Doenças que vêm com a idade: mitos e verdades
Enfermidades associadas ao envelhecimento existem, mas há mudanças orgânicas absolutamente normais que muita gente acha que é doença
A mulher de sessenta e poucos anos nem sempre consegue lembrar o nome do filme ou da atriz e está convencida de que são os primeiros sinais de Alzheimer.
O senhor da faixa dos setenta anos indaga-se se tem alguma doença porque antes fazia a maratona em 4 horas e agora leva 15 minutos a mais.
Geriatra do Einstein, o Dr. Fabio Nasri me conta que histórias como essas são comuns em seu consultório. Para esses pacientes, ele repete a mesma explicação: o envelhecimento envolve uma série de mudanças orgânicas que são fisiológicas e normais.
Certa perda de memória de curto prazo não indica um quadro de demência, nem o prejuízo na performance do corredor sugere alguma enfermidade.
Também costumam atormentar alguns idosos a perda de cabelo mais intensa, a queda do desempenho sexual e os vincos e rugas na pele que se acentuam.
Implante capilar, medicamentos para impotência, botox e preenchimentos ajudam a enfrentar essas situações e melhorar a autoestima.
Nada disso, porém, brecará o processo de envelhecimento e as mudanças que ocorrem no organismo. Isso porque as células já não se dividem como antes, trazendo consequências das quais podemos não gostar — e às vezes temos dificuldade de aceitar — mas que não são doenças. São normais.
+ Leia também: Velhos, sim; Doentes, não! A nova cara e os desafios da velhice
As doenças reais
Excluídos esses inconvenientes, existem as doenças reais, cuja incidência aumenta com a idade.
Entre elas estão o diabetes, cuja prevalência na população brasileira em geral é de 8% e de 17% nas pessoas com mais de 75 anos, e a hipertensão arterial, com taxas de cerca de 12% e 50% na mesma comparação.
Sem cuidados adequados, essas condições crônicas e outros problemas, como obesidade e colesterol alto, podem levar a problemas circulatórios e evoluir para um infarto ou AVC.
A dica é simples: seguir as orientações do médico à risca para evitar complicações.
Entre as recomendações, certamente estão a prática regular de atividade física, que ajuda a enfrentar as questões do sistema metabólico e vascular e também as relacionadas à mobilidade e flexibilidade.
Mas nada de se concentrar em uma única modalidade. Aquele habituado à musculação ou o exímio corredor pode ter dificuldade para amarrar o sapato se não fizer alongamento.
E a dedicada praticante de yoga que não faz um exercício aeróbico pode não ter pique para subir alguns lances de escada. Assim, é importante realizar atividades aeróbicas e de força (como musculação), além do alongamento.
Demências: dá para diminuir o risco
À medida que a idade avança, cresce um mesmo temor entre as pessoas: a possibilidade de demência.
No entanto, segundo estudo publicado na revista The Lancet, podemos intervir em 40% dos fatores de risco e assim prevenir ou pelo menos retardar os distúrbios demenciais.
Isso vai desde o receituário da vida saudável – atividade física, não fumar, evitar consumo de álcool, combater a obesidade e controlar o diabetes e a hipertensão – até a importância de nos estimular intelectualmente, diversificar hábitos e nos desafiar para desenvolver outras habilidades (aprender um novo idioma ou a tocar um instrumento, por exemplo).
+ Leia também: 10 fatores que pesam na prevenção da demência
Na avaliação do Dr. Nasri um aspecto muito interessante desse estudo é que ele aponta que 8% das causas evitáveis de demência estão na esfera da capacidade auditiva.
Nós nos ‘alimentamos’ dos estímulos dia a dia, inclusive do diálogo com as pessoas, do que assistimos na TV e das interações sociais.
Com o declínio auditivo, os indivíduos começam a se isolar e deixam de participar até das atividades mais corriqueiras porque sabem que não conseguirão entender o que os outros estão falando.
Assim, perdem o diálogo, a interação social e as trocas que nos enriquecem e estimulam a mente. Se começar a não escutar bem, é bom colocar logo um aparelho auditivo.
Câncer
Os tumores também aumentam de incidência com o envelhecimento. Aqui vale igualmente o receituário da vida saudável – atividade física, dieta equilibrada, não fumar etc.
Mas é importante ainda a rotina de check-ups, consultas com exame físico acurado e testes de rastreamento – como mamografia, colonoscopia, endoscopia, ultrassonografia e outros, de acordo com o sexo, fatores de risco e quadro clínico.
Muitos tipos de câncer são curáveis quando diagnosticados na fase inicial.
Em relação às doenças oncológicas, vale ainda destacar algo que os brasileiros e brasileiras nem sempre lembram: OK ir aos dermatologistas para fins estéticos, mas é preciso procurá-los também para avaliação oncológica.
O câncer de pele – fortemente associado ao efeito cumulativo da exposição aos raios solares – é o mais incidente em nosso país.
Envelhecer é um processo inevitável, assim como as mudanças fisiológicas trazidas por ele e o risco aumentado para algumas doenças. Mas há uma série de atitudes a evitar e cuidados que podemos tomar para envelhecer bem.
Esquecer os mitos e explorar as verdades é a melhor forma de cultivar a saúde em todas as idades.