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Síndrome de Tourette: o que é, quais são os sintomas e tratamentos

Manifestações mais comuns são tiques involuntários, como fazer caretas, piscar os olhos ou dizer palavras repetidamente

Por Lucas Rocha
1 set 2023, 17h50
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Síndrome de Tourette é um transtorno do neurodesenvolvimento (Ilustração: Thiago Biazzoto/SAÚDE é Vital)
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A síndrome de Tourette é um transtorno do neurodesenvolvimento que se evidencia na infância ou na adolescência.

As manifestações mais comuns são movimentos motores e vocais involuntários, como fazer caretas ou dizer palavras repetidamente. Alguns “tiques” podem ser transitórios, outros persistem ao longo da vida.

A condição também pode ser associada a outros transtornos, como o de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e o obsessivo compulsivo (TOC). Embora não haja cura, os tratamentos disponíveis podem contribuir para reduzir os sintomas e ampliar a qualidade de vida.

Não há estatísticas muito robustas sobre o quadro, mas sabe-se que ele é raro. No Brasil, uma análise de 2014 indica uma prevalência de 0,43%.

A cantora Billie Elish, 21, é uma das personalidades que convivem com o diagnóstico. A artista mencionou o assunto em 2022, em uma entrevista a David Letterman.

Também apresentam a síndrome o ex-jogador de futebol David Beckham, o cantor e compositor Lewis Capaldi, o ator e comediante Seth Rogen e o lutador Antonio Carlos Júnior, mais conhecido como “Cara de Sapato“, ex participante do reality show Big Brother Brasil (BBB), da Globo.

+ Leia também: Quando devo procurar um psiquiatra? Entenda

O que é a síndrome de Tourette?

O nome atribuído ao transtorno vem do médico francês que primeiro descreveu a síndrome, Gilles de la Tourette (1857-1904).

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“Ele descreveu os sintomas em um paciente e coletou observações de casos semelhantes e, em 1885, publicou um artigo descrevendo esses casos e usando o nome ‘maladie des tics’ para o distúrbio”, conta o psiquiatra Antonio Egídio Nardi, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O famoso neurologista francês Jean-Martin Charcot, tido como um dos pais da neurologia moderna, rebatizou a síndrome de ‘doença de Gilles de la Tourette’ em homenagem ao colega.

A definição da síndrome de Tourette considera que os pacientes devem apresentar pelo menos dois movimentos involuntários e um tique vocal, não necessariamente ao mesmo tempo.

“Apesar disso acontecer em poucos casos, chama muito a atenção a compulsão por dizer palavrões. Isso chama-se coprolalia“, afirma o psiquiatra.

Esses sintomas podem aumentar e diminuir em frequência, mas precisam ocorrer há mais de um ano para cravar o diagnóstico.

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+ Leia também: Quais são os principais tipos de psicoterapia?

Além disso, os tiques devem surgir antes dos 18 anos. Em geral, o transtorno é notado na infância ou adolescência. “É comum que os tiques motores se manifestem antes dos  vocais. Os sintomas podem piorar durante a adolescência e persistirem na vida adulta”, afirma o psiquiatra Antônio Geraldo, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

As causas da síndrome de Tourette permanecem desconhecidas. Contudo, considerando que os casos podem acontecer em mais de uma pessoa na mesma família, há indícios de que fatores genéticos estejam envolvidos.

O psiquiatra da UFRJ afirma que uma segunda hipótese estudada envolve outros processos.

“Supõe-se que tanto o transtorno obsessivo compulsivo quanto os transtornos de tiques surjam em algumas crianças como resultado de um processo autoimune pós-infecção por estreptococos [um tipo de bactéria]”, diz Nardi.

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Psicoterapia é uma das abordagens utilizadas no tratamento da condição (Foto: Drazen Zigic/Freepik/Divulgação)
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Quais são os principais sintomas?

As manifestações da síndrome de Tourette podem levar ao comprometimento psicológico e social dos pacientes.

“Os tiques mais comuns são piscar os olhos com frequência, fazer caretas, realizar gestos obscenos, chutar ou soluçar. Os indivíduos também podem gritar, repetir palavras, proferir frases obscenas ou imitar sons de animais”, afirma Geraldo.

O psicanalista e psiquiatra Roberto Santoro, coordenador do Grupo de Trabalho sobre Saúde Mental da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), destaca a importância de pais e educadores prestarem atenção para a detecção precoce do transtorno.

“Em geral, é comum que crianças apresentem tiques, como em situações de estresse psicológico principalmente, mas eles não são duradouros, se resolvem sozinhos. No caso da Síndrome de Tourette, esses sinais são bem característicos, o portador não tem controle”, explica Santoro.

Como é feito o diagnóstico da condição

O diagnóstico é feito através de uma avaliação clínica, que pode ser realizada por um neuropediatra ou psiquiatra especializado. O profissional analisa as características dos tiques, como o tempo de duração, e o histórico familiar.

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De acordo com a Associação Americana de Tourette, não existe nenhum teste complementar para confirmar o diagnóstico.

O neurocirurgião e neurocientista Fernando Gomes, professor livre docente do Hospital das Clínicas de São Paulo, afirma que exames de imagem podem ajudar a descartar outras condições que apresentam sintomas semelhantes, como epilepsia, tumores ou lesões.

“Uma pessoa que chega ao consultório com tiques passa por uma avaliação neurológica. O processo inclui métodos como tomografia, ressonância e eletroencefalograma para descartar outros distúrbios do movimento”, diz Gomes.

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Cantora Billie Eilish contou ter sido diagnosticada com Síndrome de Tourette em entrevista (Foto: Youtube/Reprodução)

Não existe cura, mas tratamento ajuda

A falta de conhecimento sobre os sintomas da síndrome de Tourette é uma das principais causas de sofrimento para pacientes e familiares.

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Os gestos e verbalizações involuntários podem surgir em ocasiões inadequadas, como na sala de aula, em uma igreja ou em um velório, por exemplo.

Nesse contexto, uma das primeiras orientações médicas é a conscientização, tanto do acometido quanto das pessoas conhecidas, sobre o que é a síndrome.

Apesar de não curarem, os tratamentos, que podem ser medicamentosos ou não, ajudam a controlar os sintomas. A abordagem mais adequada é definida pelos médicos, de acordo com o quadro clínico e o perfil individual.

+ Leia também: O que, de fato, é o transtorno bipolar

“Alguns cuidados são a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC), prescrição de remédios, injeção de toxina botulínica, popularmente conhecida como botox, para os tiques motores, e em alguns casos, pode ser necessária intervenção cirúrgica”, diz Geraldo.

“A psicoterapia cognitivo comportamental pode ajudar ao indivíduo a aprender técnicas de relaxamento, controle parcial dos tiques e do estresse”, completa Nardi.

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