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A medicina entre homens e robôs

Especialista discute como a robótica vem revolucionando a cirurgia e as promessas e limitações à vista

Por Carlos Eduardo Domene, cirurgião*
28 jul 2022, 09h39
ilustração de robô sendo controlado por cirurgiã
Cirurgia robótica para câncer de próstata e endometriose é cada vez mais presente no dia a dia dos hospitais.  (Ilustração: Bárbara Dantas/SAÚDE é Vital)
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No mundo atual, já há quem defenda que as máquinas estão se tornando capazes de ter consciência de sua própria existência, além de sentimentos e emoções. E não é tão difícil deparar com pessoas que apostam que os robôs vão substituir até mesmo os mais habilidosos cirurgiões.

Quem sabe? Isso é tema para um futuro provavelmente distante. Por ora, o que temos na medicina são incríveis avanços na área da robótica, permitindo que cirurgias assistidas por plataformas ultratecnológicas promovam incisões menores, com maior precisão e eficácia, e melhores desfechos para o paciente.

Para quem é operado, os benefícios comprovados incluem redução de dor, risco de infecção e outras complicações após o procedimento. Do lado de quem opera, podemos realizar cirurgias com maior destreza, manipular tecidos com delicadeza, dar pontos mais precisos e lidar com menos sangramentos.

Em suma, com a devida indicação e o treinamento dos profissionais, tudo fica mais seguro. Na Rede D’Or São Luiz, onde temos o maior parque robótico do país, já contamos com 20 robôs de três fabricantes diferentes, cada qual com suas particularidades e finalidades. Com a ajuda deles, operamos a boca, o tórax, o coração, o abdômen, os ossos e as articulações etc.

+ LEIA TAMBÉM: O uso da inteligência artificial na medicina 

A principal aplicação hoje tem sido no tratamento do câncer de próstata. A prostatectomia robótica se tornou o padrão ouro nesse tipo de intervenção e reduz sensivelmente efeitos colaterais da cirurgia, como impotência e incontinência urinária.

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Outra aplicação que se torna frequente é a técnica robótica voltada a mulheres com endometriose. Desde 2015, quando foi criado o Programa de Cirurgia Robótica da Rede, tocado em parceria com o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), contabilizamos mais de 17 mil procedimentos e cerca de 550 cirurgiões treinados.

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Ainda encaramos limitações de acesso a essa tecnologia. Ela não possui cobertura pelos planos de saúde e, no sistema público, há pouquíssimas plataformas robóticas em uso — apenas no Rio de Janeiro, em São Paulo e Porto Alegre. Os custos com a manutenção são altos e podem ter um impacto significativo no orçamento das instituições.

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Mas como será o amanhã? O futuro está nas mãos (ou melhor, nas pinças) dos robôs? O termo “robô” foi criado pelo tcheco Josef Capek em 1920 e empregado pela primeira vez por seu irmão, o escritor Karel Capek, na peça teatral Robôs Universais de Rossum.

Em 1942, o escritor russo radicado nos EUA Isaac Asimov assimilou a ideia e desenvolveu o conceito de “robótica” e suas famosas “três leis”:

1) um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que ele sofra algum mal;
2) um robô deve obedecer às ordens dadas por humanos, a menos que elas entrem em conflito com a primeira lei;
3) um robô deve proteger sua própria existência, desde que tal proteção não se choque com a primeira e a segunda leis.

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Não chegamos a ponto de ter que lançar mão dessas regras para defender a humanidade. Pelo contrário, na medicina, pelo menos, o convívio deve continuar pacífico e bem-vindo por muito tempo. Sobretudo a quem é de carne e osso.

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* Carlos Eduardo Domene é cirurgião e coordenador médico do Programa de Cirurgia Robótica da Rede D’Or São Luiz (SP)

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