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Maconha na adolescência pode precipitar a esquizofrenia?

Médico alerta sobre a conexão entre o uso precoce da maconha e o maior risco desse quadro

Por Bruno Coêlho, psiquiatra*
Atualizado em 15 set 2022, 09h40 - Publicado em 24 Maio 2022, 08h46

A letra de uma música da banda Planet Hemp, um dos hinos em defesa da descriminalização da maconha no Brasil, inspirou a produção deste artigo. O refrão repete: “Uma erva natural não pode te prejudicar”. E indaguei: será que eles estariam certos?

O questionamento é pertinente dado que, nos últimos anos, vários países têm flexibilizado as regras e liberado o uso da maconha recreativa. Só ressaltando: não falamos aqui do uso medicinal da cannabis, que vem sendo explorada em estudos e recebendo todo o empenho de especialistas.

Proponho uma reflexão sobre o uso recreativo, e particularmente sobre a sua conexão com um transtorno psiquiátrico, a esquizofrenia.

+ LEIA TAMBÉM: É preciso entender a esquizofrenia para superar estigmas

A cannabis é a terceira substância psicoativa mais consumida no mundo. A primeira entre as substâncias ilícitas. E esse consumo não vem de hoje. Achados históricos mostram que ela é usada há milênios para diversos fins.

Sabe-se também que a maconha de hoje não é a mesma usada por nossos antepassados. Assim, surge outra pergunta: o “barato” ainda é o mesmo que o deles?

Com a seleção artificial, como ocorre em tantas lavouras (soja, milho etc.), os plantadores aprimoraram as técnicas de cultivo da cannabis e foram selecionando as “melhores” variedades, cruzando subtipos diferentes para criar híbridos e linhagens específicas, sempre buscando certos efeitos psíquicos.

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O resultado foi uma mudança nas características químicas da planta, que tem duas substâncias psicoativas principais: canabidiol (CBD) e THC. Por agirem de forma diferente nos receptores cerebrais, elas possuem ações antagônicas no cérebro.

O canabidiol é o princípio ativo da maconha mais estudado hoje pelos seus efeitos benéficos ao organismo, enquanto o THC é responsável pelos efeitos alucinógenos do baseado.

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A maconha de hoje em dia tem um índice muito maior de THC e um nível bem menor de canabidiol do que a erva do passado. Ela é, portanto, muito mais potente para dar “barato” do que as variedades ancestrais.

A conclusão, então, seria: se dá mais barato, é melhor, certo? Nada é de graça.

Um dos grupos que mais têm usado maconha são os adolescentes. Estatísticas apontam que aproximadamente um em cada cinco utilizou a erva considerando seu último mês.

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O problema é que a percepção de perigo dos adolescentes é baixa e, frequentemente, eles se envolvem em comportamentos de risco que podem trazer consequências sérias à sua saúde.

Fato é que o cérebro dos adolescentes não está completamente formado. Nessa fase, ocorrem diversos processos relacionados à maturação das funções cerebrais já adquiridas e ao desenvolvimento de novas funções. São as chamadas janelas de desenvolvimento.

+ LEIA TAMBÉM: Quando a busca pelo prazer gera mais sofrimento

Um cérebro ainda em formação é muito mais vulnerável a agressores externos que interferem nesses períodos críticos de maturação. E aqui voltamos à maconha. Estudos mostram que, em pessoas com predisposição, seu consumo está associado a manifestações e doenças psiquiátricas.

Quanto mais cedo se começa a usar, pior. E, quanto mais THC (leia-se: “mais barato”), maior o risco de problemas mentais. A mistura pode ser explosiva: num cérebro vulnerável, quanto mais maconha é utilizada (e maior seu teor de THC), maior a probabilidade de desregulação neuronal e de desenvolvimento de quadros como psicose.

São diversas as pesquisas que implicam o uso da maconha na adolescência com um risco muito maior de manifestação da esquizofrenia, um transtorno marcado por delírios e alucinações. A erva também pode amplificar a gravidade da doença.

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A moral da história é a seguinte: usar ou não maconha é uma escolha pessoal. Mas, para quem quer experimentar e não pretende colocar a saúde cerebral em risco, meu conselho é no mínimo deixar para provar bem depois do fim da adolescência.

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* Bruno Mendonça Coêlho é psiquiatra da infância e adolescência e doutor em ciências pela Faculdade de Medicina da USP

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