Quer controlar a dor? Faça um diário
Manter um registro das sensações dolorosas e dos momentos de alívio ajuda a gerenciar melhor a dor crônica, explica especialista
“Meu querido diário…” As crianças, principalmente as meninas, costumavam manter um diário para registrar eventos do cotidiano, acontecimentos na escola, episódios com as amigas, emoções e lembranças importantes. É um hábito que ainda permanece. Anos depois, muitas pessoas, já crescidas, liam suas anotações e suas memoráveis aventuras.
Afinal, qual é a função de um diário? É um caderno escrito em primeira pessoa e em linguagem informal e simples. Normalmente, é usado para registrar o dia a dia ou fatos marcantes, podendo ser uma ferramenta de autorreflexão, de desabafo, de organização das ideias, de planejamento…
Mas hoje quero falar de um tipo particular de diário: o diário da dor.
Muitas vezes, pessoas que sofrem de dor crônica sentem que não têm controle sobre seus problemas de saúde e sua qualidade de vida. Ficam desmotivadas, cansadas, com a sensação de que a dor está presente o tempo todo.
Será que é assim mesmo? Fazer o registro da dor ajuda as pessoas a terem algum controle sobre o que acontece com elas e com seu corpo. A escrita fornece informações críticas que são necessárias para uma boa tomada de decisão, tanto pelo paciente quanto pelos profissionais da saúde.
Com um diário, ambos podemos entender melhor o que o indivíduo está sentindo, quando fica mal e, assim, construir uma proposta de alívio. Se você começar a fazer várias anotações por dia, não demorará a detectar padrões e perceber o que piora ou melhora a sensação dolorosa.
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A dor crônica impacta significativamente a qualidade de vida. Tanto incômodo pode vir junto e misturado, o que pode ser desesperador. Dá para montar um diário da dor de várias formas, mas o mais importante é estabelecer padrões e observar os gatilhos que pioram ou melhoram a dor. O caderno (ou o celular) funciona como uma lupa, uma lente que nos ajuda a visualizar coisas que não enxergaríamos normalmente.
O que o diário da dor deve pode contemplar?
● identificação de padrões: a hora do dia em que dói mais, as emoções, sensações e atividades envolvidas
● compreensão da gestão da dor: quais terapias, medicamentosas ou não, funcionam melhor
● comunicação com as pessoas à sua volta e com os profissionais de saúde: isso ajuda a tomar decisões baseadas em fatos
Informações como essas evitam lacunas na história e contribuem para o gerenciamento do problema, bem como a definição da melhor estratégia terapêutica.
Baseada nas pesquisas já concluídas sobre a ferramenta do diário da dor, recomendo registrar o seguinte:
● data e hora dos episódios de dor
● atividades recentes, o que estava fazendo ou fez antes
● o que fez para gerenciar a dor naquele momento; se funcionou ou não
● mudanças nas condições médicas, na rotina e nas relações interpessoais
● mudanças nos medicamentos
● local, intensidade e duração da dor
● efeito de quaisquer medicamentos ou técnicas de alívio da dor usados
● efeitos emocionais ou psicológicos da dor ou do alívio
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Dias melhores e dias piores virão, isso é fato. Só que, quando anotamos os detalhes, podemos perceber que a dor pode não desaparecer, mas ficar em um lugar que não impede a pessoa de se sentir bem. Esse é o verdadeiro controle da dor.
Em alguns dias ela vai dominar, em outros será possível silenciá-la. Quando você mantém um diário, tudo fica mais nítido e visível, inclusive como estão seu humor, sua resiliência e sua capacidade de decisão. São dados que dão um norte ao tratamento.
Muita gente quer fazer um exame de imagem para entender sua dor em vez de olhar para dentro de si mesma. Exames são importantes, mas não bastam. O diário da dor é indolor, de baixo custo e não precisa de receita médica e autorização do plano de saúde.
Bastam papel e caneta e alguns minutos do seu dia. Em vez de surfar na internet, faça um mergulho dentro de você, registre suas dores, tome as rédeas da situação e aprenda a construir seu alívio.
* Mariana Schamas é cinesiologista, especialista em dor e criadora do Método ECAD – Estratégias Comportamentais no Alívio da Dor