Depressão na adolescência: precisamos falar mais sobre ela
Tédio constante, dificuldade de concentração, raiva de si próprio e perda de prazer nas atividades usuais são sinais de que o jovem precisa de ajuda
A adolescência é um período de crise que leva ao crescimento, uma fase cheia de questionamentos, mudanças, emoções intensas, conquistas e dificuldades.
O cérebro só termina de se formar aos 21 anos e, até lá, ele colabora para que o jovem seja mais impulsivo, busque mais prazer imediato e não pense muito sobre as consequências das suas escolhas. Cada adolescente vai passar por essa etapa do seu jeito.
Segundo o relatório The State of the World’s Children 2021, do Unicef, 22% dos adolescentes brasileiros entrevistados recentemente disseram que, muitas vezes, se sentem deprimidos ou têm pouco interesse em fazer coisas.
Esse é um alerta, pois a depressão, além de sabotar a qualidade de vida, é um dos fatores que contribuem para o suicídio, que é atualmente a quarta causa de morte na faixa de 15 a 29 anos no Brasil, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Infelizmente, vemos um aumento da depressão entre jovens. De acordo com a própria OMS, hoje ela é a nona maior causa de doença e incapacidade entre adolescentes. Só que de 10% a 20% deles não são diagnosticados nem tratados da forma adequada e pelo tempo necessário.
Adolescentes com depressão podem se sentir sozinhos e terem muitas dúvidas. Não sabem se vão ser levados a sério, se realmente necessitam de suporte, se estão doentes, se devem e como podem falar sobre isso…
O que vai definir se eles precisam de ajuda especializada é o impacto no dia a dia e a intensidade e a duração dos sintomas (por pelo menos duas semanas).
A pandemia veio para desafiar a saúde mental de jovens e aqueles que já estavam vulneráveis ou que possuíam algum transtorno mental foram ainda mais abalados.
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Entre os fatores de risco para a depressão nessa fase da vida, destaco: falta de compreensão do meio social; discriminação; carência de apoio; baixa autoestima; situações de violência e abuso (incluindo o cyberbullying); dificuldades de relacionamento e pertencimento ao grupo; uso de álcool e outras drogas; histórico familiar de transtornos mentais; e disfunções hormonais.
O tabu, o preconceito, o medo da necessidade de remédios (ou mesmo terapia) e a crença de que tudo não passa de algo normal naquela idade só impedem o jovem de buscar a ajuda de que precisa.
Por isso, temos que falar sobre depressão na adolescência e requalificar a conversa sobre saúde mental, construindo uma comunidade mais empática e acolhedora para todos, como propõe o Movimento Falar Inspira Vida, do qual faço parte desde 2020.
* Karen Scavacini é psicóloga, psicoterapeuta, doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela USP e CEO do Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio