“Não temo uma extinção por meteoritos e armas atômicas, mas por epidemias”
Médica, pesquisadora e um dos principais nomes na guerra contra a Covid-19, Margareth Dalcolmo reflete sobre desafios e aprendizados da pandemia
Dia desses, a pneumologista Margareth Dalcolmo, uma das principais vozes no combate à Covid-19 baseado em ciência, atendeu um paciente que foi sem máscara ao seu consultório na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro. Quando pediu ao homem que colocasse o equipamento de proteção no rosto, ouviu dele que não precisava.
É que o sujeito estaria usando um modelo invisível. Diante do olhar de espanto da médica, explicou: “Comprei essa máscara invisível do pastor da minha igreja”. Depois de algum tempo, Margareth conseguiu convencê-lo a colocar uma máscara de verdade para entrar no ambulatório.
Praticamente dois anos após o início da pandemia no Brasil, o fato é que soluções inócuas ou sem sentido continuam sendo apregoadas e utilizadas por aí. Em dezembro de 2021, a médica e pesquisadora da Fiocruz lançou o livro Um Tempo Para Não Esquecer, da Editora Bazar do Tempo (clique aqui para comprar), antologia que reúne 81 crônicas publicadas entre abril de 2020 e novembro de 2021 no jornal carioca O Globo.
“Ao reler as crônicas, senti empatia e compaixão. São esses os sentimentos que me impelem na rotina diária pesada. Assim já era e ficou ainda mais no período da pandemia”, relata.
Que lições e presságios podemos tirar dessa crise toda? “Não temo a extinção da vida no planeta por meteoritos ou armas atômicas e, sim, por epidemias. O homem é tão predador que propicia o surgimento de novas epidemias. Outras virão, sem dúvida”, reflete Margareth.
Sobre a CPI da Covid-19, que apurou negligências, falhas e crimes ligados ao governo federal e ao âmbito privado durante o enfrentamento do coronavírus e indiciou 66 pessoas e duas empresas, a médica acredita que, um dia, os responsáveis vão pagar pelas omissões e barbaridades que cometeram.
“Os céticos diriam que é idealismo, mas não quero perder as esperanças. Milhões em recursos públicos foram gastos em remédios inúteis, que denominei saquinhos de ilusão, em detrimento de investimento em produtos e serviços de boa qualidade”, argumenta.