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Como romper relações abusivas?

Psicólogo ensina a identificar sinais de um vínculo tóxico e dá dicas para encerrá-lo

Por Marcos Torati, psicólogo*
8 mar 2025, 07h00
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Pode ser difícil perceber que se está em um relacionamento abusivo (J Studios/Getty Images)
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Relacionamentos amorosos podem ser um ambiente de crescimento pessoal e emocional. Porém, há situações em que vínculos se tornam fontes de sofrimento, manipulação e dependência emocional.

Dois exemplos marcantes de relações prejudiciais são os relacionamentos abusivos e os vínculos tantalizadores. Embora compartilhem dinâmicas de poder e controle, esses dois contextos possuem diferenças importantes.

De acordo com um levantamento realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, uma em cada três mulheres no Brasil já passou por alguma violência dentro de um relacionamento, o que torna ainda mais importante saber identificar que algo não vai bem e poder buscar ajuda.

Em um relacionamento tóxico, há uma dinâmica de dominação e submissão, permeada por sentimentos como medo, culpa, rejeição e abandono. São caracterizados por uma contínua luta por poder e controle, alternando entre papéis de dominador e dominado.

Nessa dinâmica, o abuso costuma ser simultaneamente infligido e tolerado, justificado e normalizado. As posições podem se interrelacionar e se alternar, dependendo das reações do abusador e da vítima.

+Leia também: Quando a paixão vira doença

Como reconhecer um relacionamento abusivo

Nesses vínculos, o abusador exerce um ciclo de abuso definido por fases de tensão, explosão e, posteriormente, reconciliação.

O ciclo repetitivo de violência, tensão, reconciliação e “lua de mel” mantém a vítima presa, iludida em um padrão de esperança e decepção constantes.

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Quando sente o risco da perda, o abusador faz promessas e pedidos de perdão para reconquistar a vítima, não porque deseja amadurecer e se entregar a vulnerabilidade da situação amorosa, mas para perpetuar a situação de controle e poder. Essa alternância entre humilhação, reparação e promessas de mudança cria um estado de constante confusão emocional e aprisionamento psicológico para o subjugado.

O abusador mutila o espaço psíquico do outro para subsidiar o seu próprio valor narcísico. Para tanto, ele pode sabotar, humilhar, isolar, agredir, culpabilizar, criticar, manipular e demonstrar ciúmes excessivo e construir narrativas falsas para impedir a independência e o empoderamento do outro.

No início, na fase da paixão, as críticas podem ser sutis, disfarçadas de brincadeiras, intensificando-se ao longo do tempo. O controle se manifesta também na esfera sexual, com foco exclusivo no próprio prazer do abusador.

Um relacionamento como esse pode instaurar ou reforçar danos emocionais na vítima, como baixa autoestima, insegurança, perda de autoconfiança, autoimagem distorcida, ansiedade, crises de pânico, sensação de culpa e confusão, e dificuldade de tomar decisões independentes.

Além disso, o indivíduo pode se identificar com o abusador e internalizar as suas críticas, tendo a própria mente sequestrada por ele. A vítima pode começar a observar seus próprios atos, gestos, desejos, vestimentas e até pensamentos com “olhos do parceiro”.

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Quando é dominada por uma ansiedade persecutória, ela perde a própria personalidade e a espontaneidade, passa a estabelecer uma hipervigilância sobre si mesma para não desabonar ou provocar brigas e mal-estar no parceiro, isentando o mesmo de mudar.

+Leia também: Violência doméstica contra a mulher: um problema de saúde pública

Vínculos tantalizadores: o amor que nunca acontece

O termo “tantalizador” tem origem no mito de Tântalo, figura mitológica grega que foi submetida a sofrer eternamente por jamais alcançar os objetos que estão à sua disposição). Portanto, o vínculo tantalizador se ancora na ideia de dar e tirar, de prometer e frustrar a promessa de amor paradisíaco.

A vítima acredita na possibilidade de concretização de algo desejado, mas nunca obtém o compromisso ou reciprocidade que espera.

A sensação é que esse amor vai acontecer em alguma hora, que aquele objeto sedutor está ali disponível e, em seguida, ele desaparece ou problematiza a relação, instaurando uma angústia, um enigma a ser resolvido.

Nesses cenários, se encaixam o ghosting — ato de encerrar abruptamente um relacionamento ou comunicação com alguém, sem qualquer explicação ou aviso —, as mudanças de comportamento, os maus tratos, e até quando o indivíduo é deixado “em espera’ pelo outro. Toda essa incompletude alimenta a ideia de que o amor vai chegar, mas ele é regularmente sabotado de modo inconsciente.

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O parceiro tantalizador apresenta comportamentos que geram expectativa e, ao mesmo tempo, frustração.

Eles dão sinais de atenção e afeto apenas para excitar o desejo no outro a investir nele. O outro é amado apenas para trazer asseguramento narcísico. Uma vez, que este objetivo é realizado, não nutrem a relação, desprezam e recuam, criando confusão no outro.

A vítima mantém-se presa ao ideal de amor, acreditando que “se tentar mais” ou “se mudar algo em si mesma” e “no outro”, o parceiro atenderá suas expectativas.

A espera constante e a perpetuação da desilusão levam a vítima a uma estagnação no conflito pela constante produção de fantasias, impedindo-a de tomar ações para sair da situação.

+Leia também: Uma vida de fúria: o que a escalada da violência diz sobre a sociedade?

Como romper esses ciclos?

Seja em relações abusivas ou tantalizadoras, a dificuldade de sair do vínculo é comum. Fatores como dependência emocional, baixa autoestima e um senso de culpa internalizado retardam o processo de ruptura. Reconhecer o problema é o primeiro passo, mas nem sempre significa uma ação imediata, às vezes até pela segurança da pessoa.

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O foco do terapeuta deve estar na reconstrução da autoestima e no fortalecimento da identidade da vítima, não no término em si. Ele deve ajudar o paciente a perceber seu valor como indivíduo fora da relação abusiva.

Na terapia ou na análise, é importante enfrentar sentimentos como angústia e depressão de maneira saudável, contribuindo para que a vítima elabore processos de luto e reconheça suas próprias necessidades.

Esse processo muitas vezes envolve entender que o parceiro abusivo é um reflexo das próprias inseguranças pessoais. O abuso frequentemente decorre do medo do abandono e da vulnerabilidade do abusador. Suas ações visam esconder esses medos, e controlar a vítima para evitar a rejeição e manter uma sensação de poder.

Esse medo da vulnerabilidade se manifesta também em uma incapacidade de reconhecer a dependência na relação.

É necessário que a responsabilidade do abusador pelo que fez seja reconhecida. No entanto, há o risco do terapeuta se identificar excessivamente com a vítima e demonizar o parceiro, o que pode pressioná-la a sair da relação sem estar emocionalmente preparada, causando maior prejuízo.

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A terapia não deve focar apenas no relacionamento, mas na compreensão das razões mais profundas que mantêm o paciente nessa posição.

Ao concentrar-se exclusivamente no relacionamento, pode-se desviar do objetivo principal, que é ajudar o paciente a se reconectar com sua história e reconstruir aspectos internos relevantes. Isso alivia a sensação de impotência e a pressão do paciente para atender expectativas externas (inclusive do analista), permitindo um progresso mais sólido e sustentável na terapia.

Para ajudar pessoas em relações abusivas, é importante oferecer um espaço seguro para que reconheçam o impacto do comportamento do parceiro, fortaleçam a autoestima, incentivando o autoconhecimento e o resgate do amor-próprio. Isso promove o empoderamento para decisões e permite a elaboração do luto pelo ideal projetado sobre a relação.

*Por Marcos Torati, psicólogo, professor e Mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP

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