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Ozempic: os riscos de usar apenas para perder uns quilinhos

A semaglutida, princípio ativo desse medicamento, é indicada para diabetes tipo 2, obesidade e sobrepeso com doenças relacionadas. Fora isso, pode fazer mal

Por Ingrid Luisa
Atualizado em 12 fev 2024, 12h22 - Publicado em 12 fev 2024, 10h13

Imagine o quão tentador é, em meio a uma sociedade com alta pressão estética pela magreza, comprar um medicamento que promete driblar o ambiente obesogênico, o estresse, e tudo que atrapalha as dietas para enfim conseguir um corpo socialmente aceito? Pois tem gente prometendo, indevidamente, isso com base no Ozempic (semaglutida 1g).

A medicação é aprovada formalmente para o emagrecimento de pessoas com obesidade ou sobrepeso com doenças relacionadas, com foco na redução de risco de problemas de saúde. Ela não é voltada para quem deseja perder alguns poucos quilos, muito menos com um foco estético.

Só que houve uma banalização do uso desse fármaco. Nos Estados Unidos, o Ozempic é chamado de droga de Hollywood‘, e diversos artistas e pessoas públicas estão usando, como Elon Musk. O CEO da Tesla e dono do Twitter (atual X) afirmou ter perdido 13,6 quilos, e disse que o segredo era “Jejum + Ozempic/Wegovy + sem comida saborosa para mim”.

+Leia Também: O que é o Ozempic? Esse remédio para diabetes combate a obesidade?

A farmacéutica fabricante, Novo Nordisk, lucrou com a semaglutida a ponto de superar a tradicional LVMH, dona da Louis Vuitton, e hoje é a empresa mais valiosa da Europa. Juntos, Ozempic e Wegovy (que possui semaglutida 2,4g, versão mais forte voltada exclusivamente para perda de peso) correspondem a 43% da receita da Nordisk. E ela fez até o PIB da Dinamarca aumentar.

No entanto, o uso fora das indicações do Ozempic é potencialmente perigoso. Não há estudos de Ozempic com pessoas magras, ou seja, não se sabe ao certo as consequências desse uso.

Para entender melhor esse panorama, vamos voltar ao início.

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O que é o Ozempic

A semaglutida, o princípio ativo do Ozempic, foi originalmente desenvolvido pelo laboratório Novo Nordisk para tratar diabetes tipo 2. Ela é da classe dos agonistas de receptores do hormônio GLP-1.

Explicando melhor: nosso corpo fabrica naturalmente esse hormônio pelo intestino, em resposta à ingestão de comida. Isso para estimular o pâncreas a secretar insulina para que a glicose seja captada do sangue e vire energia nas células.

A sacada da indústria farmacêutica foi criar uma molécula que imita esse hormônio. E, assim, ele se tornou um dos medicamentos mais eficazes para controlar o diabetes tipo 2.

+Leia Também: Má alimentação pode responder por até 70% dos casos de diabetes tipo 2

E Ozempic emagrece?

Sim. A perda de peso existe porque o GLP-1 (e, por extensão, o remédio) retarda o esvaziamento do estômago e atua no sistema nervoso controlando a sensação de saciedade.

Só que a semaglutida dá um passo além. “Ela é 94% análoga ao hormônio natural, e esses 6% de diferença trazem uma vantagem: dura mais tempo no organismo”, explica o endocrinologista André Vianna, de Curitiba (PR). “Enquanto o GLP-1 fica cerca de um minuto e meio no sangue, a semaglutida é quebrada gradualmente e sua ação dura sete dias”, continua o especialista.

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Por isso ela requer apenas picadas semanais.

A semaglutida de fato é considerada uma revolução no tratamento da obesidade. Tanto por sua efetividade, quanto por não envolver dependência. Antes, anfetaminas eram usadas para tratar essa condição, mesmo contendo sérios risco de gerar um vício.

Agonistas de GLP-1 não causam isso, porque seu mecanismo não ativa o sistema de recompensa. Mas isso não significa que eles podem ser usados por todo mundo.

+Leia também: Obesidade: novos remédios, velhos dilemas

Ozempic, Saxenda, Wegovy ou Moujaro?

Além da semaglutida, que também conta com uma versão via oral, temos no Brasil outras duas medicações dessa classe de agonistas de GLP-1: a liraglutida (indicada para diabetes e perda de peso), vendida com o nome comercial Saxenda, também da Novo Nordisk, e a dulaglutida (prescrita apenas para diabetes tipo 2), de nome Trulicity, do laboratório Eli Lilly.

Confira os remédios para tratar a obesidade disponíveis no Brasil:

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remédios para a obesidade
(Foto: Bruno Marçal | Ícones: editoria de arte/Veja Saúde/SAÚDE é Vital)

O Wegovy, medicação com 2,4g de semaglutida (mais forte que o Ozempic) indicada apenas para perda de peso, já foi aprovada pela Anvisa e deve chegar este ano no Brasil.

Injetado com uma caneta no tecido subcutâneo, seu uso regular leva, segundo os estudos, à perda de 15 a 17% do peso corporal, um índice inédito para um fármaco.

Se o Ozempic já é caro para quem realmente precisa (1 000 reais), essa nova medicação deve vir com um preço ainda mais salgado: previsão de que custe quase 2 500 reais por caneta.

Outra medicação que desembarca por aqui este ano é a tirzepatida, sob o nome Moujaro, do laboratório Eli Lilly. Além do GLP-1, ela também simula a ação do GIP, outro hormônio relacionado a saciedade.

E promete ser ainda mais potente: estudos em pessoas com obesidade (mas sem diabetes) apontam para redução média de peso corporal de 23%, e um considerável percentual de indivíduos chegou a ter perdas superiores a 30%, algo comparável a uma cirurgia bariátrica.

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+Leia Também: Tudo sobre a tirzepatida, a nova promessa contra a obesidade

Lembrando que não existe melhor ou pior, apenas um médico consegue prescrever o remédio mais indicado para cada caso. E por si sós, essas são realmente evoluções positivas para o tratamento da obesidade.

A questão, de novo, é o risco de banalização e de uso indevido por quem quer perder pouco peso por questões estéticas. Teme-se que essa popularização indevida se espalhe entre todos esses remédios.

“Na maioria das vezes, essas medicações são prescritas para pessoas que precisam tomar por muitos anos, para tratar uma doença crônica. Assim foram feitos os estudos que conhecemos. Não dá para tomar temporariamente, muito menos para fins estéticos”, alerta Vianna.

A dosagem mais alta do Wegovy oferece ainda mais risco que o Ozempic, assim como a Tirzepatida. Por isso é crucial ter um acompanhamento periódico para tomar essas substâncias. O lado do benefício é maior, mas o do risco também”, afirma o endocrinologista.

Efeitos colaterais do Ozempic

Falando em riscos, existem contraindicações para o Ozempic.

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Muita gente comenta que se perde peso com essa medicação porque simplesmente não se consegue comer, e é verdade. Até porque ela pode causar náuseas, vômitos, dores estomacais fortes, diarreia, desconforto no abdômen (como azia e queimação), dor de cabeça, sonolência e constipação.

A pessoa pode sentir fraqueza indisposição. Com acompanhamento médico para uma pessoa que realmente precisa, o endocrinologista ajuda a driblar esses males. Mas quem não precisa por questões de saúde não deve tomar mesmo.

Além disso, pessoas com refluxo ou que costumam beber álcool regularmente precisam conversar com o médico.

+Leia Também: Da floresta à farmácia: a origem dos medicamentos

Outro ponto: tomar essa medicação não garante um corpo magro para sempre. Uma pesquisa publicada na revista científica Epic Research sugere que cerca de 20%, ou uma em cada cinco pessoas, recupera todo o peso (ou até mais) após parar com uso do remédio.

O índice não é ruim, porém reforça que não estamos falando de uma pílula mágica. Sem ajuste no estilo de vida, fica difícil manter o peso adequado no longo prazo.

Como barrar a banalização desse remédio?

A conscientização da população seria a forma mais eficaz. É preciso entender que o mais difícil não é perder peso, e, sim, manter o peso perdido.

Para quem não tem obesidade, a forma mais eficaz de conseguir isso é através de uma reeducação alimentar e da prática de exercícios físicos regulares.

+Leia também: O que é mais difícil fazer: dieta ou exercício?

Outra forma de tentar barrar essa popularização indevida seria cumprir a lei e exigir a retenção de receita nas famácias.

“O Ozempic é um remédio com tarja vermelha, só pode ser comercializado sob prescrição médica. Todos esses deveriam ter retenção de receita, mas, na prática, não é o que acontece com várias classes de remédios”, afirma Vianna.

“A Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) fez um ofício para a Anvisa pedindo que o Ozempic e outras medicações fossem vendidas apenas sob prescrição médica, com receita retida, mas até onde eu sei o órgão não se manifestou”, afirma o endocrinologista, que foi diretor da SBD.

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