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Qual é o papel dos probióticos no combate ao coronavírus?

Há uma linha de comunicação entre o intestino e os pulmões que pode estar envolvida na Covid-19. Médico esclarece esse eixo e como probióticos interferem aí

Por Ricardo Barbuti, gastroenterologista*
8 Maio 2021, 18h37
foto de cápsulas amarelas
Dezenas de pesquisas pelo mundo avaliam ação de suplementos probióticos contra a Covid-19. (Foto: Deborah Maxx/SAÚDE é Vital)
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Causada pelo vírus Sars-CoV-2, a Covid-19 se notabilizou por estar por trás da síndrome da angústia respiratória do adulto, um quadro grave que demanda cuidados médicos intensivos. Embora o nome do problema sugira apenas acometimento pulmonar, o organismo inteiro pode ser afetado pela doença, inclusive o trato gastrointestinal.

Aos olhos da ciência, o sistema digestivo deixou de ser visto apenas como um mero conjunto de órgãos que processam alimentos. Cada vez mais ele é compreendido como um sistema essencial ao equilíbrio do corpo e ao controle e tratamento de diversas doenças, inclusive a Covid-19.

A infecção pelo coronavírus, como muitas outras, acaba interferindo no equilíbrio da nossa microbiota — a comunidade de vírus, bactérias e fungos que habitam nosso organismo, especialmente o tubo digestivo. A consequência disso é um estado que chamamos de disbiose. Ele modifica o ambiente do nosso intestino, tornando-o mais poroso e facilitando a passagem de substâncias produzidas pelos agentes infecciosos para as camadas mais profundas da parede intestinal, o que atrai nossas células de defesa e promove uma inflamação na região.

Nosso sistema imune libera, nesse contexto, substâncias conhecidas como citocinas, que podem ganhar a circulação e interferir no organismo como um todo. Esse estado inflamatório também chega a ser percebido pelas terminações nervosas, que levam a informação ao nosso cérebro e, junto à ação das próprias citocinas, podem alterar seu funcionamento. Isso ocorre particularmente em uma região conhecida como hipotálamo, que se comunica com a hipófise, responsável por coordenar o trabalho de outras glândulas pelo corpo (tireoide, adrenal, ovários, testículos etc).

Ou seja, o impacto no aparelho digestivo pode refletir na produção de vários hormônios importantes, interferindo no metabolismo como um todo. Essa conexão pode esclarecer algumas das manifestações da Covid-19, sobretudo o estado de inflamação sistêmica desencadeado pela virose.

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Sabemos que o Sars-CoV-2 entra no organismo pelo sistema respiratório, ativando uma inflamação inicialmente nas vias aéreas. A questão é que, recentemente, a ciência percebeu que existe uma via de comunicação dos pulmões com o intestino — ela opera por meio de nervos e de células imunológicas como monócitos e linfócitos, que podem, literalmente, carregar o vírus da Covid-19 pelo corpo, inclusive até o intestino.

Essa linha de comunicação representa o que chamamos agora de eixo intestino-pulmonar. Ele permite que o vírus possa evitar a passagem pelo estômago e o duodeno, onde encontramos ácido clorídrico e outras substâncias capazes de aniquilar agentes infecciosos e comprometer sua jornada pelo organismo. Essa via também nos ajuda a entender o aumento da translocação de bactérias em infecções secundárias à Covid-19.

Uma maneira de nos proteger dessas repercussões é reequilibrar a microbiota e tratar a disbiose com probióticos, suplementos com bactérias bem-vindas à saúde. Isso poderia interferir nesses eixos e modular a evolução de uma infecção, eventualmente prevenindo a doença ou suas complicações.

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Atualmente, existem mais de 27 estudos clínicos envolvendo quase 10 mil pessoas em andamento no mundo que têm como objetivo verificar como os probióticos podem auxiliar na prevenção e atuar como coadjuvantes no tratamento da Covid-19. A suplementação de vitaminas, minerais e probióticos aparece na maioria das pesquisas como terapia complementar, no sentido de otimizar a resposta imunológica e contribuir com o restabelecimento do paciente.

Estamos na expectativa pelos resultados, uma vez que se abre, com os probióticos, a possibilidade de termos mais uma arma para ajudar a deter a doença que infectou mais de 150 milhões de pessoas pelo planeta.

* Ricardo Barbuti é médico assistente do Departamento de Gastroenterologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP

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