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Fibromialgia: doença invisível, dores reais

Médico esclarece o que está em jogo quando se fala nos sintomas, no diagnóstico e no tratamento dessa condição mais comum em mulheres

Por André Magalhães, médico anestesista e especialista em dor*
Atualizado em 25 abr 2023, 10h56 - Publicado em 22 mar 2023, 14h10
ilustração de mulher deitada com dores pelo corpo
Principal característica da fibromialgia são dores espalhadas pelo corpo. (Ilustração: Raphaela Siqueira/SAÚDE é Vital)
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“O que os olhos não veem o coração não sente.” Esse ditado talvez até tenha feito sentido em algum momento, mas, com o conhecimento médico de hoje, definitivamente não faz mais.

Mesmo que a gente não consiga ver (até mesmo com exames), o corpo pode sofrer com algumas condições que abalam a saúde e o bem-estar.

Imagine, então, como deve ser difícil quando nosso sistema locomotor é afetado por algo, passamos a sentir dor com frequência e não encontramos nenhuma causa aparente.

É o que acontece com quem tem fibromialgia, uma síndrome ainda pouco compreendida que, além da dor crônica, é acompanhada de outros sintomas incapacitantes, como fadiga extrema, insônia e distúrbios de humor.

Segundo a Sociedade Brasileira de Estudo da Dor (Sbed), ela acomete 3% da população, com maior incidência entre mulheres de 25 a 50 anos. Não é pouca gente! E os reflexos do problema se estendem à vida pessoal e profissional.

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Uma das principais queixas da fibromialgia são as dores difusas e generalizadas por todo o corpo sem um motivo aparente — ou seja, não há lesões ou alterações orgânicas identificadas por exames que as justifiquem.

Por tratar-se de uma doença aparentemente “invisível”, quem convive com ela tem, muitas vezes, suas queixas subestimadas por colegas, familiares e até profissionais de saúde, o que só agrava o sofrimento e o estigma e atrasa o diagnóstico correto.

+ LEIA TAMBÉM: Entenda como uma dor se torna crônica

A origem da fibromialgia ainda é incerta à luz do que sabemos hoje. Porém, os estudos mais recentes apontam para uma disfunção no processamento dos estímulos dolorosos e sensitivos no cérebro. Essa “falha no sistema” ocorre principalmente nas chamadas vias inibitórias da dor, que comportam um mecanismo para limitar nossa percepção da dor.

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Essas vias nervosas são mediadas por neurotransmissores como serotonina e noradrenalina e, nos pacientes com fibromialgia, parece haver uma diminuição na atividade dos neurônios envolvidos nessa função.

Atualmente, o diagnóstico da doença ocorre por exclusão, uma vez que outros quadros podem apresentar sintomas semelhantes. Não dá para tachar qualquer dor generalizada de fibromialgia, assim como não dá para excluir a possibilidade da síndrome dependendo da avaliação clínica e dos resultados de exames.

Uma apuração médica sensível e minuciosa é o que faz a diferença.

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Em relação ao tratamento, uma das principais indicações, embasada pelas evidências científicas, é algo que chega a parecer paradoxal: a prática regular de atividade física.

O exercício induz o corpo a liberar endorfina e outros neurotransmissores que controlam a dor.

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Além disso, o tratamento pode incluir medicações, bloqueios analgésicos, infusão de anestésicos, fisioterapia e hidroterapia — a abordagem deve ser sempre individualizada.

Apesar de não haver cura para a fibromialgia, percebemos no dia a dia que o tratamento integral, o suporte psicológico e uma boa rede de apoio permitem às pessoas controlar a dor e a fadiga e recuperar a autoestima e a qualidade de vida.

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* André Magalhães é médico anestesista com atuação em dor e membro da Associação Internacional para o Estudo da Dor

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