Ele era um marco do rádio gaúcho, e então um tumor levou sua voz
Radialista conta sua experiência ao tratar um meduloblastoma, tumor raro na cabeça
“Todos nós temos um câncer adormecido”. Essa frase está no livro Anticâncer (Fontanar – Clique para comprar), do médico David Servan-Schreiber, que morreu devido a um tumor na cabeça.
Nesse livro, ele nos conta como hábitos saudáveis podem ajudar a prevenir a doença. Li a obra em 2019, antes de descobrir o meu próprio câncer. E, apesar de todos os alertas, nunca achava que iria acontecer comigo. Eu era uma espécie de super-herói.
O câncer, como muita gente sabe, começa com uma célula malformada que se prolifera. Foi isso que aconteceu comigo. Precisei ser submetido a duas cirurgias, 30 sessões de radioterapia e seis ciclos de quimioterapia. O tipo de câncer que eu tive, o meduloblastoma, acomete o sistema nervoso central e é raro em adultos. Mais comum em crianças.
Sobrevivi com várias sequelas. Uma delas foi minha voz, que ficou prejudicada. Justo a voz, que é meu instrumento de trabalho. Sou jornalista e até 2021 era apresentador do programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, um dos mais tradicionais e com maior audiência do Rio Grande do Sul.
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Meus sintomas começaram em fevereiro daquele ano. Sentia tonturas esporádicas e uma leve dor de cabeça. A vertigem eu atribuía às lentes oculares que eu havia recém trocado. A dor de cabeça eu combatia tomando analgésico.
No dia 20 de junho, três meses depois de sentir os primeiros sintomas, encerrei o programa de rádio que, na época, era feito de casa por causa da pandemia de covid-19, saí do escritório e fui até a sala de casa, onde estava minha filha de apenas 1 ano e meio. Quando a peguei no colo, senti uma tontura muito forte.
Se não fosse a babá, eu teria caído com minha filha. Pensei: “isso é muito mais que uma simples tontura”.
No dia seguinte, fiz uma consulta com o oftalmologista Otávio Piltcher. Ele foi taxativo: “vamos começar fazendo uma ressonância magnética“.
Marquei o exame para um domingo de manhã e no hospital mais perto da minha casa. Afinal, eu não queria perder um dia de trabalho durante a semana. A proximidade era pura comodidade minha. Achei que seria mais rápido para me livrar daquilo.
Na gélida e chuvosa manhã do dia 29 de junho de 2021, sai de casa com a certeza de que seria só mais um exame. Logo depois do procedimento, uma técnica veio até a minha sala e fez a seguinte pergunta: “o senhor está investigando ou é só um check-up?” E eu: “por quê?” Ela me disse, então, que o médico iria me ligar ainda naquele dia. Ora, se o médico vai ligar é porque tem algo errado.
Logo depois do almoço, o médico me ligou com a notícia que mudou minha vida. Ele me comunicou que tinha um tumor na cabeça. “Vamos tirar imediatamente porque ele está crescendo e a tendência é que seja um câncer“.
Aquela notícia me deixou tão atordoado que perdi o chão. Para continuar a conversa ao telefone, tive que sentar num sofá. Meu primeiro pensamento foi: “será que vou morrer? Será que a Gabriella vai cuidar das nossas filhas sozinha?”. Daí em diante, foram oito meses de tratamento, período em que batalhei muito pra ficar vivo. A chance de morrer era real.
Depois de recobrar a consciência, botei no papel todas as lições que aprendi. Acabei de publicar meu primeiro livro Aluno da Tempestade (Citadel Grupo Editorial – Clique para comprar). Nele, conto as agruras que passei e o que foi fundamental para eu estar aqui hoje. Como disse uma amiga minha: “câncer não é uma sentença de morte, é uma sentença de vida“. Eu sou prova disso.
*Daniel Scola é gaúcho, jornalista, e acaba de lançar seu primeiro livro “Aluno da Tempestade”, pela Citadel Grupo Editorial