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O que a gordofobia causa na saúde — e como enfrentá-la

Um documento apoiado por mais de 100 instituições mostra como a discriminação afeta as pessoas acima do peso

Por Maria Tereza Santos
Atualizado em 22 Maio 2020, 12h01 - Publicado em 4 mar 2020, 07h26

O periódico científico Nature Medicine publicou um consenso internacional pelo fim do estigma ligado ao excesso de peso. Ele foi assinado por mais de 100 instituições, incluindo uma do nosso país — a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM). Após uma extensa revisão de estudos, os 36 autores diretamente envolvidos com o artigo constataram que o preconceito compromete a saúde de pessoas acima do peso e dificulta o acesso a medicamentos e tratamentos. A gordofobia inclusive contribui para os altos índices de obesidade no planeta.

Os efeitos da gordofobia

Dados dessa revisão indicam que essa é uma prática constante no mundo. Entre adultos obesos, de 19 a 42% sofrem com a discriminação. As taxas são ainda mais altas entre as mulheres e aqueles com maior índice de massa corporal (IMC).

Isso se reflete principalmente no bem-estar mental. A gordofobia – saiba mais sobre o problema no nosso podcast — está associada a sintomas depressivos, altos índices de ansiedade, baixa autoestima, isolamento social, estresse, uso de drogas e compulsão alimentar.

Nas crianças, o efeito é potencialmente pior devido ao bullying. Comparado a adolescentes magros, os que têm excesso de peso são significativamente mais propensos a passar por isolamento social e a desenvolver transtornos mentais, principalmente ansiedade e depressão.

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Além disso, esses atos de intolerância estão ligados ao aumento da ingestão de comida, ao abandono de atividade física, a dietas não saudáveis e ao ganho de gordura ao longo do tempo. Não, insultar ou tirar sarro das pessoas acima do peso não vai ajudar no emagrecimento. Pelo contrário.

O que fazer para lutar contra esse problema

O documento publicado na Nature Medicine traz uma série de medidas para todas as esferas da sociedade, com o objetivo de acabar com o estigma e, assim, enfrentar a obesidade sem cair na gordofobia. Até porque também é inegável que o excesso de gordura corporal — principalmente a visceral, localizada no fundo da barriga — favorece doenças, de diabetes a câncer.

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Separamos as principais táticas apontadas pelo artigo abaixo:

1. Educar a população

A grande responsável pela discriminação é a falta de conhecimento. Diversas pesquisas já apontam que a obesidade é um problema multifatorial, e não resultado de preguiça e indisciplina.

Além da alimentação e atividade física, fatores como genética, sono, estresse, hormônios e uso de certos remédios influenciam na balança. Os produtores de alimentos e os legisladores também têm sua parcela de responsabilidade.

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Mídia, educadores, profissionais de saúde, universidades, escolas e governo devem informar a população sobre os perigos do peso elevado. Mas essas mensagens sempre precisam ser livres de preconceitos e coerentes com as evidências científicas modernas.

2. Melhorias na formação dos profissionais de saúde

Uma das razões pelas quais obesos não recebem terapias efetivas é o preconceito enraizado na formação dos próprios médicos.

Uma análise de 21 pesquisas examinou a percepção de pacientes acima do peso ao serem atendidos em consultas. Muitos reclamaram de um comportamento desdenhoso, condescendente e desrespeitoso por parte dos doutores. Já outros tiveram a impressão de que o médico deixava de examiná-los por completo, concentrando-se apenas na obesidade.

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As evidências analisadas pelos autores sugerem que especialistas gastam menos tempo com o pessoal acima do peso e dão mais orientações sobre como se cuidar no dia a dia aos mais magros. Por isso, as universidades devem incluir no currículo o ensino sobre as causas e os tratamentos da obesidade.

3. Mudança na infraestrutura dos consultórios e hospitais

De nada adianta ter um atendimento adequado se não há um olhar especial para a acessibilidade, pensando especialmente em quem possui obesidade grave.

Os espaços físicos (rampas, elevadores, cadeiras, macas…) de hospitais e instalações médicas devem ser projetados pensando nessa população.

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4. Incentivo à pesquisa

A obesidade é relacionada a graves problemas de saúde pública. Por isso, os estudos para buscar tratamentos e entender melhor as causas desse quadro precisa receber financiamento apropriado, proporcional à sua prevalência e ao impacto na sociedade.

Nesse tópico especificamente, os autores abordam a importância de também dedicar mais estudos ao diabetes tipo 2, muito vinculado ao excesso de peso.

5. Criação de leis antidiscriminação

Os governantes devem elaborar leis para eliminar as desigualdades sociais baseadas no peso. A ação do Estado é importante, porque a discriminação chega a esbarrar em aspectos socioeconômicos.

Exemplo: o documento mostra que indivíduos obesos trabalham mais horas que os funcionários magros, porém não há diferença em termos de remuneração. Isso quando conseguem um emprego, já que têm menor probabilidade de serem chamados para entrevistas. E se essa pessoa for do sexo feminino, a chance cai ainda mais.

Uma investigação feita com 119 669 britânicos revelou uma forte associação entre IMC alto e baixo status socioeconômico. Outro levantamento relatou que mulheres gordas correm maior risco de trabalhar em empregos que não pagam bem e a receber menos que mulheres magras e homens em geral.

Apesar de reforçar a importância de ações do governo, o documento não fala sobre a necessidade de melhorias em transporte, moradia e acesso a locais para prática de atividade física, algo que estudos anteriores já relataram serem medidas eficientes.

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