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O quanto a comida influencia na obesidade?

Novo livro gratuito ensina a equilibrar os ponteiros da balança com a ajuda da nutrição

Por Valéria Machado, nutricionista*
27 set 2024, 11h38
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  • É fato que quando falamos em obesidade e sobrepeso ainda nos deparamos com um certo preconceito, como se pessoas estivessem acima do peso ideal apenas por escolhas erradas no cardápio e inatividade física, por exemplo. Porém, estes fatores, por si só, não determinam a obesidade.

    Isso porque o excesso de gordura corpórea nem sempre depende da alimentação. Uma das explicações para o acúmulo é a herança genética. Estima-se que entre 40% e 70% da variação no fenótipo associada à obesidade tem caráter hereditário. Esta influência tende a estabelecer alterações de apetite e gasto de energia. Mas os genes não podem ser totalmente responsabilizados.

    Também entra nesta conta o tecido adiposo termogenicamente ativo. Encontrado em várias partes do corpo, ele é responsável por armazenar gordura e desempenha papel fundamental na regulação do balanço energético e na modulação do sistema imune. E é esta regulação energética que impacta no ganho de peso.

    Organismos “econômicos” ganham peso com mais facilidade, enquanto os “esbanjadores” desperdiçam energia mesmo em repouso e, portanto, têm mais dificuldade em engordar.

    Apesar de haver muito a ser estudado sobre o tema, uma coisa é certa: a obesidade é uma doença multifatorial. Editorial no International Journal of Obesity, da Universidade do Texas, afirma que, baseados em pesquisas científicas, não é mais aceitável concluir que somente excessos alimentares levam ao ganho de peso, uma vez que há muitas questões de fisiologia que carecem de esclarecimento.

    + Leia também: Obesidade: novos remédios, velhos dilemas

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    O presente e o futuro da obesidade

    Um estudo divulgado pelo periódico The Lancet mostra que mais de 1 bilhão de pessoas vivem com obesidade no mundo. Entre adultos, a condição mais que dobrou de 1990 para 2022, quando 43% estavam acima do peso, e quadruplicou entre crianças e adolescentes (5 a 19 anos) no mesmo período.

    Já no Brasil, dados epidemiológicos comprovam que enfrentamos uma epidemia de obesidade e sobrepeso, com tendência de agravamento e prevalência entre mulheres, negros e não brancos. Mais da metade dos adultos brasileiros (56%) estão acima do peso, sendo que 34% apresentam obesidade e 22% sobrepeso.

    Estimativas projetam que, até 2044, 48% enfrentarão obesidade e 27% sobrepeso, totalizando 75% da população com mais de 18 anos, ou cerca de 130 milhões de pessoas.

    Hoje, segundo o Ministério da Saúde e a Organização Panamericana da Saúde  (Opas), 12,9% dos pequenos brasileiros entre 5 e 9 anos têm obesidade, assim como 7% dos adolescentes entre 12 e 17 anos. Um recorte brasileiro do Atlas Mundial da Obesidade mostra que, até 2035, 20 milhões dos nossos jovens terão peso além do ideal.

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    +Leia também: Maioria dos adolescentes é sedentária e abusa das telas

    A obesidade é um dos principais fatores de risco para doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes, doenças cardiovasculares (DCVs) e alguns tipos de câncer. Por isso, se nada for feito, 10,9 milhões de novos casos de doenças crônicas associadas ao sobrepeso e à obesidade ocorrerão nos próximos 20 anos, causando 1,2 milhão de mortes.

    As DCVs atribuíveis ao excesso de peso estariam por detrás de 57% destes óbitos.

    O que comer e o que não comer

    Cabe a quem vive o problema fazer sua parte, seguindo uma dieta balanceada, com rotina de atividade física e ajustes alimentares. A farta oferta de comida pouco saudável e acessível nos dias de hoje é um desserviço para a comunidade.

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    De acordo com o recém-lançado e-book Diálogos com a Nutrição – Posicionamento sobre o Tratamento Nutricional do Sobrepeso e Obesidade, desenvolvido pelo Departamento de Nutrição da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp), uma revisão de estudos sobre o tema reportou associação entre ganho de peso e consumo constante de fast-food.

    Porém, também há trabalhos que afirmam que se alimentar esporadicamente com este tipo de comida não contribui para a obesidade. A recomendação dos nutricionistas é, portanto, limitar a frequência e o tamanho das porções que tenham alto teor de açúcares, sódio, gordura saturadas e/ou trans: elementos facilmente encontrados nas refeições fast-food.

    Quando o assunto são bebidas adoçadas – refrigerantes, sucos com adição de açúcar etc. – as evidências sobre a relação com o aumento de gordura corpórea são robustas.

    Em contrapartida, temos alimentos amigos do peso ideal. Nesse sentido, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a ingestão diária equivalente a cinco porções (400g) de frutas, legumes e verduras, exceto batatas e outros tubérculos ricos em amido.

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    Esta ingestão fornece menor teor calórico, sendo adjuvante na perda ou menor ganho de peso. Existem indicativos sobre a ingestão de fibras presentes nestas categorias alimentares produzirem mudanças positivas na microbiota intestinal.

    O e-book da Socesp (clique aqui para baixar) dá acesso gratuito a essas e outras orientações cientificamente comprovadas e que contribuem para que pacientes e profissionais de saúde entendam melhor a dinâmica da obesidade. E ganhem, cada vez mais, ferramentas para combater este mal.

    *Valéria Machado é coordenadora geral do Departamento de Nutrição da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp) e mestre e doutora em Ciências Aplicadas à Cardiologia

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