elevada em até 20 vezes devido à emergência climática. Os dados são de um amplo estudo internacional publicado no periódico Earth System Science Data.

Em grande parte dos casos, os incêndios florestais na Amazônia estão associados ao desmatamento e à limpeza de pastagem para alimentação de gado, como explica Erika Berenguer, pesquisadora sênior da Universidade de Oxford e da Rede Amazônia Sustentável.

“Depois de passar o trator de esteira na floresta, que derruba as árvores, espera-se semanas ou até meses até o material orgânico estar seco o suficiente para ser queimado. Isso ocorre porque não há como plantar pasto em cima de um monte de árvore no chão, ou seja, o fogo é a última etapa do desmatamento“, afirma Erika.

+ Leia também: A água está cada vez mais em perigo no Brasil e no mundo

Quando as plantas ocupam o espaço da pastagem, a queima também é a solução. “De tempos em tempos, taca-se fogo na própria pastagem para eliminar as arvorezinhas que estão crescendo. Depois, é feito o replantio do capim, uma técnica de baixíssimo custo”, pontua a especialista.

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Já o incêndio florestal é consequência do escape das chamas para além da área previamente designada. Dados mais recentes do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima apontam que, dos 173 incêndios registrados na Região Norte desde 24 de julho, 98 foram extintos ou estão sob controle.

Na Amazônia, os focos estão principalmente no sul do Amazonas e nos arredores da Rodovia Transamazônica, a BR-230. Mais da metade concentra-se no Amazonas e no Pará, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Leia também: Bactérias contra os gases do efeito estufa

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Mudanças climáticas favorecem as queimadas (Foto: Marcelo Camargo//Agência Brasil)

Pantanal em chamas

As mudanças climáticas também têm prolongado a estação de incêndios no Pantanal, que costumava ocorrer de julho a outubro e, agora, se estende até novembro. O fenômeno ainda tem ficado mais frequente e intenso, de acordo com um estudo divulgado pela World Weather Attribution (WWA).

A pesquisa indica que eventos como seca, ventos fortes e altas temperaturas tornaram-se de quatro a cinco vezes mais prováveis devido ao aquecimento global.

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Não à toa, Mato Grosso do Sul registrou um aumento expressivo nas queimadas em 2024, superando índices de anos anteriores para o mesmo período.

Fumaça avança sobre o Brasil

A fumaça formada entre o Centro-Oeste e o Norte se dissipa para outras regiões do Brasil e para países vizinhos. Os prejuízos para a qualidade do ar atingem locais de São Paulo, Rio Grande Sul, Santa Catarina, além de Uruguai, Paraguai e Norte da Argentina.

A causa está na dinâmica dos ventos, como detalha o doutorando em física atmosférica Rafael Valiati dos Santos, da Universidade de São Paulo (USP).

“Em um período de seca, as partículas emitidas pelas queimadas permanecem na atmosfera por muito tempo, visto que a principal forma de remoção delas é a chuva. Como elas ficam dias no ar, esse prazo é suficiente para dissipá-las para vários lugares”, resume Santos. “Na região Norte do Brasil, o vento vem sempre de Leste para Oeste por conta da própria rotação da Terra e do balanço de pressões altas e baixas na atmosfera, que acontecem naturalmente”, acrescenta.

Isso quer dizer que os ventos que sopram na Amazônia alcançam a região Centro-Oeste e seguem para o Sudeste e Sul do Brasil. O monitoramento do trajeto das fumaças é feito por satélite, modelos de simulação e medidas de qualidade do ar.

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Santos destaca que nem sempre é possível reconhecer a olho nu os impactos da fumaça de queimadas e, por isso, a vigilância é fundamental para o direcionamento de ações e de políticas públicas.

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Com o auxílio de aviões, brigadistas combatem incêndios florestais no Pantanal (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

E a saúde?

Com longos trajetos percorridos, a fumaça de queimadas pode causar efeitos nocivos para a saúde de uma quantidade ainda maior de pessoas. O caso é ainda mais grave em locais que já acumulam problemas de qualidade do ar, como as grande metrópoles.

O processo de queima gera um conjunto de substâncias tóxicas, que invade facilmente o organismo pela respiração.

“Esses poluentes entram pelo nariz e a boca e seguem nos encanamentos dos pulmões, atingindo estruturas como a traqueia e os brônquios, que vão se afilando, virando bronquíolos, e terminam em uma região final, os alvéolos, onde ocorrem as trocas gasosas”, afirma o médico Ubiratan de Paula Santos, da divisão de pneumologia do Instituto do Coração (Incor/USP).

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A longo prazo, a exposição frequente ao ar poluído favorece o surgimento de diferentes doenças.

“Os poluentes provocam uma resposta inflamatória nos pulmões. Se essa inflamação se perpetua ao longo dos anos, a pessoa pode desenvolver bronquite crônica, enfisema, aumenta o risco de asma e de câncer de pulmão”, pontua o pneumologista.

Além disso, a inflamação também é associada à produção de citocinas, um tipo de proteína. Elas são capazes de atravessar as barreiras pulmonares e chegar até corrente sanguínea, de onde alcançam o corpo como um todo. Os impactos são diversos, incluindo danos aos vasos sanguíneos, doenças cardiovasculares, redução da capacidade reprodutiva e alterações neurológicas.

Mitigar os efeitos da poluição é um desafio, mas algumas estratégias podem fortalecer o organismo. Uma delas é a atividade física, que tem um efeito contrário à inflamação. “O ideal é fazer exercícios de preferência em locais distantes da poluição ou em horários opostos aos de maiores emissões de poluentes”, orienta o pneumologista.

Baixa umidade piora a situação

Para ajudar, grande parte do Brasil está enfrentando um tempo seco, com baixos índices de umidade relativa do ar. Quando o nível está abaixo de 30%, estamos suscetíveis a diversos problemas de saúde, como cansaço excessivo, irritação na garganta e nos olhos, rinite e ressecamento da pele.

“A penetração de poluentes aumenta, o processo inflamatório é maior e a pessoa pode se sentir mal. Em casos de comorbidades crônicas, há risco de descompensação. Isso pode acontecer com quem tem asma, enfisema, bronquite, doença pulmonar obstrutiva crônica, diabetes ou anemia falciforme”, diz Santos, do Incor.

Para a população, é importante reforçar a hidratação, evitar o consumo de bebidas alcoólicas e comidas processadas e a exposição excessiva ao sol. Os ambientes internos podem se beneficiar de umidificadores do ar ou técnicas caseiras, como explica o médico pneumologista Marcos Tavares, do Hospital Nove de Julho.

“Para tentar minimizar os efeitos do ar seco, podemos utilizar ainda bacias de água ou toalhas úmidas no quarto, o que aumenta a umidade do ar”, diz Tavares.

O Ministério da Saúde informa que foram adotadas medidas para reduzir os efeitos desse cenário no país. As ações incluem a mobilização de brigadistas, o monitoramento da qualidade do ar, a preparação de planos de ação específicos para as populações mais afetadas e a elaboração de materiais educativos à população e profissionais de saúde, incluindo recomendações gerais para a saúde pública.

Com informações do Ministério de Meio Ambiente e Mudança do Clima, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e do Ministério da Saúde.

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