Será que você precisa maneirar no uso de redes sociais?
Psicóloga fala dos impactos do abuso das redes sociais na saúde e cita os sinais de que está na hora de reduzir o tempo online
Um estudo realizado pela Sortlist apontou que os brasileiros gastam mais de 10 horas por dia na internet, sendo que 3 horas e 43 minutos desse tempo são destinados ao acesso de redes sociais. Tais dados nos posicionam como segundo país em que a população fica mais tempo online no mundo.
A importância das redes sociais em nossas vidas tem a ver com o atendimento de necessidades sociais latentes, mas já existentes, relacionadas a troca de informações, melhora da conexão entre pessoas e possibilidade de compartilhamento de conhecimento. Nesse sentido, elas são muito úteis.
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Com o passar do tempo e o desenvolvimento de múltiplas plataformas, fomos observando o aumento gradativo do tempo destinado do nosso dia para a utilização desses meios de comunicação.
Por conta disso, começamos a nos dar conta dos efeitos que o uso das redes pode ter em nosso modo de viver, em nossa autoestima, no sono e, como consequência disso tudo, em nossa saúde psíquica.
As redes e a nossa saúde mental
Uma pesquisa realizada pela Royal Society for Public Health, no Reino Unido, em parceria com o Movimento de Saúde Jovem, demonstrou que os impactos do uso das redes sociais mais populares – Facebook, YouTube, WhatsApp e Instagram – em nossa saúde mental são muito relevantes.
É percebido, por meio das pesquisas e também da prática clínica, que o exagero é bastante prejudicial, uma vez que pode ser motivo de vício, crises de ansiedade, baixa autoestima, diminuição do sono, etc.
No estudo citado acima, por exemplo, cerca de 70% dos jovens participantes revelaram que as redes sociais fizeram com que se sentissem pior em relação à própria imagem.
Outro sentimento frequentemente desencadeado ao permanecer muitas horas conectado é a sensação de estar de fora de alguma situação ou de ser excluído de determinado acontecimento – isso é chamado de F.O.M.O, do inglês “fear of missing out”, algo como “medo de ficar de fora”.
Um estudo feito recentemente por neurocientistas da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, com adolescentes entre 12 e 15 anos, mostrou que, por volta dos 12 anos, aqueles que verificam habitualmente seus feeds nas redes sociais demonstram aumento da necessidade de receber feedbacks, juntamente com uma hipersensibilidade aos retornos recebidos de seus colegas nas redes.
Em 2021, uma pesquisa realizada pela Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica e Estética (ISAPS) mostrou a intensificação da busca por procedimentos cirúrgicos e estéticos no Brasil tanto pelo fato de as pessoas estarem se vendo mais em fotos e vídeos publicados, como por manifestarem o desejo de se tornarem parecidas com os filtros disponibilizados nas redes.
Sinais de alerta
Há alguns indícios de que o uso das redes não está fazendo bem e merece atenção. Alguns deles são:
+ Ocorrência de crises de ansiedade
+ Isolamento por se sentir excluído de situações ou por vergonha de determinado aspecto do corpo
+ Tristeza excessiva por período prolongado
+ Percepção de que está permanecendo mais tempo online do que offline (trabalho, encontro com amigos e família, atividades físicas e de lazer)
+ Diminuição significativa do tempo de sono
Na presença de alguns desses sintomas, o ideal é buscar atendimento psicoterápico. Estarmos informados e conectados (com as pessoas e com o mundo) é bastante importante, mas desde que isso não nos impeça de termos e vivermos experiências no “mundo real”.
As redes não substituem a experiência do contato presencial com o outro nem conosco, no sentido de conseguirmos enxergar e reconhecer nossas qualidades e conquistas, além de faltas, incompletudes e frustrações.
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Encerro com uma passagem de Anna Freud, que talvez nos ajude a pensar sobre a tentativa de tamponamento das nossas frustrações (com o corpo, a vida e as relações) através do excesso de uso das redes. Ela diz: “Se algum desejo seu não for atendido, não se surpreenda. Nós chamamos isso de vida.”
Ana Gabriela Andriani é psicóloga formada pela PUCSP, especialista em terapia de casal e família pela Northwestern University (EUA), especialista em Psicoterapia Breve pelo Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), e membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise