No mês dedicado à causa, a Federação Mundial de Obesidade escolheu, como tema de sua nova campanha, a mensagem “Vamos falar sobre obesidade e…”, abrindo diversas frentes para refexão. Afnal, o excesso de peso repercute não apenas na esfera da saúde de cada um.
Para fcar em um robusto exemplo, recentemente uma análise estimou que os impactos econômicos diretos e indiretos da doença — sim, obesidade é uma doença crônica! — podem chegar a 3% do PIB nas próximas décadas. Isso é puxado pelo crescimento alarmante em sua incidência: se nada for feito, em 2035 41% dos brasileiros terão obesidade.
Números epidêmicos que abrem as portas para o aumento no risco de mais de 200 outras doenças — de problema no coração a câncer. Mesmo assim, a obesidade ainda é vista como mera consequência de “escolhas individuais erradas”.
Quem vive com ela sofre preconceito em casa, no trabalho, na escola e até nos consultórios. Uma pesquisa nacional revelou que 85% dessas pessoas já sofreram com a gordofobia. Quem está acima do peso deveria ser estimulado a buscar orientação e tratamento, só que até nessas horas esbarra em estigmas.
Não raro, qualquer medida além do “coma menos, exercite-se mais” — que tem baixos índices de sucesso isoladamente — é alvo de críticas. Assim, há discriminação por estar com excesso de peso e também por ir atrás de ajuda — um absurdo!
Nesse cenário, o número de pessoas que buscam ou mantêm tratamentos sérios, baseados em evidências científicas, é irrisório perto do montante que se trata por conta própria ou apela a abordagens não respaldadas.
Vemos críticas à cirurgia bariátrica por “ser um caminho fácil”. Uma ironia se pensarmos que é um tratamento bem estudado e que mostra redução de doenças e aumento na expectativa de vida, quando bem indicado.
A desinformação também reina quando falamos em medicamentos para obesidade. Embora alguns tenham sido proibidos no passado, hoje dispomos de novas opções seguras e com eficácia acima da média. Seu uso tropeça, porém, no custo mais elevado, pensando na realidade brasileira, e no uso sem receita médica, muitas vezes por pessoas que não têm indicação clínica, apenas “o desejo social de emagrecer”.
Aí a má utilização sabota um bom recurso. Para esclarecer a população, a Abeso e a Sbem publicaram um documento que reforça a importância de falarmos em “medicamentos para obesidade”, e não “remédio para emagrecer”. Afinal, esse é o objetivo: o que tem tudo a ver com melhorar a saúde e a qualidade de vida.
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Agora, tratamentos para obesidade não têm como meta reduzir a curva ascendente de obesidade no mundo. Para isso, são necessárias estratégias de prevenção. Parece básico, mas poucos percebem a grande diferença entre esses dois conceitos, o que culmina na reprodução de mensagens e conselhos sem fundamento.
Estamos diante de dois problemas de saúde pública: a obesidade e o preconceito contra a obesidade. E a solução para o primeiro passa inevitavelmente pelo combate ao segundo.