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Nem toda epilepsia é igual

Médica explica as principais manifestações dessa doença neurológica na infância

Por Dra. Letícia Sampaio, neurologista infantil*
Atualizado em 26 mar 2021, 12h52 - Publicado em 9 set 2020, 09h45

“Um dia, logo no início da noite, levantei para ir até a cozinha beber água e, ao passar em frente ao quarto do meu filho de 9 anos, escutei um barulho estranho e resolvi verificar. Eu o vi caído no chão, com movimentos descoordenados no corpo e na face, o olhar congelado e emitindo sons estranhos, sem responder quando eu o chamava. Entrei em pânico e comecei a gritar por ajuda. Para mim, naquele momento estava perdendo meu filho.

Logo ele se acalmou e ficou um tempo sem responder. Depois foi voltando aos poucos. Demorou para cair a ficha de que ele estava apresentando o que parecia ser uma crise epiléptica. Uma semana depois, aconteceu de novo, corri para o pronto-atendimento, mas a crise parou no caminho. Quase bati meu carro! Estou com medo que aconteça novamente e preciso saber o que ele tem!”

A maioria das pessoas não sabe o que é epilepsia. Falamos de uma doença que acomete o cérebro, levando a um desequilíbrio na transmissão entre os neurônios, que se traduz em crises de repetição. Essas crises nervosas ocorrem de diferentes formas e possuem diferentes causas. É como se estivéssemos diante de uma caixa de lápis de cor: cada criança tem uma causa diferente para a epilepsia.

As crises focais ocorrem quando a função elétrica cerebral anormal se manifesta em uma ou mais áreas de um lado do cérebro. Existem dois tipos de crises focais, sem alteração do estado de consciência e que geralmente duram menos de um minuto. Os sintomas dependem justamente da área do cérebro afetada. Se a função elétrica estiver desajustada no lobo occipital, por exemplo, a visão fica alterada.

Mas existem crises focais marcadas por perda ou alteração da consciência e que duram entre um e dois minutos. Elas podem cursar com uma variedade de comportamentos e reações nas crianças: engasgo, estalo dos lábios, gritos, choros, risadas… Quando a criança recupera a consciência, costuma reclamar de cansaço ou sonolência.

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Já as crises generalizadas envolvem disfunções em ambos os lados do cérebro e perda de consciência. Fazem parte desse grupo as crises de ausência, caracterizadas por uma breve perda de consciência. A criança mantém a postura e pode até movimentar a boca ou piscar, mas parece que está em outro lugar… A crise dura em torno de 30 segundos e ocorre várias vezes ao dia. Quando passa, a criança segue suas atividades como se nada tivesse acontecido.

Existem também as crises de queda: as atônicas, em que há uma perda do tônus muscular e a criança pode cair da posição em que está ou rebaixar repentinamente a cabeça; nas crises tônicas, por sua vez, há um aumento repentino do tônus muscular e a criança pode estender abruptamente braços ou pernas e também cair. Nem sempre é fácil diferenciá-las.

Também existe a crise tônico-clônica generalizada, mais conhecida como convulsão. Ela é caracterizada por três fases distintas na criança. Primeiro, o corpo, os braços e as pernas tendem a se estender, depois se contraem e tremem e, na sequência à crise, a criança pode ficar com sono, fadiga, alterações de visão ou fala e mesmo forte dor de cabeça ou pelo corpo.

Por fim, ainda temos as crises mioclônicas, marcadas por movimentos rápidos ou espasmos repentinos de um grupo de músculos, e os espasmos infantis, tipo de crise que ocorre no primeiro ano de vida. Há uma alta taxa de ocorrência dessa crise quando a criança está acordando ou tentando dormir. O bebê geralmente tem breves períodos de movimento no pescoço, tronco ou pernas, que duram alguns segundos e podem ocorrer centenas de vezes por dia. Trata-se de um problema sério, com complicações a longo prazo.

A detecção desses quadros é primordial para dar início a um acompanhamento e tratamento médico adequados. O tratamento para a epilepsia engloba inicialmente medicamentos que combatem as crises. Eles são definidos pelo especialista com base no tipo de crise, idade da criança, efeitos colaterais, adesão e acesso ao fármaco. Em alguns tipos de epilepsia na infância pode até não ser necessário um tratamento medicamentoso em função da baixa frequência das crises.

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Nas crianças cujas crises não estão bem controladas, ou que têm problemas com o uso das medicações, pode-se planejar uma dieta especial, a cetogênica, que é pobre em carboidratos, ajustada em proteínas e rica em gorduras. Ela ajuda a controlar a doença. O rol de tratamentos nessas circunstâncias inclui, ainda, o uso de canabidiol e um procedimento que estimula o nervo vago.

Em alguns casos específicos pode-se indicar uma cirurgia. Nesse procedimento complexo, que exige equipe altamente especializada, o cirurgião remove parte do cérebro onde as crises ocorrem ou interrompe a propagação dos sinais elétricos anormais ali. Essa opção exige uma avaliação detalhada a fim de determinar previamente se todas as convulsões partem de um local seguro para a remoção.

Como se vê, existem vários tipos e manifestações do problema. Ficar atento a sinais suspeitos e acompanhar o desenvolvimento da criança com o pediatra é essencial para flagrar e buscar o controle da epilepsia.

* Dra. Letícia Sampaio é neurologista infantil e presidente da Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil 

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