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Sextou com a doutora

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De médica para paciente (e vice-versa). Neste espaço, a mastologista e cirurgiã oncológica Fabiana Makdissi, uma das maiores autoridades em câncer de mama no país, compartilha seus conhecimentos, vivências e reflexões sobre a saúde da mulher.
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Superar é preciso: quando o câncer muda a vida para melhor

O diagnóstico da doença pode ressignificar valores e prioridades, acentuando a mudança de hábitos e o caminho para uma vida mais feliz

Por Fabiana Makdissi
11 out 2024, 09h49
Foto de mãos dadas simbolizando paciente com câncer no Dia Mundial do Câncer 2021
Grupos de apoio ajudam a superar momentos difíceis no diagnóstico e no tratamento (Foto: National Cancer Institute/Unsplash/Divulgação)
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Na minha última coluna, comentei com vocês sobre o exercício poder “salvar vidas”. Agora quero mostrar que existem outras formas de salvação e superação. Você vai se surpreender!

Trabalho basicamente com mulheres, e a maioria delas convive (ou conviveu) com um diagnóstico de câncer de mama em si mesma ou em alguém de sua família. Já tenho mais de 25 anos de formada e, por mais que o tempo tenha passado e que a gente fale mais abertamente sobre câncer, as pessoas continuam a achar que o diagnóstico traz consigo somente dor, perdas e sentimentos negativos.

Infelizmente, ainda temos muitas pessoas que morrem da doença e sabemos que o acesso aos tratamentos de qualidade dentro dos prazos recomendados é um dos pontos que pode agravar esse risco.

+Leia também: Câncer de mama: mais um outubro não tão rosa assim

Um estudo brasileiro publicado em 2020 nos diz que mulheres não brancas, com menos de oito anos de estudo, que estão entre 50 e 69 anos de idade e vivem sem parceiro(a), são as que têm maior demora para iniciar seus tratamentos. E começar com atraso, como sabemos, pode piorar bastante o prognóstico.

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Por tudo isso, de fato, receber o diagnóstico de câncer, qualquer que seja ele, em qualquer momento da vida, é impactante, causa tristeza e um medo gigantesco de morrer. Nos assusta porque de repente somos expostos ao não controle de nossa própria vida, batemos de cara com a possibilidade de finitude e do inegável desconhecido.

Mesmo eu, que sou médica, quando ouvi da minha médica a frase “Fabi, deu câncer mesmo!”, senti um buraco abrindo no chão.

No entanto, e se eu te disser que, apesar de haver momentos ruins, existe outro lado do câncer que talvez você desconhece? Sim, não raro, o diagnóstico de câncer é visto, para algumas pessoas, como um “salvamento de vida”.

Sim, não é raro ouvir frases como:

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– “o diagnóstico foi um presente na minha vida”
– “pode parecer loucura, mas vivo melhor hoje do que vivia ANTES do câncer”
– “graças ao diagnóstico de câncer, conheci melhor a mim mesma, reconheci e dei valor aos meus limites e hoje cuido melhor de mim”
– “vivia no piloto automático, hoje vivo de fato a vida”

São exemplos e relatos reais de minhas pacientes.

É claro que sabemos que as pessoas superam suas dores e suas perdas de forma variada e não quero de forma alguma minimizar a dor de ninguém. O que quero mostrar a vocês é que, mesmo durante um momento de muita dificuldade, superar é preciso para que a vida siga seu fluxo e novas possibilidades possam surgir.

A questão é que o processo de superação não é igual para todos e eu sei que parece difícil acreditar, mas até mesmo a capacidade de superar pode ser aprendida e inspirada. Lembra da frase que sua mãe usava quando você ia pedir algo a ela…

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– Mãe, eu quero ir porque TODO MUNDO VAI!
– Você NÃO é todo mundo.

Pois é, nossas mães já sabiam que não devemos nos comparar a ninguém, e que todas as pessoas vivem seus processos de dores, de perdas, de luto ou mesmo de vitórias de formas diferentes. Costumo dizer para as minhas pacientes que câncer não é tudo igual, assim como as próprias pessoas que têm câncer não são iguais.

Cada uma tem sua própria bagagem pessoal, sua história com a doença e sua rede de apoio, ou não.

+ LEIA TAMBÉM: Médica ou paciente? Minha vivência nos dois lados do consultório

Suporte que salva

Cada pessoa deve buscar identificar o seu melhor jeito de “salvar a vida” para seguir adiante, e existem muitas formas de conseguir isso. Redes de apoio nos ajudam nesse sentido, e elas podem estar dentro da própria estrutura de atendimento médico, junto a grupos de psicólogos, enfermagem treinada e capacitada, profissionais acolhedores…

Um exemplo dessa abordagem é o projeto chamado OncoSuperação, que acontece desde o ano de 2020 no A.C. Camargo Cancer Center. Já impactou mais de 170 mulheres e levou a pacientes com diagnóstico de câncer, treinamentos (coaching) de psicologia positiva, em formato virtual, gratuito e semanal.

Alguns dos dados levantados pelo grupo revelam, entre as participantes, aumento de esperança (de 7 a 33%), de satisfação com a vida (de 2 a 20%), de motivação (de 3,8 a 30%) e de realizações, mesmo durante o tratamento oncológico. Os maiores valores foram obtidos inclusive nos grupos de 2021, quando essas mulheres estavam enfrentando o câncer e a pandemia de Covid-19 ao mesmo tempo.

Combinei com vocês, quando iniciei a coluna, que traria todas as informações que pudessem melhorar a saúde de variadas formas, e achei que passar um pouco dessa visão positiva que recebo de muitas das minhas pacientes pode ajudar a olhar a doença e outros desafios da vida de um jeito diferente.

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Para inúmeras pessoas, o susto do diagnóstico e a possibilidade real de perder a vida geram uma excelente oportunidade de rever a rotina e seu mundo.

Que tal nesta sexta-feira você olhar para si e para seus próprios hábitos e se perguntar: como tenho vivido? Aposto que você não precisa de um diagnóstico de câncer para rever valores… Ninguém precisa, mas algumas pessoas, que não tiveram essa escolha, aproveitaram o diagnóstico para superar suas dores e passaram a viver suas vidas com mais intensidade e felicidade.

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