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Tá na internet, tá na TV, tá nos livros... tá no nosso dia a dia. O jornalista André Bernardo mostra como fenômenos culturais e sociais mexem com a saúde — e vice-versa.
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Chernobyl e os riscos da radiação à saúde e ao planeta

Minissérie do canal HBO recupera a história da maior tragédia nuclear do século 20 e reabre a discussão sobre os perigos da radiação para a humanidade

Por André Bernardo
Atualizado em 4 Maio 2020, 14h33 - Publicado em 15 jul 2019, 15h57

No dia 1º de maio de 1986, feriado do Dia do Trabalhador, Pripyat, no norte da Ucrânia, ganharia seu primeiro parque de diversões. Fundada em fevereiro de 1970, a cidade abrigava os funcionários da Usina Nuclear de Chernobyl, situada a apenas 3 quilômetros dali. As crianças de Pripyat, porém, nunca tiveram a chance de passear de carrossel ou brincar de roda-gigante. Cinco dias antes, na madrugada de 26 de abril, o que era para ser um teste de rotina no reator de número 4 da usina se transformou em acidente nuclear. O pior da história.

Na tarde do dia 27 de abril, todos os 48 mil habitantes de Pripyat tiveram apenas 40 minutos para recolher seus pertences e deixar suas casas. Nunca mais voltaram. Em 2000, a usina de Chernobyl foi fechada e, dois anos depois, liberada para visitação. Todos os anos, uma média de 60 mil turistas visitam o que sobrou de Pripyat. De cidade-dormitório, virou cidade-fantasma.

Depois da estreia de Chernobyl, minissérie da HBO criada por Craig Mazin a partir do livro Midnight in Chernobyl (Meia-Noite em Chernobyl), do jornalista Adam Higginbotham, donos das agências de turismo que operam na região estimam um aumento de 40% no número de visitantes da chamada “Zona de Exclusão”, nome dado à área de 2,6 mil quilômetros quadrados isolada depois da tragédia. Os preços variam de 81 dólares, o tour de um dia, a 110, com direito a almoço, por pessoa. Em geral, as agências disponibilizam um dosímetro – aparelho que mede radiação – para cada cliente.

Mas é seguro visitar o lugar onde ocorreu um acidente nuclear? A radiação ionizante, o tipo que faz mal aos organismos vivos, não causa danos aos visitantes? Juliano Cerci, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN), garante que, desde que respeitadas as orientações dos guias, o passeio não é prejudicial à saúde.

“Chernobyl, na Ucrânia, e Fukushima, no Japão, são monitorados com um grau de precisão muito grande. No caso de Chernobyl, as áreas onde os turistas podem circular são absolutamente seguras”, afirma o médico nuclear e radiologista. “Nas áreas autorizadas, os níveis de radiação estão dentro dos limites. Portanto, não há risco aos visitantes”, concorda o radiologista Hilton Muniz Leão Filho, da Comissão de Proteção Radiológica do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CRB).

As regras para visitar Chernobyl são claras: não tocar ou encostar-se a absolutamente nada nas ruas (postes e muros, por exemplo), não apanhar objetos do chão (o nível de contaminação do solo tende a ser alto), não entrar nos prédios abandonados (o risco de desabamento é grande), não interagir com animais (devido ao risco de contaminação também) e não comer ou beber ao ar livre. Desobedecer algumas dessas recomendações, além de trazer riscos à saúde, pode resultar em multa ou detenção.

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Falha técnica ou erro humano?

Até hoje, não se sabe ao certo o que causou a tragédia de Chernobyl. Há quem diga que foi falha no reator. Há quem argumente que foi erro humano. Um terceiro grupo garante que foi um pouco dos dois. Não há consenso, também, sobre o total de mortos. Os números variam de 31, segundo dados oficiais do governo soviético, a 200 mil, de acordo com a estimativa do Greenpeace.

Cena da série Chernobyl
Cena da série Chernobyl, da HBO, mostra primeiros impactos do acidente nuclear (Divulgação/ HBO/SAÚDE é Vital)

O que se sabe é que, em linhas gerais, os efeitos da radiação no corpo humano podem ser divididos em agudos e crônicos.

Os agudos são imediatos, aparecem em casos de exposição direta ou excessiva e estão relacionados a lesões na pele (queimaduras), no aparelho digestivo ou no sistema respiratório. “São decorrentes de inalação, ingestão de água, carne ou vegetais expostos à radiação ou contato direto com a pele”, explica Muniz. “Quanto mais próximo do local da exposição, mais rápidos e devastadores são os efeitos”, completa.

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Já os danos crônicos são tardios, podem se manifestar em até dez anos depois da exposição indireta e estão relacionados ao surgimento de tumores (o câncer da tireoide é o mais comum), mutações genéticas e perda de fertilidade.

A gravidade das lesões, explicam os médicos, depende de uma série de fatores: a dose de radiação, o tempo de exposição e a parte do corpo atingida. “Algumas áreas são mais suscetíveis, como o cristalino do olho, a tireoide, a região das gônadas e as glândulas mamárias”, exemplifica a física Simone Kodlulovich, da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).

A nuvem radioativa que o vento ajudou a espalhar – o primeiro país a detectar aumento preocupante nos níveis de radiação foi a Suécia, a 1 100 quilômetros de distância da Ucrânia! – não causou danos apenas aos seres humanos. O meio ambiente também foi duramente atingido. Num raio de 400 quilômetros, a radiação contaminou rios, lagos e florestas e afetou a reprodução de animais. Num raio de 800 quilômetros, rebanhos de gado apresentaram queda na produção do leite.

Não é toda e qualquer radiação, pondera Cerci, que faz mal à saúde. Em pequenas doses, a exposição à radiação não oferece riscos. Pelo contrário: empregada em exames de imagem e dispositivos terapêuticos, ela ajuda a diagnosticar doenças (como na mamografia) e a tratar tumores (vide a radioterapia).

“Temos que tomar cuidado com radiação, sim, mas é preciso que a precaução não ceda lugar ao pavor. Há casos de pacientes que se recusam a fazer determinados procedimentos por medo de radiação. É importante esclarecer que a radioterapia trata pessoas com câncer por meio da radiação e, na maioria dos casos, alcança excelentes resultados. Toda generalização pode ser perigosa”, alerta o presidente da SBMN.

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