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Março borgonha: desafios e avanços diante do mieloma múltiplo

No mês de conscientização sobre a doença, especialista traz um olhar para sintomas, detecção precoce e ganhos no tratamento

Por Angelo Maiolino, hematologista*
19 mar 2023, 09h40
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  • Estamos no período de conscientização sobre o mieloma múltiplo, o Março Borgonha. Essa campanha alerta para uma doença que pode ser caracterizada como um câncer hematológico que afeta as células de defesa dos pacientes.

    Tudo começa com a transformação maligna de uma célula chamada plasmócito, que tem como função normal a produção de anticorpos no organismo. Só, que no mieloma, o plasmócito doente se multiplica e passa a produzir um anticorpo anormal, a proteína monoclonal.

    O mieloma múltiplo representa 10% dos tumores hematológicos e 1% de todos os tipos de câncer diagnosticados entre a população brasileira. Os quadros costumam acometer pacientes com mais de 60 anos, mas podem também atingir pessoas mais novas.

    De qualquer forma, vale ficar atento a possíveis sinais da doença sobretudo a partir dos 50 anos.

    + LEIA TAMBÉM: Novas fronteiras no cerco ao câncer

    O diagnóstico não é considerado simples, e pode necessitar a consulta com diferentes especialistas. A investigação deve acontecer a partir do surgimento das primeiras manifestações clínicas, como dores nas costas, fraqueza e infecções por repetição, além de fraturas frequentes.

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    Outros sintomas que podem aparecer são confusão mental, tontura, fraqueza e falta de ar. Insuficiência renal pode ocorrer em cerca de 20% dos pacientes e, caso o diagnóstico demore, pode haver necessidade de diálise.

    Por serem sintomas que podem passar despercebidos por pacientes e médicos, ou confundidos com os de outras doenças, muitas vezes o mieloma demora a ser diagnosticado.

    Com isso, o tratamento começa em estágio avançado, o que traz limitações. Daí a necessidade de nos esforçarmos para alertar a população e tentar fazer o diagnóstico preciso mais cedo.

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    O primeiro passo para a detecção da doença é solicitar e checar exames de sangue e urina para identificar proteínas alteradas por meio de uma técnica conhecida como eletroforese, o procedimento que permite separar as proteínas do plasma e identificar aquelas que são anormais e indicam o mieloma.

    Nos últimos anos, felizmente, vivenciamos um grande avanço no tratamento. Hoje os pacientes contam com uma ampla variedade de medicamentos, que podem ser combinados ao longo da jornada terapêutica. A inovação se deve principalmente a novos fármacos que tratam diferentes formas do mieloma múltiplo.

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    Os primeiros medicamentos para a doença foram lançados 20 anos atrás. E muita coisa vem mudando! Não há outro tipo de câncer com mais novas opções terapêuticas sendo desenvolvidas e aprovadas para uso nos últimos cinco anos, o que traz otimismo aos hematologistas e a seus pacientes.

    Quando comecei a me especializar nessa doença, a única opção era a quimioterapia convencional, que tinha pouca eficácia, principalmente em diagnósticos mais avançados. Com isso, a sobrevida dos pacientes era muito limitada.

    Hoje, os pacientes apresentam uma sobrevida longa, inclusive atingindo a cura funcional.

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    No entanto, apesar do cenário positivo, o acesso aos medicamentos inovadores ainda é uma barreira para grande parte da nossa população.

    Nossa prioridade, neste momento, é diminuir a distância entre o acesso público e privado a esses avanços. Se conseguirmos isso, a qualidade de vida será uma realidade para um maior número de brasileiros com a doença.

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    * Angelo Maiolino é hematologista e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) 

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