Se você está nas redes sociais, faz parte dos 60% da população que passa cerca de 2,5 horas diárias rolando a tela, segundo o Digital 2023 Global Overview Report.
Seja o seu tempo maior ou menor, é bem provável que os influenciadores digitais que você segue nestas redes tenham contribuído para mudar sua dieta ou consumir um novo produto.
Fica, então, a pergunta: quem são os influenciadores da sua rede? E quantos deles são profissionais da saúde com proficiência no assunto? Pergunto porque, com uma frequência assustadora, pessoas sem credenciais científicas, de tanto repetirem alguns conceitos, seduzem mentes e corações tornando-se “autoridades” no assunto.
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A esse fenômeno, damos o nome de pós-verdade, no qual sentimentos e crenças pessoais parecem ter mais peso do que fatos.
O problema é que algumas destas desinformações sobre alimentação que viralizam nem sempre propagam a verdade ou se alimentam de fontes científicas.
Quando uma mentira é contada inúmeras vezes acaba tornando-se verdade. É esse o caso das fake news. Em geral, elas engajam por serem polêmicas e contraditórias, baseadas em estudos questionáveis, achismos ou “práticas pessoais comprovadas”.
Esse fluxo incessante, que chamo de infotoxicação, pode afetar nossa capacidade de tomar decisões conscientes. Ao invés de clareza, o excesso de informação leva à confusão.
A culpa não é sua, é da dieta fake!
Se você foi vítima da desinformação e seguiu uma sedutora solução de efeito passageiro, mas acabou não conseguindo continuar, não deixe as redes te dizerem que a culpa é sua.
Um exemplo clássico é o jejum intermitente. Embora tenha seu valor terapêutico em contextos específicos – que fique claro –, me impressiona como a privação prolongada de alimentos é promovida como uma cura milagrosa para tudo, desde o sobrepeso até o envelhecimento.
Outra infotoxicação que invade as redes é o reducionismo, ou seja, a valorização de um alimento unicamente a partir de seus nutrientes. E assim, demonizam seu papel afetivo, social e cultural, apenas por conter glúten, lactose, edulcorantes, açúcar ou sódio, entre outros.
Se você, como a maioria das pessoas, não consegue seguir 100% destas regras, eu tenho uma boa notícia para você: a culpa não é sua. O problema está na dieta, na regra utópica e nos padrões inalcançáveis.
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Deepfake e vídeos: as fake news do futuro
Preocupam os especialistas o perigo dos deepfakes, vídeos criados com inteligência artificial, pois podem distorcer informações ou até gerar vídeos de especialistas com citações que nunca disseram.
A popularidade dos vídeos “O que eu como em um dia”, especialmente em plataformas como TikTok, Instagram e YouTube, cresceu significativamente. No TikTok, por exemplo, a hashtag #whatieatinaday foi usada mais de 17,6 bilhões de vezes ao longo de 2023. Ela aparece também mais de 980 mil postagens no Instagram e em 222 mil vídeos no YouTube.
Imagine-se vendo sua rede social após um dia intenso de estudo ou trabalho, e logo se depara com amigos exibindo rotinas “perfeitas”, e corpos esculpidos. Como se sente? Confuso e inseguro em relação às suas próprias escolhas, incapaz de discernir o que realmente faz sentido?
A série Black Mirror, da Netflix, no primeiro episódio da terceira temporada, Nosedive, traz essa mentira social, lembra? A personagem principal, mesmo sem gostar do biscoito que acompanha o cafezinho, tira uma linda foto e posta na sua rede social. E, ao longo do episódio, não larga o celular, consultando constantemente as reações ao seu post, oscilando entre preocupada e envaidecida com os likes.
Fitinspiration e thinspiration: influência que é doença
O uso intenso das redes sociais tem sido amplamente associado à distorção da autoimagem, principalmente entre mulheres e adolescentes. Conteúdos como o fitspiration e o thinspiration promovem ideais irreais de beleza e podem levar a comportamentos alimentares transtornados, baixa autoestima, ansiedade e até quadros clínicos de depressão.
No Brasil, o nutricionista Cesar Henrique de Carvalho Morais mostra, por meio de seus estudos de doutorado, que os padrões restritivos de alimentação e insatisfação corporal de mulheres são intensificados após passarem tempo observando perfis ligados à cultura fitness no Instagram.
Nutrindo futuros digitais mais saudáveis
A revolução tecnológica é inescapável. Então, deixo um convite para seguir nutrindo futuros de pessoas autônomas, pensamento crítico e com discernimento em suas escolhas, ou seja, nutrindo futuros digitais mais saudáveis, regidos pela tal inteligência emocional, que não cabe às máquinas, mas a nós, seres humanos.
É claro que as redes também trazem novidades e estímulos saudáveis. Para trazer mais equilíbrio, sugiro fazer um checkup nas suas redes, ou até um detox digital, reduzindo a quantidade de minutos nas redes, eliminando perfis sensacionalistas e com pseudociência.
E por outro lado, seguir fontes de profissionais e instituições de classe, influenciadores que citam estas fontes e canais de notícia respaldados pela ciência.
Portanto, caros leitores, o pensamento crítico é o nosso maior aliado. Nas redes sociais, os algoritmos podem ser úteis ao nos apresentar conteúdos de nosso interesse, mas também podem nos prender em bolhas de “verdades” que reforçam o que já acreditávamos, muitas vezes distantes da realidade.
Por isso, questione, busque contrapontos e não aceite tudo sem reflexão. Como nutricionista, empresária e formadora de opinião, sinto a responsabilidade de transformar os meios digitais em agentes de mudanças positivas, e não em disseminadores de medo e falsas ilusões.