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Smart drugs: o “doping cerebral” que virou febre no mundo corporativo

Remédios para tratar condições médicas como TDAH ou narcolepsia estão sendo consumidos por pessoas saudáveis para melhorar foco, cognição e produtividade

Por Ana Paula Vitelli, executiva*
26 Maio 2025, 10h39
smart-drugs
Em certos ambientes, o uso de comprimidos para melhorar o desempenho no trabalho está até normalizado, mas não deveria  (RunPhoto/Getty Images)
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A busca por resultados exponenciais e performance está na natureza do ambiente corporativo. Organizações visam resultados, crescimento, superação e expansão. Isso pode se traduzir em pressão nos colaboradores pela superação de limites, eventualmente ultrapassando as fronteiras naturais do corpo e da mente.

Nesse contexto, uma prática silenciosa e preocupante vem ganhando terreno: o uso das chamadas smart drugs (“drogas inteligentes”), ou nootrópicos.

Essas substâncias, originalmente desenvolvidas para tratar condições médicas como TDAH ou narcolepsia, estão sendo cada vez mais consumidas por profissionais saudáveis com o objetivo de turbinar a cognição e aumentar o foco, a memória e a resistência à fadiga.

O fenômeno, embora discreto afinal, os comportamentos resultantes contribuem para a produtividade nas empresas , é alarmante.

+Leia também: É preciso reverter a cultura do burnout

Uma pesquisa recente da BMI, consultoria especializada em cultura e redesign organizacional, lança luz sobre a dimensão do problema: 61% dos profissionais entrevistados apontam que a exigência crescente de gestores é um fator determinante para o consumo dessas substâncias.

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Soma-se a isso o fato de que 74,2% dos respondentes identificam as metas agressivas como vilãs que elevam o estresse e fomentam a prática, e 69,3% acreditam que a necessidade de evitar críticas no ambiente de trabalho pode ser um gatilho. Nesse contexto, a cultura do alto desempenho a qualquer custo parece ter impacto direto na saúde dos indivíduos

Assim, o uso de smart drugs configura o que mais de 70% dos profissionais já consideram um “doping intelectual”. E aqui reside um dilema ético complexo para as organizações. Metade dos entrevistados (50%) acredita que as empresas aceitam, explícita ou tacitamente, o uso desses fármacos para melhorar o desempenho. Além disso, 38,7% defendem que essa é uma escolha estritamente privada.

A questão é: até que ponto a busca pela alta performance justifica ignorar nossas limitações humanas e recorrer a atalhos químicos, eventualmente obtidos em um mercado paralelo e não raro sem acompanhamento médico?

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Os riscos são múltiplos. Do ponto de vista individual, há incertezas sobre os efeitos colaterais a longo prazo, o potencial de dependência e o perigo do consumo não supervisionado. Do ponto de vista organizacional, essa prática pode mascarar problemas de gestão, criar um ambiente de competição injusto e corroer a cultura de bem-estar genuíno.

Como as empresas podem atuar?

É fundamental que as lideranças tomem consciência da existência e das implicações dessa prática, atuando como exemplos de conduta ética e equilibrada.

É preciso haver um diálogo aberto e honesto sobre o tema, educando colaboradores sobre riscos e reforçando que o uso de qualquer substância para aumento de performance não deve ser uma expectativa velada.

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Políticas claras de saúde e segurança, que abordem especificamente o uso de substâncias psicoativas prescritas ou não, são essenciais,  que respeitem a autonomia individual ao mesmo tempo que ofereçam contornos claros sobre a relação entre sucesso profissional e uso de nootrópicos. Essa é uma agenda que nos parece urgente.

Enfrentar essa questão exige uma abordagem que una o olhar das organizações à compreensão médica sobre saúde mental. As empresas podem buscar suporte externo e especializado para lidar com esses desafios.

Um exemplo é o workshop promovido pela BMI, com participação especial do Núcleo de Saúde Populacional do Hospital Sírio-Libanês, voltado a lideranças e profissionais de RH. A iniciativa ajudou a reconhecer o desafio, compreender seus impactos e abrir espaço para diálogo dentro das empresas.

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É uma demonstração de que o primeiro passo é reconhecer o problema e estar disposto a discuti-lo abertamente.

*Ana Paula Vitelli é Managing Director na BMI e parte da holding House of Brains. É Doutora e Mestre em Administração pela FGV-SP. Autora do livro A Mulher In(Visível) (Appris – Clique para comprar).

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