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“A depressão me trouxe um acúmulo de perdas irreversíveis”

Em relato honesto, portadora de transtorno depressivo divide desafios e aprendizados da convivência com a doença

Por Carla Rodrigues, diagnosticada com depressão resistente*
7 set 2023, 11h18
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Depressão atinge mais de 10% dos brasileiros, mas tratamento está melhorando (Foto: Tomás Arthuzzi/SAÚDE é Vital)
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Meu nome é Carla, sou gerente comercial e fui desafiada a escrever sobre a depressão. Enquanto ia organizando as ideias para colocar no papel, fui tendo ainda mais noção do “buraco” enorme em que essa doença me colocou.

Porém, mesmo com todas as dificuldades, posso dizer hoje que consegui emergir. Por isso, antes de começar, quero avisar a todos que sofrem de depressão: você vai sair dessa. Não desista do tratamento e nem de você!

Fui diagnosticada com depressão ansiosa há seis anos, mas os sintomas já vinham me acompanhando há um bom tempo. Procurei um psiquiatra – e acredito que seja assim para a maioria das pessoas – quando a situação estava no limite. Exacerbada, não podia mais colocar a culpa no estresse, no cansaço ou na TPM.

Desde então, foram quatro psiquiatras, dois terapeutas, sete medicações diferentes e inúmeras terapias “alternativas”. Tentei meditação, acupuntura, hipnose, passe espiritual, banhos curativos e qualquer coisa que me mostrasse uma mínima esperança de melhorar meu estado.

Para mim, a depressão trouxe um acúmulo de perdas irreversíveis. Com uma carreira bem consolidada, tomei a difícil decisão de pedir demissão dois anos depois do diagnóstico.

Estava insustentável lidar com os sintomas e as exigências naturais de ser uma gerente comercial de grandes contas.

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Mas, principalmente, estava pesado ter de enfrentar o meu próprio julgamento acerca do meu trabalho, que já não tinha a mesma qualidade de antes, e para o qual não conseguia mais me dedicar como a empresa e os clientes mereciam.

Depois de quatro anos, o balanço era devastador. Perdi meu emprego, prejudiquei minha carreira, não estive presente na vida dos meus filhos, meu casamento estava desgastado, afastei-me de amigos queridos e perdi o interesse por praticamente todas as coisas que eu amava fazer.

E os desafios e a jornada para recuperar minha vida estavam apenas começando. As medicações não traziam os resultados esperados, porém os efeitos colaterais estavam lá: sono, desânimo, dificuldades com a memória, perda da libido, enxaqueca, ganho de peso, oscilação de humor acentuada e por aí vai.

+ Leia também: Depressão: sintomas, diagnóstico, prevenção e tratamento

A chegada da Covid-19

No meio desse turbilhão, ainda enfrentamos a pandemia. No início, achei ótimo o isolamento.

Obviamente estava preocupada com a Covid-19 e todo o caos da emergência sanitária. Contudo, poder ficar em casa com meu marido e meus filhos, era, de fato, um cenário bastante reconfortante para mim.

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Por um período cheguei a achar que estava melhorando, até que o final do isolamento chegou. Tinha vergonha de assumir, mas a verdade é que não queria de jeito nenhum que esse porto seguro no qual a quarentena havia se transformado acabasse.

Foi nesse momento que minha depressão deu sinal de que ainda estava ali, e mais forte que nunca. A angústia tomava conta de mim e me perguntava: e agora? Vou ter que sair de casa?

+ Leia também: Entenda como funciona o implante para tratamento da depressão grave

Felizmente, eu já estava em tratamento com minha psiquiatra atual, que acompanhava tudo muito de perto e indicou um exame farmacogenético.

Esse teste apontou uma incompatibilidade entre medicações que usei anteriormente e a minha metabolização.

Assim, finalmente eu tinha uma explicação para o que acontecia comigo.

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A melhora

Diante desse fato novo, minha médica prescreveu uma terapia disponível no mercado há pouco tempo. Ela tinha indicação exatamente para casos como o meu, de depressão resistente, mas com um mecanismo de ação diferente de tudo o que já havia usado.

Iniciei o tratamento há 10 meses e, de forma gradual e constante, fui melhorando. Estou recuperando a vontade de fazer as coisas e olhando para a vida de outra forma, mais disposta a aproveitar as oportunidades que surgem.

Também me sinto mais interessada, mais afetuosa com minha família e voltei a participar de forma mais ativa da vida dos meus filhos.

Algumas vezes ainda me surpreendo com o fato de ter conseguido ir ao mercado, ao cabelereiro, ter ajudado meus seus filhos com os deveres da escola, passeado com o cachorro. Coisas simples, mas que antes do tratamento eu não conseguia mais fazer.

Por isso hoje fico feliz em poder afirmar que funcionou. Está funcionando!

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+ Leia também: Mais de 15% dos brasileiros se sentem infelizes e deprimidos, diz pesquisa

Pilares

Acho importante frisar que, para mim, a remissão da depressão está fundamentada em três pilares: medicação, terapia e atividade física.

Graças à nova medicação eu consegui começar — e manter — a terapia, algo que no início era muito difícil e exigia uma disposição que eu não tinha.

Com essa combinação, já estou consolidando o terceiro pilar: a atividade física.

É claro que, de vez em quando, ainda tenho meus momentos de tristeza, de cansaço, de preguiça de sair, mas são sentimentos que vem e vão, como deve ser. Não é mais um estado constante.

Quero aproveitar para agradecer a minha médica, que não desistiu do meu tratamento e sempre foi muito atenta a cada situação.

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Enquanto médico e paciente insistem em medicações sem resultado, a vida daquela pessoa está parada, congelada. E todos que são próximos desse paciente sofrem junto.

Se você está passando por algo parecido, persista no tratamento e continue sua busca até alcançar a remissão de todos os sintomas depressivos. Seja forte, tenha paciência e procure não se vitimizar. Você é a peça principal para o início da sua melhora. E ela existe!

Carla Rodrigues é gerente comercial, tem 47 anos e vive em São Paulo (SP).

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