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Inclusão digital das pessoas idosas ainda é insuficiente, mas urgente

Na era da digitalização da saúde, os mais velhos não podem ficar de fora dos benefícios do uso da tecnologia

Por Meire Cachioni, gerontologista*
16 nov 2023, 10h11
A terceira idade não pode ficar de fora da ampliação do uso de tecnologias em saúde  (VEJA SAÚDE/SAÚDE é Vital)
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A ciência tem demonstrado os benefícios da inclusão digital de pessoas idosas na prevenção de possíveis doenças, como a depressão. Também por isso é urgente a criação de programas nesse sentido.

A revolução tecnológica, intensificada na pandemia, transformou drasticamente a vida de todos. Alterou não apenas as formas de produção, como o modo de comunicação e convívio social, que se tornaram cada vez mais digitais. Entretanto, o Brasil ainda não possui políticas públicas para incluir a população idosa, que vive à margem da era digital.

Muitos são os documentos que mencionam a importância de reverter esse quadro. Podemos citar dois. Primeiro, o Estatuto do Idoso, que prevê que “o Poder Público criará oportunidades de acesso do idoso à educação, adequando currículos, metodologias e material didático aos programas educacionais a ele destinados”.

Outro exemplo é a publicação Envelhecimento Ativo: um marco político em resposta à revolução da longevidade, que indica “a promoção da inclusão digital por meio do acesso à Internet e do treinamento como uma forma de facilitar a participação de pessoas que foram excluídas da vida cívica”.

O arcabouço legal e científico existe, mas a inclusão digital da pessoa idosa ainda se limita a pequenas ações pontuais, como oficinas em centros culturais ou espaços abertos para o público em geral.

Essas estratégias isoladas estão longe de garantir o direito ao acesso às tecnologias de informação e comunicação, uma vez que não se dedicam especificamente ao processo de ensino-aprendizagem voltado à pessoa idosa, e tampouco à alfabetização e letramento digital.

Oficinas do tipo costumam atuar na resolução de problemas ou em situações específicas para o interessado, sem a preocupação em explicar como solucioná-lo, mas fazendo por ele.

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O acesso à informação é uma das bases da democracia. Estar excluído digitalmente em pleno no século XXI é estar excluído da sociedade. Nesse contexto, torna-se imprescindível uma mudança e o governo sabe disso.

É fundamental que políticas sejam criadas e se adaptem às necessidades das pessoas idosas, com projetos que incluam a sociedade em geral.

+ Leia também: Seniortechs: as startups voltadas ao público 60+ pedem passagem

Exemplos de inclusão

Algumas iniciativas desempenham um papel importante nesse cenário, oferecendo capacitação, na tentativa de diminuir a lacuna digital. Em geral, elas são criadas a partir de parcerias entre instituições sem fins lucrativos, governo e empresas.

Em São Paulo, o Fundo Municipal do Idoso (FMDI) apoia projetos para assegurar os direitos da pessoa idosa, com recursos de empresas que podem ser deduzidos do Imposto de Renda.

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O FMDI tem financiado iniciativas de inclusão digital dos 60+, que necessitam de investimentos em equipamentos e em profissionais qualificados e aptos ao trabalho com alunos mais velhos, que entendam que o processo de ensino-aprendizagem nessa faixa etária é diferente.

Além disso, é necessário um ambiente adequado, iluminado, acessível, facilitador e amigável, de preferência, com oportunidades de convívio intergeracional.

A Casa Ondina Lobo, instituição sem fins lucrativos, se empenhou para atingir esses propósitos em seu projeto Comunicação em Movimento (aprovado pelo FMID e em fase de captação de recursos).

A instituição entende que atuar dentro do território do aluno, permite maior adesão e engajamento, e oferece capacitação para os profissionais interessados em trabalhar com o tema.

Com formato absolutamente inovador, o projeto inclui um ônibus itinerante, devidamente equipado, que será a sede de aulas de inclusão digital para pessoas 60+ em bairros de vulnerabilidade social da cidade de São Paulo.

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Também faz parte da iniciativa a formação de gestores de Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs), para que promovam esse mesmo aprendizado em suas instituições.

Para reforçar a importância de programas como esse, uma pesquisa da Federação Brasileira dos Bancos e do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) aponta que os aspectos que mais contribuíram com a inclusão digital dos mais velhos foram os cursos e treinamentos voltados para esse público.

É preciso expô-los a essa nova linguagem. A idade não é empecilho para o aprendizado.

As pessoas mais velhas, ou aquelas que não tiveram a oportunidade de aprender essa nova forma de viver, perdem a autonomia, deixam de participar e de sentirem-se pertencentes a essa era, podendo provocar inúmeros conflitos internos e externos, inclusive problemas de saúde.

+ Leia também: Idosos conectados: mais que inclusão, um direito

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Resultados positivos

São inúmeros os estudos dos resultados de programas do tipo na performance cognitiva de pessoas idosas, inclusive desenvolvidos pela USP – Universidade de São Paulo, que observam o uso da tecnologia e seus benefícios à vida psíquica, física e social das pessoas idosas, a partir das interações sociais, praticidade em tarefas e atividades cotidianas.

Esse tipo de iniciativa não beneficia apenas o aprendente, mas todo o seu entorno e contexto familiar. O letramento digital e a educação midiática promovem maior autonomia e independência, o que libera a família de muitos afazeres.

Outro aspecto importante também precisa ser observado. Conforme a Pesquisa Nacional Por Amostra em Domicílio (PNAD Contínua), quase 60% de pessoas idosas acessam a internet, um aumento de 12,7% de 2019 para 2021.

No entanto, ter acesso ou possuir um equipamento/dispositivo não significa ser letrado ou usar a tecnologia de modo crítico.

A evolução tem ocorrido em partes – tecnicamente existe mais oferta de acesso, porém vivemos em uma bolha tecnológica. As pessoas que navegam melhor no ambiente digital são ainda as mais estudadas e com melhor situação socioeconômica.

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Fora da bolha, mesmo aqui na cidade de São Paulo, nos territórios mais distantes do centro, encontramos pessoas idosas que não têm celular ou que não sabem utilizá-lo.

Chamado às empresas

Por todos esses motivos, é importante que empresas fiquem atentas aos melhores projetos do FMID. Até dezembro deste ano, quando acontece o período de direcionamento do Imposto de Renda para utilização em fundos públicos, elas poderão selecionar um desses projetos.

Investir em programas para pessoas idosas é uma necessidade crescente, e as empresas desempenham um papel importante para ajudar a atender a essa demanda social.

Dessa forma, as empresas demonstram um compromisso com a Responsabilidade Social, o que fortalece a sua imagem, mostra preocupação com questões sociais e com o bem-estar da comunidade, além de alavancar a sua marca junto aos consumidores, funcionários e investidores.

* Meire Cachioni é gerontologista, professora da Universidade de São Paulo (USP) e vice-coordenadora da Pós-Graduação em Gerontologia da USP.

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