Lipodistrofia altera a distribuição de gordura e pode causar complicações
Especialista mostra como essa condição vai além da estética e detalha seus principais sinais e tratamentos
A lipodistrofia na verdade engloba um grupo de doenças ultrarraras caracterizado pela perda parcial ou generalizada da gordura corporal. E cabe destacar que o tecido adiposo é, além do principal local de armazenamento de energia, considerado um órgão vital de uma rede complexa que regula diversas funções biológicas.
A condição afeta aproximadamente uma a quatro pessoas por milhão no mundo e pode ocorrer ainda no início da vida – não há dados confiáveis no Brasil. No caso de recém-nascidos, às vezes causa morte prematura.
O principal sinal de lipodistrofia é a desigualdade da distribuição da gordura em diferentes áreas do corpo. Pode haver aumento, diminuição ou ausência da mesma.
A falta de gordura corporal, por sua vez, resulta na perda da produção de leptina, um hormônio que, entre outras funções, regula a fome, o metabolismo e os níveis de glicose no sangue.
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A enfermidade está associada a outras condições graves, como pancreatite, doença hepática, diabetes grave de início precoce e problemas cardiovasculares. É importante ficar atento aos sinais para que não ocorra o diagnóstico tardio, o que pode levar ao agravamento da doença e causar múltiplos danos aos órgãos.
Existem dois subgrupos da doença: a lipodistrofia generalizada (LG) e a parcial (LP). A LG é um distúrbio complexo caracterizado pela ausência generalizada de tecido adiposo subcutâneo e deficiência resultante no hormônio leptina. Isso provoca alterações metabólicas que incluem resistência à insulina, diabetes e hipertrigliceridemia, além de deposição de gordura no fígado, músculos e outros órgãos.
Já a LP é um grupo variável de síndromes, como a lipodistrofia parcial familiar, que tem maior probabilidade de apresentar músculos e veias proeminentes, sinais de resistência à insulina e hiperandrogenismo em mulheres.
Dentro desse grupo, outro exemplo é a lipodistrofia parcial adquirida, marcada pelo acúmulo de gordura nos quadris, nádegas e membros inferiores, além de complicações metabólicas leves e hipertrofia muscular.
O diagnóstico das diferentes lipodistrofias é realizado mediante um exame físico em que é observado o padrão de deposição da gordura corporal e exames complementares para identificar a causa. Nas formas hereditárias, o teste genético é um complemento importante para o diagnóstico assertivo.
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A lipodistrofia tem cura?
Não, mas existem tratamentos que podem ajudar a amenizar os danos físicos e emocionais causados pela doença. A opção por um ou outro depende do tipo da síndrome e da quantidade de gordura acumulada, entre outros fatores.
Um dos tratamentos é a reposição de leptina, realizada por via subcutânea. O tratamento, após iniciado, deve ser mantido por toda a vida. Em caso de suspeita da doença, é indispensável que o endocrinologista seja consultado.
*Renan Montenegro Júnior é especialista em Endocrinologia e Metabologia e professor associado da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará. Também é coordenador do Grupo Brasileiro para Estudos de Lipodistrofias Herdadas e Adquiridas (BRAZLIPO)