Em novo livro, Thalita Rebouças fala sobre etarismo, menopausa e luto
Escritora por trás de best-sellers infantojuvenis troca prosa pela poesia e foca no público adulto em primeira obra de não-ficção
A jornalista, escritora e roteirista Thalita Rebouças tinha 25 anos quando lançou seu primeiro livro, Traição entre Amigas (Rocco – Clique para comprar*), em 2000. Prestes a completar 50, acaba de publicar o 27º, Felicidade Inegociável e Outras Rimas*, pela Harper Collins.
Entre um título e outro, foi traduzida para mais de 20 países e vendeu cerca de 2,3 milhões de exemplares. Oito de seus livros, como Tudo por Um Popstar (Rocco)* e Fala Sério, Mãe! (Rocco)*, só para citar dois dos mais vendidos, foram adaptados para o teatro, o cinema ou o streaming.
Em Felicidade Inegociável e Outras Rimas, Thalita troca a prosa pela poesia. E, pela primeira vez, se dirige ao público adulto. “Uma nova fase? Não, não / É só mais uma Thalita / A menina sonhadora / Que queria viver da escrita”, explica a autora, rimando versos, na dedicatória do livro.
A ideia surgiu meio por acaso. Há cerca de um ano e meio, ela foi convidada para fazer um projeto inédito de audiolivro pela plataforma Audible, da Amazon. Por falta de tempo, explicou que não teria condições de aceitar o convite. Em vez disso, sugeriu, poderia escrever um livro de poemas. “Mas você sabe fazer poesia?”, foi a pergunta que ouviu. “Não, mas faço letra de música. Vai que eu consigo?”.
Na dúvida, resolveu experimentar. A primeira rima que escreveu foi É, Não Sou Mãe sobre a decisão que tomou, aos 29 anos, de não ter filhos. “Não tenho vocação para a maternidade. Posso até ter talento, mas não tenho vocação”, admite.
Sobre a não maternidade
Hoje em dia, nem tanto, mas houve um tempo, não muito distante, em que ela cansou de escutar perguntas cruéis do tipo: “Quem vai cuidar de você na velhice?”. Quando ouviu “Tem logo, boba. Se pensar muito, não tem”, pesou os prós e contras e, então, decidiu não ter.
“As pessoas deixaram de perguntar porque sabem que estou na menopausa”, conta. “A sociedade pensa que, por não ter filhos, a mulher é egoísta ou não gosta de criança. Não é nada disso. As pessoas é que deveriam pensar muito antes de ter”, observa.
No poema Madrasta, Thalita escreve: “Eu, que nunca quis / Ganhei logo dois guris”. Os “guris” a que ela se refere são Lucas, de 19 anos, e Vítor, de nove, filhos de seu marido, o psicólogo Renato Caminha. “Acho que sou uma madrasta legal, sabe? Daquelas que conversam muito. Mais do que madrasta e enteado, somos brothers”, brinca.
Em outra rima, Adolescente, a poeta fala dos perrengues típicos da idade, como a dependência tecnológica, por exemplo. Para evitar “problemas na cervical”, como ela mesma diz no poema, limita o tempo de uso do celular a uma hora por dia. “Eles não são muito ligados em redes sociais. O mais velho não é de postar muito e o mais novo, nem tem”, respira, aliviada.
Poesia para a menopausa
Embora tenha escrito rimas para o público adolescente, como Sem Filtro e TikTok, a maior parte dos 56 poemas do novo livro são voltados para o público adulto. Ou, como ela prefere dizer, “as mães dos adolescentes”.
Não faz muito tempo, Thalita era parada nas ruas por mulheres que agradeciam a ela por ter despertado o prazer da leitura em seus filhos e filhas. Hoje em dia, a abordagem é um pouco diferente. A mulherada agradece por ela tocar em assuntos ainda considerados tabus. No livro, Thalita compara o climatério a “um trator de quinhentas toneladas”.
“Muitas leitoras se identificam quando falo dos sintomas da menopausa. O mais conhecido deles é o fogacho, mas existem mais de 70. Só quem já teve sabe do que estou falando”, observa. Bem, se a menopausa é um trator, o fogacho é uma chaleira. Em ebulição, sublinha.
O pior de tudo é que muitas mulheres de sua idade nem sabem o nome desse calorão, porque suas mães, quando entravam na menopausa, evitavam tocar no assunto em casa. “É por essas e outras que chamo as menopausers de menopowers”, diverte-se.
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Outro tabu que a autora aborda no livro é o prazer feminino, nos poemas O Caminho do Prazer e Me Apaixonei por Um Vibrador. “Não sei o que vai acontecer daqui para frente. Só sei que é importante lançar esse livro no ano em que completo 50 anos. Estou falando de coisas que nunca falei antes”, avalia.
Temas espinhosos
Thalita procurou, sempre que possível, tratar de temas pesados de maneira leve. Nem sempre conseguiu. Entre os versos mais difíceis, os que falam sobre luto. Em dois anos, ela perdeu pai, avó e um de seus melhores amigos. “Quando terminei de escrever cada um deles, caí num choro compulsivo de sei lá quanto tempo. Chorei muito escrevendo e chorei muito lendo”, recorda.
Os relacionamentos tóxicos também são tratados no livro. Thalita teve dois, com ex-namorados. “Não se chama tóxico à toa. Pode ser uma mãe, uma amiga ou um chefe. Você sabe que faz mal, mas, não consegue se livrar dele”, adverte.
No passado, a autora tolerou atitudes que, no presente, dificilmente toleraria. Por essa razão, torce para que seu novo livro seja o “empurrãozinho” que faltava para as leitoras se libertaraem de todo e qualquer relacionamento abusivo.
“Quando fiz 45 anos, descobri que existia dentro de mim uma força que eu mesma não sabia que tinha. Foi quando me perguntei: ‘Se a felicidade é a coisa mais importante da vida, por que aturo coisas que eu não deveria aturar?’ Foi libertador. Me afastei de gente que me colocava para baixo e que me fazia muito mal. Hoje, minha felicidade é inegociável, sabe? Não vou mais abrir mão dela. Nunca mais”, garante.
O livro Felicidade Inegociável e Outras Rimas está disponível em duas versões: a física*, pela Harper Collins, e a digital, com narração da própria Thalita, pela Audible.
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