Em tempos atuais, uma boa notícia precisa ser anunciada aos quatro cantos, virar trend, ser enaltecida e comemorada. E a verdade é que pacientes e a comunidade médica conquistaram uma vitória única recentemente! O governo anunciou que fará a incorporação de uma tecnologia para tratar o AVC Isquêmico (AVCi), tipo mais frequente e que, com o recuo da pandemia de Covid-19, voltou a ser a principal causa de morte no país.
Minimamente invasiva, a Trombectomia Mecânica (TM) complementa a trombólise, única opção até então disponível na rede pública de saúde, e nem sempre eficiente para os casos mais graves do AVCi. Além de segura e eficaz, uma das grandes vantagens da TM é que pode ser utilizada até 24 horas após os primeiros sintomas com sucesso, enquanto outras formas de tratamentos têm uma janela restrita de indicação, de até 4,5 horas depois das manifestações iniciais da doença.
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Estamos falando de uma conquista de valor inquestionável para uma doença cujos sintomas nem sempre são notados em curto espaço de tempo, bem como existem atrasos na busca imediata pelo auxílio médico especializado. Sabe-se hoje que apenas 30% dos pacientes procuram as instituições de saúde no período de até oito horas após o início dos sintomas. Como a cada minuto que passa são 2 milhões de neurônios que morrem, imagine os estragos dessa falta de agilidade na vida do paciente?
A identificação dos sintomas do AVC depende também da atenção de terceiros, justamente porque nem sempre o paciente percebe o que está acontecendo. Entre os sinais, observamos:
- Perda da força
- Formigamento nos braços ou pernas, principalmente de um lado do corpo
- Assimetria facial
- Dificuldade de fala
- Dificuldade da visão
- Fortes dores de cabeça
- Confusão mental
O país conta com 88 centros especializados no tratamento do AVC habilitados pelo Ministério da Saúde, mas nem todos possuem a estrutura e a equipe necessárias para a realização da trombectomia mecânica. Por isso ela será introduzida aos poucos, começando pelos hospitais já preparados.
Aprovada em dezembro de 2021, mas ainda não disponibilizada pelo SUS, a Trombectomia Mecânica consiste na desobstrução da artéria cerebral por um cateter que leva um dispositivo endovascular (um stent ou um sistema de aspiração) que remove o coágulo da circulação cerebral.
O AVC ocorre quando há uma alteração na circulação sanguínea do cérebro. Ele pode ser isquêmico – quando um vaso sanguíneo no cérebro fica bloqueado devido a um coágulo ou trombo –, ou hemorrágico – quando a artéria se rompe e o sangue extravasa. O isquêmico é o tipo mais comum, correspondendo a 85% dos casos.
Durante a pandemia, muitos pacientes morreram por terem um AVC em casa. É um cenário devastador, que não precisa se repetir desde que tenhamos apoio de sociedade, médicos, associações de paciente, governo e centros de saúde.
Além de identificar os sintomas e tratar a doença, é necessário enfrentar o que leva ao AVC, como a hipertensão, a dislipidemia, o diabetes, o sedentarismo e a obesidade. Mudar o cenário do AVC está em nossas mãos. O caminho é estimular a educação da sociedade.
*Sheila Martins é médica neurologista, presidente eleita da World Stroke Organization (WSO), organização internacional que busca reduzir o impacto global do AVC, e da Rede Brasil AVC