Boa parte dos homens já incorporou a ideia de fazer anualmente os exames para rastreamento do câncer de próstata a partir dos 45 anos: o toque retal e um exame de sangue chamado PSA. E, para homens com histórico familiar ou afrodescendentes, essa rotina se inicia aos 40 anos.
Essa é a recomendação formal da Sociedade Brasileira de Urologia.
A premissa é simples: como os sintomas de câncer de próstata são basicamente inexistentes nas suas fases iniciais, a única possibilidade de diagnóstico precoce é flagrar a doença nos exames de rotina.
Nessa fase inicial, as chances de cura do câncer de próstata superam 90%, enquanto um tumor avançado com metástases, ainda que possa ser controlado, não é mais considerado curável.
Porém, uma nota técnica do Ministério da Saúde cita outras evidências e recomenda que o rastreamento não seja feito.
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De fato, existe um debate aberto na literatura médica. Sabe-se que muitas vezes o câncer de próstata é uma doença pouco agressiva, e frequentemente não é a causa de morte de pacientes acometidos.
Para ter ideia, enquanto mais de 70 mil homens recebem esse diagnóstico por ano no Brasil, as mortes causadas por ele ficam ao redor de 15 mil por ano.
Além disso, dois estudos grandes compararam pacientes que faziam e que não faziam os exames de rastreio e chegaram à conclusão de que fazer os exames de rotina não reduzia significativamente o risco de morrer pela doença em 10 anos. Com base nessas pesquisas, em 2013, a força tarefa de serviços preventivos nos Estados Unidos recomendou que o rastreamento deixasse de ser realizado.
Porém, os anos passaram e novas evidências se acumularam. Por um lado, falhas metodológicas desses dois estudos ficaram evidentes. Por outro, atualizações dos trabalhos revelaram que, passados os 10 anos iniciais, a mortalidade a longo prazo era menor entre os homens que fizeram rastreamento.
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E mais. Após a suspensão do rastreamento nos Estados Unidos, a incidência de câncer de próstata com metástases (ou seja, espalhado pelo corpo, sem possibilidade de cura) aumentou significativamente naquele país.
Diante dessas evidências, a própria força-tarefa estadunidense revisou sua posição em 2018, e hoje recomenda que o rastreio seja discutido individualmente com cada paciente, explicando os riscos e benefícios. Ou seja, a nota do Ministério da Saúde está em linha com posicionamentos internacionais de um passado recente, mas não com o que há de mais atual.
É verdade que alguns tumores pouco agressivos acabam sendo tratados sem necessidade. Mas atualmente, temos critérios objetivos para poder propor uma vigilância de tais tumores, evitando cirurgias e outras intervenções. E esses critérios vão se aperfeiçoando a cada ano.
Outro aspecto relevante é que os tratamentos atuais, por exemplo com cirurgia robótica, oferecem resultados com muito menos efeitos colaterais do que as cirurgias do passado.
Uma visão ponderada sobre assunto é entender que existem riscos e benefícios para cada posição. No caso de não se fazer o rastreamento, corre-se o risco de morrer por um câncer cujos efeitos poderiam ter sido evitados. No caso de se fazer o rastreamento, corre-se o risco de realizar uma cirurgia que poderia ter sido desnecessária.
É justo que cada paciente seja informado desses riscos e benefícios e tome uma decisão que atenda seus anseios.