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É hora de estudar a fundo nosso olfato

Capaz de impactar o comportamento, as emoções e o bem-estar, esse sentido se torna objeto de pesquisas mais aprofundadas com a pandemia

Por Gustavo Dieamant, diretor-executivo de P&D do Grupo Boticário*
Atualizado em 24 dez 2021, 10h08 - Publicado em 24 dez 2021, 10h08
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  • Como seria um mundo sem cheiro? É difícil de imaginar. Não somente pelo seu desempenho fisiológico, mas também por seu caráter afetivo. É por meio do olfato que nos conectamos a outras pessoas, nos alimentamos com prazer e até mesmo mostramos traços da nossa personalidade quando, por exemplo, escolhemos uma fragrância que transmite um gosto pessoal. O cheiro constrói memórias e resgata emoções.

    O olfato tem um papel relevante na qualidade de vida, e isso ficou ainda mais claro para aqueles que se viram de repente em um “mundo sem cheiros” depois de contrair a Covid-19. Segundo pesquisa publicada este ano no Journal of Internal Medicine, a anosmia acomete 86% das pessoas com casos leves da doença.

    Não há como negar que a pandemia de coronavírus afetou a todos e, a essa altura do campeonato, com o avanço da vacinação e a diminuição do número de contágios, temos refletido quanto o olfato é um sentido importante.

    Como diretor-executivo de Pesquisa e Desenvolvimento do Boticário, empresa que tem o olfato em sua essência, me vi ainda mais intrigado com o impacto dos cheiros em nossas vidas. E foi nesse contexto que decidimos criar o Centro de Pesquisa do Olfato (CPO), resultado da expansão do Núcleo de Inteligência Olfativa, que há muitos anos atua na inovação e na criação dos nossos produtos.

    + Leia também: Por que podemos perder o olfato?

    A iniciativa nasce com o intuito de estudar e entender profundamente a capacidade humana de sentir cheiros, correlacionando a importância desse sentido com o bem-estar e o comportamento das pessoas. O CPO reúne neurocientistas, médicos, especialistas em comportamento humano e experts em perfumaria e vai atuar em quatro pilares que se interseccionam.

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    Primeiro, as ciências das emoções, que investigam como relacionamos os sentidos e ativamos memórias por meio do olfato.

    Segundo, a diversidade sensorial, cuja premissa é entender as diferentes percepções do olfato de acordo com a nossa variedade populacional, isto é, como gerações, etnias e pessoas com deficiências auditiva e visual interpretam os cheiros − o que também promove a inclusão.

    Terceiro, o futuro do olfato, que busca o aperfeiçoamento científico como forma de desvendar esse sentido em todas as suas camadas, mesmo as intangíveis. E o quarto é a disseminação do conhecimento, visando liderar e apoiar outras instituições em pesquisas e democratizar os conhecimentos obtidos para a sociedade.

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    Por meio desse centro, poderemos estudar o olfato para além das funções fisiológicas, levando em conta vieses de comportamento, conexões com a memória e as emoções e impactos sociais. E conhecer melhor as disfunções olfativas e tornar mais acessível seu entendimento entre quem precisa de amparo e informação a respeito.

    Dessa forma, a ideia é concretizar mudanças que vão além dos nossos produtos, incentivando a ciência e ampliando a conscientização da população.

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    Neste momento, já estamos desenvolvendo um treinamento olfativo para pessoas com deficiência visual com o intuito de inseri-las no mercado de trabalho por meio de uma habilitação para atuar na área de avaliação sensorial do Grupo Boticário. O CPO nasce, portanto, com a missão de apoiar pesquisas e contribuir com o bem-estar do brasileiro.

    Nosso grande objetivo é exaltar elementos tão importantes para a formação daquilo que nos faz humanos, como o cheiro da pessoa amada, da comida da avó, da fragrância favorita… De tudo aquilo que entra pelo nariz e se sente com o coração.

    * Gustavo Dieamant é doutor em Neuroimunoendocrinologia Cutânea e diretor-executivo de P&D do Grupo Boticário 

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