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Saúde é pop

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Tá na internet, tá na TV, tá nos livros... tá no nosso dia a dia. O jornalista André Bernardo mostra como fenômenos culturais e sociais mexem com a saúde — e vice-versa.
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Dia do orgasmo: como fica o prazer em tempos de crise?

Na data dedicada ao clímax da relação sexual, autoras e especialistas discutem e ensinam como alcançar uma vida mais prazerosa e satisfatória

Por André Bernardo
31 jul 2022, 18h55
foto de mexerica aberta com dedo no meio
Vida sexual prazerosa é associada a proteção contra doenças físicas e psíquicas. (Foto: Veja Saúde/SAÚDE é Vital)
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Houve um tempo em que a vida sexual da ilustradora francesa Jüne Plã não andava lá essas coisas. Todo dia, ela fazia tudo sempre igual e, como gosta de repetir, seguia o roteiro do “chupar, meter e gozar”. Por mais que tentasse usar de criatividade na hora H, e até assistisse a alguns filmes pornôs para se inspirar, a sensação que tinha, ao terminar de transar, era um déjà-vu.

“Frequentemente, faço aquela comparação com comida: é bem provável que, se comermos nosso prato preferido todos os dias por seis meses, a gente enjoe dele. Entende aonde quero chegar?”, pergunta a autora do recém-lançado Clube do Orgasmo — Uma Cartografia do Prazer (Intrínseca).

A ideia de escrever um guia ilustrado sobre carícias sexuais nasceu em 2018, quando seu então namorado perguntou onde ficava um determinado ponto em sua vagina. No melhor estilo “entendeu ou quer que eu desenhe?”, Jüne fez uma ilustração detalhada do aparelho reprodutor feminino e mostrou ao rapaz.

Dias depois, criou um perfil no Instagram e, a partir daí, posta desenhos com “truques e dicas” para ter uma vida sexual mais prazerosa. Hoje, quatro anos e incontáveis gozos depois, o perfil tem quase um milhão de seguidores. “Que tal experimentar uma nova técnica ou fantasia a cada vez que transar? Imagine que pode acrescentar um ingrediente, e a receita vai ganhar outro sabor”, provoca.

capa do livro
(Capa: Intrínseca/Divulgação)

Clube do Orgasmo
Autora: Jüne Plã 
Editora: Intrínseca
Páginas: 256

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Mas Jüne não escreveu Clube do Orgasmo sozinha. Em alguns trechos, como aquele em que explica o que é anorgasmia (a dificuldade de atingir o orgasmo) ou dispareunia (a dor durante o ato sexual), contou com a consultoria de especialistas no assunto, como a ginecologista Clémentine Courage.

Além de ilustrar o livro com desenhos eróticos e didáticos, a autora sugere alguns brinquedos sexuais, compartilha reflexões do tipo “Ninguém é melhor de cama do que quem sente prazer em dar prazer” ou “A penetração pode ser uma opção, e não o objetivo final” e, ainda, aborda tabus como o das mulheres que fingem sentir orgasmo, seja para não magoar o(a) parceiro(a), seja para acabar mais rápido.

+ LEIA TAMBÉM: O novo normal da vida sexual

“Atinja, não finja!”

A dificuldade para chegar ao orgasmo ou, nas palavras de Jüne Plã, “o clímax de uma relação sexual extremamente bem-sucedida”, tem tudo a ver com a criação do dia dedicado a ele, o 31 de julho de 1999. Um estudo britânico da época revelou que oito em cada dez inglesas simulavam chegar ao orgasmo na cama.

O resultado da pesquisa inspirou os donos de uma rede de sex shops de Londres a criar a efeméride. Bolaram até o slogan: “Atinja, não finja!”. Mais do que debater a importância de uma vida sexual mais ativa e saudável, eles queriam turbinar a venda de alguns produtos eróticos. E conseguiram. O aumento nas vendas chegou a 40% nos anos seguintes.

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Ter dificuldade para chegar ao orgasmo não é um fantasma que assombra apenas as inglesas. No Brasil, um levantamento do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) apontou que 55% das mulheres brasileiras não chegam ao ápice do prazer sexual durante a relação.

Entre as causas apontadas, 67% relataram penar para se excitar e 59% disseram sentir dor na penetração. O estudo, assinado por Ana Brasil e Carmita Abdo, entrevistou 3 mil mulheres, de 18 a 70 anos, de sete cidades: São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Salvador, Belém, Porto Alegre e Brasília.

Fazer sexo faz bem

Mas como fica o prazer em tempos de crise sanitária e econômica? Ora, estamos vivendo na esteira da Covid-19, que matou 677 mil brasileiros, e num cenário de mais de 10 milhões de desempregados. Sem contar as brigas ideológicas e políticas diante de uma corrida eleitoral. Com tanta tensão e problemas a resolver, dá para levar uma vida sexual minimamente satisfatória?

“O medo e a incerteza diante do futuro geram estresse, ansiedade e depressão. E essas condições interferem negativamente na atividade sexual de qualquer casal”, afirma a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do ProSex e autora do livro Sexo no Cotidiano (Contexto). “Se, por um lado, o sexo faz bem à saúde física, mental e emocional, por outro é preciso ter saúde para fazer sexo de qualidade”, ressalta.

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Ninguém transa (só) para preservar a saúde, mas que o sexo é um antídoto em prol do bem-estar ninguém duvida. Volta e meia sai um novo estudo mostrando os benefícios da atividade. Já foram documentados seu efeito analgésico, melhora da qualidade do sono, proteção ao coração, fortalecimento da imunidade e até controle do peso. Pois é: um ato sexual queima, em média, 150 calorias, o equivalente a 20 minutos de caminhada.

“Mas nem todo e qualquer sexo faz bem à saúde. Isso depende do prazer e da satisfação que ele dá ao casal”, pondera Carmita. “Não dá para fazer sexo como quem bate ponto no trabalho. ‘Ah, vamos fazer sexo hoje porque é domingo e domingo é nosso dia de fazer sexo’. Não é assim que funciona! Mais do que quantidade, devemos estar atentos à qualidade da relação”, observa a psiquiatra.

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Na hora do orgasmo, uma glândula no cérebro chamada hipófise libera uma grande descarga de endorfina. O “hormônio do prazer” produz, entre outras sensações, euforia e bem-estar. Autora de livros como Meu Amigo Quer Saber — Tudo Sobre Sexo e Sexo para Adultos (LeYa), a psicóloga Laura Muller explica que o prazer sexual pode inclusive ajudar o brasileiro a enfrentar tempos difíceis como os que estamos vivendo com mais leveza.

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“O sexo traz um novo colorido para a vida. Esse ganho de energia pode extrapolar para outros aspectos da rotina. Se a vida sexual é saudável e prazerosa, é bastante provável que a social e a profissional também sejam”, explica a apresentadora de um quadro sobre sexualidade no programa Altas Horas, da TV Globo.

+ LEIA TAMBÉM: Há (mais) vida após a menopausa

Manual de instruções amoroso

Dicas para não deixar o baixo astral derrubar a libido não faltam. Para começar: sexo não se resume à penetração. Inclui carinho, lambida, chupão… Sejamos criativos!

Outra dica: quando não gostar de algo, verbalize: “Não faça assim”, “Aqui é melhor”, “Deixa eu mostrar…”. Mais uma: a genitália é o centro do prazer, mas o corpo inteiro tem zonas erógenas a serem exploradas. Não por acaso, segundo aquele estudo do ProSex da USP, beijos no pescoço são os estímulos favoritos de 35% das entrevistadas, seguidos por carícias pelo corpo (24%) e massagens relaxantes com óleos (11%).

“O casal precisa arranjar um tempo livre na agenda, sem filhos ou gadgets por perto, para curtir a vida com leveza e diversão. Além disso, é importante admirar e elogiar um ao outro. O sexo começa muito antes da cama”, ensina a psicóloga Marina Simas, coautora de Diálogo Sim, Briga Não — 100 Perguntas para Melhorar a Relação do Casal (Matrix).

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