A violência contra a mulher ainda é um problema social e de saúde pública no Brasil. A Lei Maria da Penha, de 2006, descreve diversas formas de agressão que podem ser praticadas contra a mulher – entre elas está a violência psicológica, inserida no código desde 2021.
Trata-se de um abuso de difícil identificação, e que pode causar danos à vida das mulheres por um longo período. Por isso, neste Dia Mundial da Saúde Mental e Dia Nacional de Luta contra a Violência à Mulher, é importante ressaltar as múltiplas formas de violência psicológica e como identificá-las.
Uma das suas características é o curso gradual das agressões, que escalam à medida que o relacionamento acontece. A vítima interpreta comentários e provocações como sutis e, no decorrer da relação, as palavras ganham peso e mais emoção, transformando-se em poderosas armas de manipulação e controle. É nesse momento que a vítima ocupa um lugar de submissão.
Outra particularidade é que as ações violentas são comumente interpretadas como ciúmes, excesso de cuidado e temperamento forte – especialmente quando o relacionamento é amoroso, com potencial de gerar a dependência afetiva da vítima ao parceiro.
Por ser praticada, muitas vezes, de uma forma velada, a violência psicológica precisa ser compreendida para que possamos identificá-la. Ela inclui, por exemplo, atos de humilhação, desvalorização moral ou deboche público, bem como atitudes que abalam a autoestima da vítima.
O agressor psicológico tem um forte poder de manipulação, e a distorção de fatos ou o gaslighting é uma estratégia para deixar a vítima confusa sobre a realidade.
O abuso se popularizou recentemente nas redes sociais e consiste na deturpação de acontecimentos, conversas e memórias para implantar dúvidas na cabeça da vítima. Desse modo, ela passa a acreditar que a percepção dele está correta, desconsiderando os seus próprios julgamentos.
Para não ser agredida repetidas vezes, seja por manipulação ou xingamentos, a vítima cede às vontades do agressor e tenta criar uma convivência harmoniosa, mesmo que isso signifique sabotar a sua própria felicidade. Consequentemente, ela se anula e se isola de pessoas queridas, que são fundamentais na hora de buscar ajuda.
Outro impacto é a perda de motivação para atividades que antes eram prazerosas e recompensadoras, como o seu trabalho. É comum também que a vítima deixe de cuidar da saúde e da aparência e abandone planos. Assim, passa a viver isolada para “servir” o agressor.
Em longo prazo, essa violência pode causar diversos transtornos mentais severos, como ansiedade, síndrome do pânico, estresse pós-traumático e depressão. Como o estado emocional da vítima é fragilizado, a ponto de ela duvidar de seu próprio valor como pessoa, há muita dificuldade em deixar o relacionamento abusivo ou cortar relações com o agressor psicológico.
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Um fator importante para se reconhecer como vítima dessa violência é avaliar os sentimentos diante de falas “inocentes” vindas do potencial agressor. Na maior parte das vezes, é possível notar sentimentos intensos de vergonha, medo e tristeza.
As vítimas de agressões psicológicas devem procurar o apoio de amigos e familiares para conseguir deixar o relacionamento abusivo.
A orientação de um psicólogo também é extremamente útil para fortalecer a autoestima e, consequentemente, cortar laços com o agressor.
São maneiras de capacitar a vítima para reconhecer esses elementos sozinha, incentivando a reflexão sem julgamentos e acusações.
Camila Puertas é psicóloga, com especialização em Psicoterapia Clínica e Saúde Mental, mestre em Ciências e pós-graduanda em neurociências e comportamento. É membro associada da Sociedade NEUROVOX e da Interligas – Muzy University. Atua em consultório particular em São Paulo.