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Câncer de próstata: com vigilância ativa, dá para ficar anos sem intervir

Conduta reduz risco de disfunção erétil naqueles com mais de 60 anos, idade sugerida para seguimento da terapia

Por Alexandre Raith, da Agência Einstein*
7 ago 2021, 17h43
vigilância ativa no câncer de próstata
Estudo aponta que vigilância ativa no câncer de próstata pode suspender tratamento por dez anos (Ilustração: André Moscatelli/SAÚDE é Vital)
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Dois estudos apresentados no congresso da Associação Europeia de Urologia mostram que certos homens com mais de 60 anos com câncer de próstata de baixo risco podem passar dez anos sem nenhum tratamento ativo, com baixíssima probabilidade de morrer por conta da doença.

Além disso, ao contrário do que ocorre em outros tratamentos para câncer de próstata, como radioterapia ou cirurgia, os pacientes sofrem menos com efeitos colaterais, como incontinência e disfunção erétil.

O benefício é possível graças à vigilância ativa — quando a doença é monitorada de perto, mas não tratada.

Rodolfo Borges dos Reis, diretor do departamento de uro-oncologia da SBU (Sociedade Brasileira de Urologia), afirma que a vigilância ativa é a modalidade com menor impacto negativo na qualidade de vida de quem tem a doença.

Ele conta que estudos têm demonstrado vantagens da vigilância ativa em relação à incontinência urinária, disfunção sexual e distúrbios intestinais, quando comparada à prostatectomia radical ou à radioterapia.

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“Todos esses dados sedimentam o conceito que postergar o tratamento ativo para pacientes portadores de tumores prostáticos de baixo risco pode preservar a qualidade de vida. Cabe ressaltar que pacientes com menos de 60 anos ao diagnóstico não devem ser submetidos à vigilância ativa, devido à elevada expectativa de vida”, diz. Nesses casos, há elevado risco de a doença progredir para estágios mais agressivos.

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Reis conta ainda que o impacto funcional das diferentes modalidades de tratamento não pode ser negligenciado e deve ser informado aos pacientes no momento da tomada da decisão terapêutica.

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Entre as desvantagens da vigilância ativa, segundo ele, está a necessidade de realização de diversas biópsias prostáticas e exames de ressonância magnética durante o acompanhamento do paciente.

Um dos estudos apresentados no congresso europeu foi realizado por pesquisadores suecos, que analisaram o Registro Nacional de Câncer de Próstata daquele país, no qual constam dados de 23 649 homens diagnosticados com a doença e que foram submetidos à vigilância ativa.

A outra pesquisa, realizada por cientistas holandeses, examinou a função sexual de aproximadamente 3 mil homens com diagnóstico de câncer de próstata, em 24 países europeus. Entre os que estavam sob vigilância ativa, 45% relataram problemas de ereção, enquanto o índice dos que seguem outros tratamentos ficou entre 70% e 90%.

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Já no Brasil, diz o diretor da SBU, a aplicação da vigilância ativa é limitada devido à estrutura do programa de saúde. “No sistema público, que responde pelos cuidados de mais de 70% da população brasileira, o acesso para a realização do rastreamento, biópsia e exames de imagem nem sempre se dá no tempo necessário”, diz Reis. “Além disso, a aderência a protocolos de tratamento e seguimento de doenças crônicas é baixa.”

Para ele, outra dificuldade está relacionada à eficácia do tratamento, que depende da motivação e segurança por parte dos doentes. “No sistema de saúde suplementar, o maior entrave está na necessidade de profissionais de saúde explicarem detalhadamente para os pacientes todas as opções terapêuticas, com seus riscos e benefícios.”

Vale ainda notar que a vigilância ativa é uma proposta de acompanhamento possível somente quando a doença é diagnosticada em um estágio inicial.

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*Esse texto foi publicado originalmente na Agência Einstein.

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