Fora o impacto na qualidade e na expectativa de vida das pessoas, o câncer atinge todas as classes sociais e afeta fortemente a economia. Avançamos no tratamento, mas pouco evoluímos na prevenção e no cuidado com os sobreviventes.
Cientistas da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (Iarc), baseados em Lyon, na França, estimam um aumento de 100% de novos casos por ano no mundo entre 2020 e 2070 – de 17 milhões para 34 milhões ao ano. Quanto menor o índice de desenvolvimento humano do país, mais graves tendem a ser os casos.
Atribuímos essa tendência ao envelhecimento das populações e aos já conhecidos fatores de risco, como obesidade, sedentarismo, dieta desequilibrada, fumo, álcool, excesso de sol, infecções etc. Devo ressaltar que a adoção de hábitos saudáveis e a vacinação podem evitar até 40% dessa tragédia.
Nossa população envelhece em alta velocidade: levamos só 21 anos para elevar de 7 para 14% o percentual de pessoas acima de 65 anos no Brasil. A obesidade cresce na mesma potência. Em contrapartida, a vacinação para o HPV, ligado a tumores como os de colo de útero, e o rastreamento de diversos tipos de câncer não avançam.
Esse é o cenário que fará o Brasil provavelmente mais do que dobrar a incidência atual de 625 mil casos por ano até 2070. O câncer colorretal é o exemplo mais dramático. Associado ao excesso de peso, à alimentação não balanceada e ao sedentarismo, deve se expandir 200%.
Há muita desigualdade entre as cinco regiões do país quanto aos tipos e ao estadiamento dos tumores diagnosticados. As ações, portanto, precisam ser personalizadas.
Informação, políticas públicas e protocolos adaptados a cada região, assim como a capacitação técnica dos profissionais e o foco em tecnologias custo-efetivas de rastreamento e tratamento, salvariam muitas vidas se somados ao planejamento e aos recursos do Estado e das empresas privadas.
Essas vidas salvas, se reabilitadas física e mentalmente, continuariam produtivas para a sociedade, em vez de reduzir a massa de trabalhadores ativos.
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O câncer mata todos os anos mais do que a pandemia de Covid-19. A economia brasileira perdeu 4,6 bilhões de dólares em 2012 como efeito direto das mortes precoces pelo câncer. Mas o que vem pela frente pode inviabilizar o sistema de saúde e a previdência social. Como na Covid-19, precisamos nos unir para gerenciar esse desafio.
Pelo bem da nossa sociedade, é fundamental definirmos onde e como investir tempo e recursos: prevenção, detecção precoce, tratamento custo-efetivo e reabilitação dos sobreviventes. E identificarmos as áreas carentes de infraestrutura e profissionais a fim de melhorar a assistência e evitar redundâncias injustificadas pelos dados epidemiológicos.
Está em nossas mãos criar um novo ecossistema público-privado e estabelecer uma agenda responsável pelo antes, o durante e o depois do câncer. O tempo urge, e conhecimento não nos falta. Os pacientes e a sociedade como um todo agradecem. Nossa consciência e atitude podem evitar a tragédia anunciada.