Estamos no período de conscientização sobre o mieloma múltiplo, o Março Borgonha. Essa campanha alerta para uma doença que pode ser caracterizada como um câncer hematológico que afeta as células de defesa dos pacientes.
Tudo começa com a transformação maligna de uma célula chamada plasmócito, que tem como função normal a produção de anticorpos no organismo. Só, que no mieloma, o plasmócito doente se multiplica e passa a produzir um anticorpo anormal, a proteína monoclonal.
O mieloma múltiplo representa 10% dos tumores hematológicos e 1% de todos os tipos de câncer diagnosticados entre a população brasileira. Os quadros costumam acometer pacientes com mais de 60 anos, mas podem também atingir pessoas mais novas.
De qualquer forma, vale ficar atento a possíveis sinais da doença sobretudo a partir dos 50 anos.
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O diagnóstico não é considerado simples, e pode necessitar a consulta com diferentes especialistas. A investigação deve acontecer a partir do surgimento das primeiras manifestações clínicas, como dores nas costas, fraqueza e infecções por repetição, além de fraturas frequentes.
Outros sintomas que podem aparecer são confusão mental, tontura, fraqueza e falta de ar. Insuficiência renal pode ocorrer em cerca de 20% dos pacientes e, caso o diagnóstico demore, pode haver necessidade de diálise.
Por serem sintomas que podem passar despercebidos por pacientes e médicos, ou confundidos com os de outras doenças, muitas vezes o mieloma demora a ser diagnosticado.
Com isso, o tratamento começa em estágio avançado, o que traz limitações. Daí a necessidade de nos esforçarmos para alertar a população e tentar fazer o diagnóstico preciso mais cedo.
O primeiro passo para a detecção da doença é solicitar e checar exames de sangue e urina para identificar proteínas alteradas por meio de uma técnica conhecida como eletroforese, o procedimento que permite separar as proteínas do plasma e identificar aquelas que são anormais e indicam o mieloma.
Nos últimos anos, felizmente, vivenciamos um grande avanço no tratamento. Hoje os pacientes contam com uma ampla variedade de medicamentos, que podem ser combinados ao longo da jornada terapêutica. A inovação se deve principalmente a novos fármacos que tratam diferentes formas do mieloma múltiplo.
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Os primeiros medicamentos para a doença foram lançados 20 anos atrás. E muita coisa vem mudando! Não há outro tipo de câncer com mais novas opções terapêuticas sendo desenvolvidas e aprovadas para uso nos últimos cinco anos, o que traz otimismo aos hematologistas e a seus pacientes.
Quando comecei a me especializar nessa doença, a única opção era a quimioterapia convencional, que tinha pouca eficácia, principalmente em diagnósticos mais avançados. Com isso, a sobrevida dos pacientes era muito limitada.
Hoje, os pacientes apresentam uma sobrevida longa, inclusive atingindo a cura funcional.
No entanto, apesar do cenário positivo, o acesso aos medicamentos inovadores ainda é uma barreira para grande parte da nossa população.
Nossa prioridade, neste momento, é diminuir a distância entre o acesso público e privado a esses avanços. Se conseguirmos isso, a qualidade de vida será uma realidade para um maior número de brasileiros com a doença.
* Angelo Maiolino é hematologista e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)