O preço da dor
Especialista esmiúça o impacto das dores crônicas no bolso dos cidadãos e do país
O número é expressivo: 30% da população mundial tem algum tipo de dor crônica segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Por dor crônica, entende-se aquela que persiste por um tempo razoável para uma cura possível ou, ainda, aquela associada a um problema de saúde que dure, de maneira contínua e recorrente, mais que três meses.
A mais comum de todas as dores crônicas é a cefaleia, a famosa dor de cabeça. Trata-se, na verdade, de uma dor de cabeça muito maior do que imaginamos, em vários sentidos.
Começamos por quem sofre com a dor, o paciente. Os problemas vão além do impacto na qualidade de vida em curto, médio e longo prazo. A conta com remédios, consultas e serviços hospitalares e ambulatoriais pode chegar a R$ 56 milhões por ano! Isso porque pessoas com dores crônicas usam, em média, 2,6 mais vezes os serviços médicos do que aquelas livres do transtorno.
Uma pesquisa desenvolvida pela Capesesp – Caixa de Previdência e Assistência dos Servidores da Fundação Nacional de Saúde, operadora de planos de saúde sem fins lucrativos filiada à Unidas (União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde), aponta que os pacientes com dor crônica geram uma despesa anual per capita de R$ 3.126,23 — mais que o dobro do indivíduo sem queixas de dor (R$ 1.241,57).
A dor crônica também tem impacto nas despesas referentes a reembolsos de medicamentos. No levantamento, pelo menos 36% dos remédios reembolsados eram produtos comumente utilizados para o alívio da dor. Desse total, 10,5% eram anti-inflamatórios não esteroides; 9% antiepilépticos; 7,3% analgésicos não opioides; 4,4% ansiolíticos; 3,8% antidepressivos; e 1% neurolépticos.
A principal queixa apontada pelos participantes da pesquisa foi a tão popular dor de cabeça, citada por 22 718 indivíduos (48,9%). Relatos de dor no peito foram mencionados por 7.396 beneficiários pesquisados (15,9%).
De acordo com a própria OMS, a dor crônica pesa na economia doméstica e nacional. Boa parte dos pacientes torna-se parcial ou totalmente incapacitado, de maneira transitória ou permanente, comprometendo a qualidade de vida e a renda familiar.
Dentre os fatores que contribuem para o crescimento na incidência da dor crônica, podemos destacar: o envelhecimento da população, a mudança de hábitos, a presença de doenças crônicas e o aumento da sobrevida por males antes fatais, em especial o câncer — quase a totalidade dos pacientes sente dor em alguma fase do tratamento.
Por isso, cabe a nós, gestores da saúde, encontrar caminhos para aliviar a dor. A dos pacientes e a dos custos gerados por esse problema tão frequente.
* João Paulo dos Reis Neto é médico, presidente da Capesesp e vice-presidente da Unidas – União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde