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Câncer anal: quem corre mais risco e como se prevenir

Doença se aproveita do preconceito e do desconhecimento para avançar no país. Conheça os sinais e as medidas que ajudam a evitar e flagrar o problema

Por Fernanda Elias Rabelo, coloproctologista*
Atualizado em 8 dez 2020, 14h58 - Publicado em 5 dez 2020, 19h06
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Dor anal é um dos possíveis sintomas da doença e pede avaliação médica.  (Ilustração: VEJA SAÚDE/SAÚDE é Vital)
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Talvez por preconceito, ou mesmo desinformação, o câncer anal ainda é um tipo de tumor pouco conhecido da população em geral. Entretanto, nos últimos 25 anos, sua incidência aumentou cerca de 50% em todo o mundo. No Brasil, infelizmente não temos informações exclusivas sobre esse tipo de tumor. As estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca), por exemplo, unificam os casos de câncer de cólon, reto e ânus.

Sabe-se que, em geral, o câncer anal é mais prevalente em pessoas entre 50 e 60 anos, sobretudo mulheres. Mas existem alguns grupos particularmente suscetíveis à doença, como os infectados pelo HIV do sexo masculino e homens que fazem sexo com homens sem proteção. Recentemente, realizamos um estudo no Brasil para rastrear lesões e câncer anal em homens com HIV/Aids que confirmou essa premissa.

A explicação para um maior risco entre soropositivos masculinos e homens que fazem sexo com outros homens sem preservativo gira em torno do vírus HPV. Ele tem relação com o desenvolvimento do câncer no ânus. Ali, o vírus pode encontrar um ambiente favorável e levar a alterações na mucosa que recobre o interior do canal, e estas podem evoluir para um tumor.

Outro estudo, este feito nos Estados Unidos, aponta que a incidência de câncer anal no país é de 1,8 em cada 100 mil habitantes. O número de casos é 30 vezes maior em infectados pelo HIV em comparação com a população em geral e 80 vezes superior em homens infectados pelo HIV que fazem sexo com outros homens. Esse mesmo trabalho revela que há 137 casos de câncer anal em cada 100 mil homens infectados pelo HIV que fazem sexo com outros homens.

E a prevenção?

Infelizmente, sabemos que o preservativo não protege totalmente contra a transmissão pelo HPV, pois o vírus pode estar em regiões como bolsa escrotal e períneo, que ficam descobertas. Por isso, a recomendação é que pessoas com HIV, homens que têm relação sexual com homens, imunossuprimidos e indivíduos que já tiveram lesões na região pelo HPV realizem periodicamente a anuscopia de alta resolução.

Esse exame permite avaliar a região perianal, ânus, canal anal e a porção distal do reto, sendo possível detectar lesões que podem dar origem ao câncer anal ou mesmo um tumor em estágio inicial, com maiores chances de cura. A frequência do exame vai depender dos achados iniciais.

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Para o adulto que não tem HPV, a vacinação contra esse vírus é uma estratégia acertada. Mesmo em quem já apresentou as lesões características da infecção (como verrugas), o imunizante ajuda a evitar novas ocorrências. A vacinação também é indicada para pessoas entre 9 e 26 anos que vivem com HIV/Aids (desde que não apresentem imunossupressão grave) com o objetivo de prevenção primária do câncer de ânus, pênis, vulva e outras doenças associadas ao HPV.

No decorrer da pesquisa que conduzimos, percebemos que ainda há muito preconceito entre os entrevistados para a realização da anuscopia e pouco conhecimento a respeito do rastreamento e da prevenção do câncer anal.

O problema entre as mulheres

Quando focamos no sexo feminino, além da infecção pelo HPV e pelo HIV e da prática de sexo anal sem proteção, são considerados fatores de risco para o câncer anal: histórico de infecções sexualmente transmissíveis; ter mais de dez parceiros sexuais; ter apresentado câncer cervical, vulvar ou vaginal; imunossupressão após transplante de órgãos; uso prolongado de medicamentos corticosteroides; e tabagismo.

Apesar de ainda não haver um consenso para o fato de a incidência em geral ser maior em mulheres, dois pontos se mostram importantes aqui. O primeiro é a maior susceptibilidade da mulher em ter infecção pelo HPV. A outra hipótese seria o maior autocuidado que a mulher tem em comparação aos homens.

Entretanto, o diagnóstico é mais tardio nas mulheres, que são menos submetidas à anuscopia anal. Talvez por um fator cultural, pois muitas vezes elas não informam o médico sobre a prática do sexo anal.

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Os sintomas, a detecção e o tratamento

É preciso ficar de olho em alguns indicativos do câncer anal, como coceira e dor na região anal, nódulos no ânus e alteração persistente no diâmetro das fezes. Como alguns desses sintomas são comuns a outras doenças menos graves, caso de hemorroidas, fissuras e fístulas, é primordial consultar um coloproctologista. Com o apoio de alguns exames, ele poderá fazer o diagnóstico correto.

O tratamento da condição dependerá do caso e do estágio da detecção. Ele inclui cirurgia, radioterapia, quimioterapia ou uma combinação dessas opções.

Num cenário em que o câncer pode ser totalmente evitado, devemos nos empenhar para vencer as dificuldades impostas pelo preconceito, pelo desconhecimento e pela vergonha de realizar procedimentos e de se expor a um profissional de saúde. A formação de uma cultura preventiva, que valorize o autocuidado e a propagação do conhecimento e da educação em saúde, é a melhor estratégia para a erradicação dessa doença.

* Fernanda Elias Rabelo é membro titular da Sociedade Brasileira de Coloproctologia e professora da Universidade Federal de São João del-Rei, em Minas Gerais

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