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Por que tantos líderes estão pedindo demissão?

Entre o sucesso e a estafa, cresce a pressão no alto escalão das empresas por ambientes de trabalho mais saudáveis

Por Valéria Oliveira, consultora em gestão de pessoas*
15 abr 2025, 14h11
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Executivos estão abrindo mão de cargos de liderança em prol da saúde mental (Malte Mueller/Getty Images)
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Algo curioso está acontecendo no mercado de trabalho: uma onda de demissão voluntária entre líderes.

Pessoas em cargos estratégicos, diretores, vice-presidentes e até CEOs estão deixando seus cargos por razões que, há alguns anos, seriam vistas como secundárias – flexibilidade no trabalho, equilíbrio entre vida pessoal e profissional, saúde mental.

A pergunta que fica é: por que profissionais que passaram décadas construindo carreiras robustas estão, agora, abrindo mão de posições de prestígio e altos salários?

A resposta não é simples, mas um fator é inegável: o custo de se manter em um ambiente inflexível, tóxico e que ignora os riscos psicossociais do trabalho está alto demais. O burnout virou uma epidemia silenciosa.

De acordo com a International Stress Management Association (ISMA-BR), o Brasil é o segundo país com maior incidência de burnout no mundo, atrás apenas do Japão. E esse problema, que já era grave, se intensificou nos últimos anos, atingindo não só a base da pirâmide corporativa, mas também o topo.

Se antes a ideia era “chegar ao topo” e segurar a posição pelo máximo de tempo possível, agora muitos líderes percebem que esse posto tem um preço alto demais. Não é só a carga horária exaustiva e as cobranças incessantes – é o impacto na saúde mental, nas relações pessoais e na qualidade de vida.

O “sempre disponível”, que antes era visto como sinônimo de comprometimento, hoje é um bilhete para um esgotamento sem volta.

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+Leia também: 6 sinais de burnout que não devem ser ignorados

Os motivos que levam à demissão

Um dos principais motivos que levam esses profissionais a pedirem demissão é a falta de flexibilidade. A pandemia provou que o trabalho remoto e híbrido são viáveis para muitas funções e os executivos também sentiram esse impacto. No entanto, o que se vê no mercado é uma forte resistência de algumas empresas em manter esse modelo.

A 15ª edição do guia salarial da Robert Half também aponta que 43% dos profissionais valorizam mais os benefícios da flexibilidade do que o próprio salário ao avaliar uma oportunidade de emprego.

Isso porque, mesmo no topo, a sensação de aprisionamento ao escritório, de reuniões intermináveis e de um modelo de gestão arcaico tem gerado um desgaste mental insustentável.

Muitos desses profissionais chegam a um ponto em que a escolha se torna evidente: seguir em um sistema que cobra cada vez mais, mas entrega cada vez menos qualidade de vida, ou abrir mão do status e do salário alto em troca de uma vida mais equilibrada.

Cada vez mais, a segunda opção tem vencido.

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O impacto dos riscos psicossociais e as novas regulamentações

foto de homem escondendo o rosto com as mãos

A pressão excessiva no ambiente corporativo não é um problema novo, mas o reconhecimento disso como um risco à saúde dos trabalhadores é algo que começa a ganhar força agora. Recentemente, o governo federal atualizou a NR-1 para incluir os riscos psicossociais no trabalho.

Isso significa que, pela primeira vez, fatores como excesso de trabalho, pressão desproporcional, assédio moral e falta de suporte emocional são reconhecidos oficialmente como elementos que afetam a saúde dos trabalhadores.

Essa mudança obriga as empresas a repensarem suas políticas internas e a considerarem seriamente o impacto da cultura corporativa na saúde mental dos funcionários – inclusive dos líderes.

Além disso, a reconstituição da Comissão Nacional Permanente do Benzeno reforça a necessidade de um olhar mais atento para os riscos ocupacionais, não apenas físicos, mas também emocionais. Mas será que apenas regulamentar basta?

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+Leia também: Fim da escala 6×1 no trabalho é questão de saúde física e mental

Burnout em executivos: quando sucesso vira exaustão

A geração que está no topo hoje – executivos entre 40 e 55 anos – cresceu profissionalmente em uma cultura que glorificava jornadas extenuantes e sacrifícios pessoais em nome do sucesso.

Muitos desses profissionais passaram décadas acreditando que o caminho para a estabilidade e o reconhecimento era trabalhar até a exaustão. Agora, veem que essa mentalidade tem um custo altíssimo.

A ironia é que são esses mesmos executivos que agora buscam alternativas para uma vida mais equilibrada. Muitos optam por consultorias, trabalhos autônomos ou posições menos exigentes em empresas que valorizam o bem-estar real e não apenas como um discurso bonito.

O que fica claro nesse movimento é que, diferentemente do que se imaginava, não são apenas os jovens da Geração Z que estão repensando o mundo corporativo. Os líderes mais experientes, que já viveram o pior do modelo tradicional, estão entre os que mais querem mudanças.

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E, se as empresas não se adaptarem a essa nova realidade, correm o sério risco de perder seus melhores talentos.

Conclusão

A pergunta que fica é: se até mesmo os cargos mais altos estão se tornando insustentáveis, o que isso diz sobre o futuro do trabalho?

Se os próprios líderes – aqueles que deveriam inspirar, guiar e sustentar as empresas – estão pedindo para sair, talvez seja hora de parar e reavaliar o que, de fato, está acontecendo dentro das organizações.

Os números já mostram a tendência. E os pedidos de demissão seguem confirmando.

*Valéria Oliveira é especialista em desenvolvimento de líderes e gestão da cultura

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