Uma doença que causava dor e inchaço crônicos em várias juntas, especialmente nas mãos, foi descrita no século XIX por médicos franceses e ingleses e já batizada como artrite reumatoide.
O nome foi dado porque se acreditava que a inflamação das articulações era causada pelo acúmulo de fluidos densos (do grego rheuma). Apesar da denominação se manter a mesma até os dias atuais, o diagnóstico e o tratamento da doença evoluíram admiravelmente.
Em 1947, com a descoberta dos glicocorticoides, dava-se um passo inicial importante no tratamento ao aliviar os sintomas. Posteriormente, os estudos sobre os mecanismos autoimunes que perpetuam a inflamação nas juntas levaram a utilização de medicamentos com efeitos imunossupressores e anti-inflamatórios para o controle da doença.
Assim, medicamentos como metotrexate, sulfassalazina e leflunomide foram incorporados no arsenal terapêutico da artrite, permanecendo até hoje como terapias convencionais efetivas.
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A era dos tratamentos biológicos
No final dos anos 90, surgiram os tratamentos biológicos, que vieram mudar paradigmas no tratamento das artrites autoimunes. Esses agentes são anticorpos reproduzidos em laboratório, que se direcionam a neutralizar as células ou moléculas envolvidas na inflamação, como as citocinas inflamatórias.
Esse raciocínio é eficaz contra a artrite reumatoide e em outras doenças autoimunes, como as espondiloartrites, psoríase e doença de Chron.
Por serem materiais biológicos, a via de utilização destes remédios é endovenosa ou subcutânea, uma vez que via oral os anticorpos são neutralizados pelas enzimas do tubo digestivo.
Os primeiros medicamentos biológicos a serem liberados para uso na artrite reumatoide foram o infliximabe, etanercept e adalimumabe que são direcionados contra o fator de necrose tumoral (TNF), uma potente molécula que causa inflamação. Do mesmo grupo, foram lançados o golimumabe e o certolizumabe.
Na sequência, outros agentes biológicos comprovaram eficácia e segurança como o rituximabe (contra células B), abatacept (inibidor da estimulação de células T) e o tocilizumabe (contra a citocina inflamatória interleucina 6).
O advento da terapia biológica marcou o início de uma nova era no tratamento da artrite reumatoide, proporcionando melhora expressiva dos sintomas, controle da progressão da doença e com bom perfil de segurança. Nos dias atuais, esses agentes permanecem em todos os guias internacionais para o tratamento da artrite reumatoide e outras artrites auto-imunes como as espondiloartrites.
Inibidores das Janus quinases
Há cerca de uma década, mais uma classe de medicamentos foi aprovada para o uso em pacientes com artrite reumatoide. Tratam-se dos inibidores das Janus quinases (JAK), uma família de enzimas que controlam a sinalização dentro das células para a produção de inflamação.
São medicamentos usados via oral, que atingem um alvo específico do processo inflamatório, com eficácia e segurança comprovadas. Os inibidores da JAK aprovados para uso no Brasil são o tofacitinibe, upadacitinibe e baricitinibe.
Vale a pena ressaltar que, apesar do potente efeito positivo das terapias biológicas e dos inibidores da JAK, o tratamento não medicamentoso é fundamental nas artrites. Ele inclui reabilitação, exercícios físicos, mudança dos hábitos de vida (evitar fumar) e alimentação saudável.
Essas intervenções têm comprovação robusta da melhora dos sintomas, da capacidade funcional e até no controle da inflamação em indivíduos com artrite reumatoide.
A principal perspectiva para o futuro no tratamento da artrite reumatoide e outras doenças auto-imunes é a medicina de precisão. Por meio da avaliação de banco de dados (big data) com as características gerais e genéticas populacionais, pretende-se traçar tratamentos que sejam individualizados mais precisos para cada pessoa levando a um controle mais completo e eficaz da doença.
*Fábio Jennings é reumatologista, coordenador da Comissão de Mídias da Sociedade Paulista de Reumatologia (SPR) e supervisor da Residência em Reumatologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)