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Nutrindo futuros

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Com o olhar lá na frente, a nutricionista e expert em tendências Cynthia Antonaccio aborda neste espaço os movimentos de lifestyle que impactam a vida dos consumidores, a rotina dos profissionais e o mercado de saúde
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Nutrindo futuros digitais mais saudáveis

Algoritmos são úteis ao apresentar produtos do nosso interesse, mas também podem nos prender em bolhas de "verdades" distantes da realidade

Por Cynthia Antonaccio
12 nov 2024, 12h38
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  • Se você está nas redes sociais, faz parte dos 60% da população que passa cerca de 2,5 horas diárias rolando a tela, segundo o Digital 2023 Global Overview Report.

    Seja o seu tempo maior ou menor, é bem provável que os influenciadores digitais que você segue nestas redes tenham contribuído para mudar sua dieta ou consumir um novo produto.

    Fica, então, a pergunta: quem são os influenciadores da sua rede? E quantos deles são profissionais da saúde com proficiência no assunto? Pergunto porque, com uma frequência assustadora, pessoas sem credenciais científicas, de tanto repetirem alguns conceitos, seduzem mentes e corações tornando-se “autoridades” no assunto.

    +Leia também11 dicas para identificar quem faz conteúdo sério sobre saúde nas redes

    A esse fenômeno, damos o nome de pós-verdade, no qual sentimentos e crenças pessoais parecem ter mais peso do que fatos.
    O problema é que algumas destas desinformações sobre alimentação que viralizam nem sempre propagam a verdade ou se alimentam de fontes científicas.

    Quando uma mentira é contada inúmeras vezes acaba tornando-se verdade. É esse o caso das fake news. Em geral, elas engajam por serem polêmicas e contraditórias, baseadas em estudos questionáveis, achismos ou “práticas pessoais comprovadas”.

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    Esse fluxo incessante, que chamo de infotoxicação, pode afetar nossa capacidade de tomar decisões conscientes. Ao invés de clareza, o excesso de informação leva à confusão.

    A culpa não é sua, é da dieta fake!

    Se você foi vítima da desinformação e seguiu uma sedutora solução de efeito passageiro, mas acabou não conseguindo continuar, não deixe as redes te dizerem que a culpa é sua.

    Um exemplo clássico é o jejum intermitente. Embora tenha seu valor terapêutico em contextos específicos – que fique claro –, me impressiona como a privação prolongada de alimentos é promovida como uma cura milagrosa para tudo, desde o sobrepeso até o envelhecimento.

    Outra infotoxicação que invade as redes é o reducionismo, ou seja, a valorização de um alimento unicamente a partir de seus nutrientes. E assim, demonizam seu papel afetivo, social e cultural, apenas por conter glúten, lactose, edulcorantes, açúcar ou sódio, entre outros.

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    Se você, como a maioria das pessoas, não consegue seguir 100% destas regras, eu tenho uma boa notícia para você: a culpa não é sua. O problema está na dieta, na regra utópica e nos padrões inalcançáveis.

    +Leia também: Tribunal da comida: como a ciência julga leite, trigo, açúcar e ovo

    Deepfake e vídeos: as fake news do futuro

    Preocupam os especialistas o perigo dos deepfakes, vídeos criados com inteligência artificial, pois podem distorcer informações ou até gerar vídeos de especialistas com citações que nunca disseram.

    A popularidade dos vídeos “O que eu como em um dia”, especialmente em plataformas como TikTok, Instagram e YouTube, cresceu significativamente. No TikTok, por exemplo, a hashtag #whatieatinaday foi usada mais de 17,6 bilhões de vezes ao longo de 2023. Ela aparece também mais de 980 mil postagens no Instagram e em 222 mil vídeos no YouTube.

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    Imagine-se vendo sua rede social após um dia intenso de estudo ou trabalho, e logo se depara com amigos exibindo rotinas “perfeitas”, e corpos esculpidos. Como se sente? Confuso e inseguro em relação às suas próprias escolhas, incapaz de discernir o que realmente faz sentido?

    A série Black Mirror, da Netflix, no primeiro episódio da terceira temporada, Nosedive, traz essa mentira social, lembra? A personagem principal, mesmo sem gostar do biscoito que acompanha o cafezinho, tira uma linda foto e posta na sua rede social. E, ao longo do episódio, não larga o celular, consultando constantemente as reações ao seu post, oscilando entre preocupada e envaidecida com os likes.

    Fitinspiration e thinspiration: influência que é doença

    O uso intenso das redes sociais tem sido amplamente associado à distorção da autoimagem, principalmente entre mulheres e adolescentes. Conteúdos como o fitspiration e o thinspiration promovem ideais irreais de beleza e podem levar a comportamentos alimentares transtornados, baixa autoestima, ansiedade e até quadros clínicos de depressão.

    No Brasil, o nutricionista Cesar Henrique de Carvalho Morais mostra, por meio de seus estudos de doutorado, que os padrões restritivos de alimentação e insatisfação corporal de mulheres são intensificados após passarem tempo observando perfis ligados à cultura fitness no Instagram.

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    Nutrindo futuros digitais mais saudáveis

    A revolução tecnológica é inescapável. Então, deixo um convite para seguir nutrindo futuros de pessoas autônomas, pensamento crítico e com discernimento em suas escolhas, ou seja, nutrindo futuros digitais mais saudáveis, regidos pela tal inteligência emocional, que não cabe às máquinas, mas a nós, seres humanos.

    É claro que as redes também trazem novidades e estímulos saudáveis. Para trazer mais equilíbrio, sugiro fazer um checkup nas suas redes, ou até um detox digital, reduzindo a quantidade de minutos nas redes, eliminando perfis sensacionalistas e com pseudociência.

    E por outro lado, seguir fontes de profissionais e instituições de classe, influenciadores que citam estas fontes e canais de notícia respaldados pela ciência.

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    Portanto, caros leitores, o pensamento crítico é o nosso maior aliado. Nas redes sociais, os algoritmos podem ser úteis ao nos apresentar conteúdos de nosso interesse, mas também podem nos prender em bolhas de “verdades” que reforçam o que já acreditávamos, muitas vezes distantes da realidade.

    Por isso, questione, busque contrapontos e não aceite tudo sem reflexão. Como nutricionista, empresária e formadora de opinião, sinto a responsabilidade de transformar os meios digitais em agentes de mudanças positivas, e não em disseminadores de medo e falsas ilusões.

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