A saúde mental da gestante não apenas é importante para seu próprio bem-estar, mas para o crescimento saudável do bebê.
Durante a gravidez, as mulheres passam por um período de grande vulnerabilidade devido às transformações biofisiológicas, emocionais e sociais que podem influenciar significativamente em seu estado psicológico. Esses fatores, se não forem adequadamente tratados, podem ter repercussões significativas no recém-nascido e em seu desenvolvimento ao longo da vida.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada cinco mulheres passa por algum problema de saúde mental durante a gravidez ou no ano seguinte ao nascimento do bebê. Os casos mais comuns envolvem ansiedade, depressão, transtorno de estresse pós-traumático, psicose pós-parto, transtorno de pânico e fobias.
Entre eles, a depressão continua a ocupar a primeira posição entre os transtornos mais diagnosticados e é duas vezes mais comum em mulheres do que em homens. De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), entre 10% e 15% das mulheres nos países industrializados e 20% e 40% das mulheres nos países em desenvolvimento têm depressão durante a gravidez ou no período pós-parto.
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O peso da expectativa
Da gestação ao nascimento, a mulher cria várias expectativas em relação ao bebê e o papel que assumirá. Isso pode resultar em um processo de super idealização da maternidade, de tal forma que pode transformar esse momento em um período estressante e propenso a crises, sobretudo quando ocorrem complicações ao longo da gravidez.
A depressão pode ser um indicador de sentimentos ambivalentes em relação ao feto, à gestação e ao próprio corpo, fragilizando o vínculo entre a mãe e o bebê. Ainda de acordo com a literatura, o desânimo e os sentimentos de desesperança e desinteresse típicos dos quadros depressivos tendem a inibir, de modo geral, comportamentos e emoções que contribuem para a formação do vínculo.
Portanto, embora ainda pouco valorizado, o acompanhamento psicológico pode ser considerado um pilar fundamental no período pré-natal e no puerpério. Programas e grupos de apoio psicológico e terapia são extremamente benéficos para aquelas gestantes que podem estar em sofrimento neste processo de tornar-se mãe.
Além disso, educar as gestantes sobre a importância da saúde mental e fornecer informações sobre como lidar com o estresse e a ansiedade podem ser vitais para garantir uma gestação saudável.
Os efeitos do bem-estar
Quando a gestante está emocionalmente bem, ela tende a cuidar melhor de si mesma, adotando hábitos saudáveis, como alimentação equilibrada, exercício físico moderado e acompanhamento médico regular. Essas práticas contribuem para o bem-estar físico da mulher e também para o ambiente intrauterino, onde o bebê se desenvolve.
A redução dos níveis de estresse e ansiedade da mãe contribui para diminuir a produção de hormônios, como o cortisol, que podem atravessar a placenta e impactar o desenvolvimento fetal.
Outro ponto positivo é a redução do risco de transtornos psicológicos pós-parto, como a depressão pós-parto, que pode prejudicar a ligação mãe-bebê e afetar o desenvolvimento cognitivo e emocional da criança. Ao cuidar da cabeça na gravidez, há uma melhor preparação emocional para enfrentar os desafios trazidos pela chegada do filho.
Clique aqui para entrar em nosso canal no WhatsAppA rede de apoio e sua importância para a saúde mental
As mães que recebem apoio psicológico e constroem uma rede de suporte social e emocional antes do nascimento são mais propensas a experimentar uma transição mais suave para a maternidade, fortalecendo sua confiança e capacidade de cuidar do recém-nascido.
O envolvimento do parceiro, da família e de amigos pode fazer grande diferença na experiência da gestante. Criar um ambiente positivo e acolhedor, onde a mãe se sinta segura para expressar suas emoções, é essencial.
Encorajar as gestantes e familiares sobre a importância da saúde mental e fornecer informações sobre como lidar com a tensão, dissipando tabus e promovendo uma cultura de cuidado e apoio podem contribuir para uma gestação saudável.
Vínculos fortes e saudáveis
Durante a gravidez, a mulher tem a oportunidade de começar a estabelecer uma conexão emocional com o bebê. Essa relação precoce é mantida por pensamentos positivos, expectativas felizes e a visualização de um futuro saudável para o filho. Tal vínculo ajuda a reconhecer melhor as necessidades do bebê após o nascimento, bem como facilita as práticas de cuidado e promoção do desenvolvimento saudável.
Além disso, a capacidade de se conectar influencia na capacidade do bebê de desenvolver relações sociais ao longo da vida. Da mesma forma, o suporte adequado durante a gravidez e puerpério contribui para a construção de uma família mais harmoniosa e resiliente.
O bem-estar materno facilita a comunicação e a cooperação dentro do lar, promovendo um ambiente seguro e amoroso para o bebê. Ainda, mães emocionalmente saudáveis são mais propensas a se engajar em redes de apoio comunitário, compartilhando experiências e aprendizados que beneficiam outras famílias.
Por fim, reconhecer e cuidar da saúde mental das gestantes é um investimento no futuro. Bebês que nascem de mães bem assistidas têm uma probabilidade maior de desenvolver habilidades sociais e emocionais sólidas, o que contribui para seu sucesso educacional e profissional ao longo da vida.
A promoção da saúde mental desde o início da vida pode quebrar ciclos de vulnerabilidade e criar uma sociedade mais resiliente e saudável.
*Eduardo A. Amaro, psicólogo e coordenador do núcleo de Saúde Mental do Grupo Santa Joana