Será que reduzir o açúcar dos alimentos vai impactar no diabetes?
Nosso colunista aproveita o acordo entre o governo e a indústria para refletir sobre o papel do açúcar e de outros hábitos nos desafios de saúde pública
O Ministério da Saúde anunciou há pouco um acordo voluntário com a indústria de alimentos processados visando à redução gradual da adição de açúcar nos produtos até 2022. Sem dúvida, o dedo do governo se faz necessário em resoluções do tipo. O açúcar invisível pode estar inclusive em alimentos que não são doces. E, mesmo entre esses, a adição deve ser minimizada pensando no interesse geral da população.
Como pai e médico, acredito que muitas propagandas de alimentos industrializados para o público infantil sejam abusivas — ainda que sigam as leis. A colocação estratégica de guloseimas em estabelecimentos comerciais também conta com uma ciência bem orquestrada para estimular o consumo. Até mesmo pessoas que não demonstram interesse por balas, chocolates e confeitos por vezes caem em tentação e se deixam levar pelo impulso ou pela emoção.
Agora, o fato é que é bastante simplista nutrir a ideia de que, SOZINHO, o açúcar seja o grande vilão da sociedade moderna ou mesmo a maior causa do diabetes. Falar em origem do diabetes nos faz recordar que o tipo 1, por exemplo, vem de uma disfunção autoimune, em que as próprias defesas do indivíduo se voltam contra o pâncreas e suas fábricas de insulina. Mesmo no diabetes tipo 2 já sabemos quão intimamente ligado ele está com o histórico familiar e a maus hábitos como sedentarismo e ganho de peso.
Aliás, ainda que a gente foque na dieta, veremos que não dá para responsabilizar só o açúcar. O excesso de gordura na alimentação aumenta o risco de obesidade e… diabetes. Portanto, de nada adianta abandonar um doce se você mergulhar em frituras e afins.
Se o problema fosse somente o açúcar, acredito que tudo seria mais facilmente resolvido. O ponto crucial no diabetes é que, para prevenir ou mesmo tratar, precisamos de doses cavalares de BOM SENSO. Não existe um segredo guardado a sete chaves.
A recomendação, nem sempre fácil de seguir à risca, é balancear a alimentação, tendo um equilíbrio entre proteínas, gorduras e carboidratos (sim, carboidratos!). E mesmo o açúcar pode ter espaço de vez em quando. Ou você vai deixar de comer frutas? Ou, então, rejeitar em todo encontro aquela torta que só a vovó sabe fazer? Dá para comer um pouco de açúcar… com moderação e equilíbrio.
A proposta do governo e da indústria deve impactar a sociedade como um todo. Mas cada indivíduo e cada família têm de fazer sua parte. Como? Pesando bem as escolhas, escolhendo com inteligência as compras, lendo os rótulos… E estimulando a educação alimentar em casa e nas escolas.
A redução no teor de açúcar dos alimentos industrializados é uma boa medida, mas, pensando no diabetes e na saúde pública, o desafio é bem mais complexo do que isso. Precisamos implementar e lançar várias frentes de abordagem se quisermos ter um real impacto no bem-estar da população. Nesse sentido, suprir o cidadão com educação, conscientização e senso crítico sobre alimentação é a bandeira mais efetiva para termos um país mais bem nutrido e saudável.