Estive recentemente em dois grandes eventos que abordam lentes de contato: Um era o Congresso da Sociedade Brasileira de Lentes de Contato e Refratometria (SOBLEC), e o outro, um dos principais cursos do segmento, no BOS – Banco de Olhos de Sorocaba, o maior banco de transplante de córnea do mundo. Em ambos os casos, novos tratamentos com lentes de contato para o controle da progressão da miopia receberam destaque.
Estima-se que, em 2050, metade da população brasileira seja míope. Nós estamos falando de uma população de 2,4 bilhões de pessoas com miopia em todo o planeta.
A base do desenvolvimento da miopia é genética. Mas há outros fatores, como o próprio ciclo do dia.
Eu explico: a luz do sol é capaz interfere na produção de um hormônio chamado dopamina. E a dopamina está diretamente relacionada ao crescimento axial do olho – que, por sua vez, está ligado à miopia. A maioria dos casos de miopia ocorre por um crescimento excessivo do olho.
Acontece que o excesso de telas leva a menos exposição à luz solar, o que interfere nessa questão e, portanto, contribui para a miopia. Em crianças e jovens adolescentes, o desenvolvimento do corpo humano é muito afetado pelos hábitos de vida.
O tratamento da miopia
Mas voltando aos eventos que fui. Há muitos anos, tratamos a miopia com colírios medicamentosos e lentes específicas bifocais. Essas lentas ajudam, mas penalizam parte do campo de visão em detrimento de outro – se eu olhar em uma parte da lente, consigo enxergar longe; se mirar em outra, vejo com nitidez os objetos próximos.
Além disso, elas podem piorar a qualidade da visão em crianças muito novas. De alguns anos para cá, novas lentes que minimizam esse efeito estão sendo lançadas. Agora, em 2023, as três maiores indústrias do mercado de lentes (Essilor, Zeiss e Hoya) lançaram lentes modernas com essa vantagem.
Também tem crescido, na parte de contatologia, a ortoceratologia. A ortoceratologia é uma técnica antiga, mas ganhou grande importância pelo avanço da ciência e dos novos materiais.
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A ortoceratologia funciona assim: em um dia, a pessoa vai dormir com uma lente de contato especial. Ao acordar, aquela lente cria um molde no olho e reduz a miopia durante o dia. Ela fica zerada.
Ao longo do dia, aquela miopia regride, mas ela dorme novamente com a lente – e, novamente, durante o dia, fica sem grau. É um tratamento que funciona muito bem.
Esse tipo de criação reduz a progressão da miopia.
Diante de tantas novidades, é importante que as pessoas visitem regularmente o oftalmologista para saber quais os melhores cuidados à disposição hoje.
*Tiago César Pereira Ferreira é oftalmologista e professor de cirurgia oftalmológica na Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. Possui especialização em Harvard, no Hospital Sírio Libanês (SP) e na Unifesp, além de ser filiado às Academias Brasileira, Americana e Europeia de Oftalmologia. Especializado em lentes de contato, em ceratocone e em cirurgia refrativa pela Santa Casa de BH, e em catarata pelo Instituto de Olhos da Faculdade Ciências Médicas de MG.