Fibromialgia: doença invisível, dores reais
Médico esclarece o que está em jogo quando se fala nos sintomas, no diagnóstico e no tratamento dessa condição mais comum em mulheres
“O que os olhos não veem o coração não sente.” Esse ditado talvez até tenha feito sentido em algum momento, mas, com o conhecimento médico de hoje, definitivamente não faz mais.
Mesmo que a gente não consiga ver (até mesmo com exames), o corpo pode sofrer com algumas condições que abalam a saúde e o bem-estar.
Imagine, então, como deve ser difícil quando nosso sistema locomotor é afetado por algo, passamos a sentir dor com frequência e não encontramos nenhuma causa aparente.
É o que acontece com quem tem fibromialgia, uma síndrome ainda pouco compreendida que, além da dor crônica, é acompanhada de outros sintomas incapacitantes, como fadiga extrema, insônia e distúrbios de humor.
Segundo a Sociedade Brasileira de Estudo da Dor (Sbed), ela acomete 3% da população, com maior incidência entre mulheres de 25 a 50 anos. Não é pouca gente! E os reflexos do problema se estendem à vida pessoal e profissional.
Uma das principais queixas da fibromialgia são as dores difusas e generalizadas por todo o corpo sem um motivo aparente — ou seja, não há lesões ou alterações orgânicas identificadas por exames que as justifiquem.
Por tratar-se de uma doença aparentemente “invisível”, quem convive com ela tem, muitas vezes, suas queixas subestimadas por colegas, familiares e até profissionais de saúde, o que só agrava o sofrimento e o estigma e atrasa o diagnóstico correto.
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A origem da fibromialgia ainda é incerta à luz do que sabemos hoje. Porém, os estudos mais recentes apontam para uma disfunção no processamento dos estímulos dolorosos e sensitivos no cérebro. Essa “falha no sistema” ocorre principalmente nas chamadas vias inibitórias da dor, que comportam um mecanismo para limitar nossa percepção da dor.
Essas vias nervosas são mediadas por neurotransmissores como serotonina e noradrenalina e, nos pacientes com fibromialgia, parece haver uma diminuição na atividade dos neurônios envolvidos nessa função.
Atualmente, o diagnóstico da doença ocorre por exclusão, uma vez que outros quadros podem apresentar sintomas semelhantes. Não dá para tachar qualquer dor generalizada de fibromialgia, assim como não dá para excluir a possibilidade da síndrome dependendo da avaliação clínica e dos resultados de exames.
Uma apuração médica sensível e minuciosa é o que faz a diferença.
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Em relação ao tratamento, uma das principais indicações, embasada pelas evidências científicas, é algo que chega a parecer paradoxal: a prática regular de atividade física.
O exercício induz o corpo a liberar endorfina e outros neurotransmissores que controlam a dor.
Além disso, o tratamento pode incluir medicações, bloqueios analgésicos, infusão de anestésicos, fisioterapia e hidroterapia — a abordagem deve ser sempre individualizada.
Apesar de não haver cura para a fibromialgia, percebemos no dia a dia que o tratamento integral, o suporte psicológico e uma boa rede de apoio permitem às pessoas controlar a dor e a fadiga e recuperar a autoestima e a qualidade de vida.
* André Magalhães é médico anestesista com atuação em dor e membro da Associação Internacional para o Estudo da Dor