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Por que coronavírus e tabagismo são uma combinação fatal

Especialistas apontam uso de cigarros convencionais e eletrônicos, bem como narguilés, como fator de risco para infecção e complicações da Covid-19

Por Dr. Alberto José de Araújo, sanitarista, e Dr. Luiz Maltoni, cirurgião oncológico*
Atualizado em 12 jun 2020, 15h47 - Publicado em 12 jun 2020, 10h15
cigarro eletronico coronavirus
Não só o cigarro tradicional, mas as versões eletrônicas também podem aumentar o risco de problemas com o coronavírus. (Foto: Tomás Arthuzzi/SAÚDE é Vital)
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Enquanto o mundo está sofrendo a angústia do novo coronavírus, precisamos alertar para o perigo de vivenciarmos duas pandemias em conjunto: a da Covid-19 e a do tabagismo. Fumar não só favorece o agravamento da infecção como a própria transmissão do vírus.

É importante que a população entenda que todas as formas de uso do tabaco podem elevar o risco de desenvolver Covid-19, inclusive quadros mais graves e potencialmente fatais. A utilização de narguilés e cigarros eletrônicos para vaporizar nicotina ou tetrahidrocanabinol (THC) aumenta a probabilidade de transmitir o vírus devido ao respectivo compartilhamento de piteiras e mangueiras e de dispositivos que permitem exalar gotículas de vapor.

Os fumantes de tabaco aquecido apresentam os mesmos riscos de complicações dessa doença que os usuários do cigarro tradicional.

A exposição a fumaça ou vapor de tabaco é o principal fator de risco para doenças respiratórias. Por afetar a resposta imune do organismo, também contribui para infecções virais e bacterianas. Sim, o tabagismo prejudica nosso sistema de defesa e a reação a vírus e bactérias, o que torna os fumantes mais vulneráveis às doenças infecciosas.

Na microepidemia de Mers (síndrome respiratória do Oriente Médico), causada por um coronavírus clinicamente similar ao da Covid-19, os cientistas notaram uma associação significativa entre o tabagismo e a taxa de mortalidade. Fumantes enfrentavam o dobro do risco de contrair a infecção, sintomas mais graves e maior perspectiva de óbito em comparação aos não fumantes.

A principal porta de entrada do vírus Sars-CoV-2 por trás da atual pandemia está nas mucosas da boca, do nariz e das vias aéreas superiores — e, menos frequentemente, nas conjuntivas dos olhos.

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Nos quadros severos de Covid-19, já sabemos do envolvimento de receptores da enzima ECA2, que são abundantes no tecido dos pulmões. São essas enzimas que permitem ao coronavírus se conectar para infectar as células.

Os fumantes, ex-fumantes e portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica (a DPOC, também ligada ao tabagismo) apresentam aumento expressivo dessa enzima nas vias aéreas inferiores. Isso sugere que fumar contribui para o aumento dos receptores pelos quais o vírus invade o organismo.

Eis um importante fator para complicações da infecção. E, não por menos, os fumantes fazem parte do grupo de risco para as formas graves de Covid-19, marcadas por excesso de inflamação e disfunção de múltiplos órgãos.

A cada tragada de cigarros ou de produtos similares, o fumante inala considerável volume de monóxido de carbono. A grande afinidade de ligação deste monóxido com a hemoglobina gera a carboxiemoglobina, que acarreta baixo nível de oxigênio no sangue, o que resulta em menor tolerância ao exercício e ao esforço físico.

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Entre os fumantes que podem ser alvos do coronavírus, o baixo nível de oxigênio no sangue e a exposição a outras toxinas do tabaco levam à disfunção da camada que reveste o interior dos vasos sanguíneos e linfáticos, a um processo inflamatório generalizado e à maior formação de coágulos.

Tudo isso reforça a necessidade de ampliarmos a conscientização para os fumantes. Temos uma janela de oportunidade crítica para cessar o tabagismo e aumentar a vigilância nesse público a fim de prevenir, detectar e tratar rapidamente eventuais quadros de Covid-19.

Estudos sugerem que parar de fumar por pelo menos quatro semanas já melhora a função imune nos pulmões, o que ajuda a reduzir o risco de desenvolver a doença e as complicações do coronavírus e de outras infecções respiratórias.

A pressão arterial e a frequência cardíaca diminuem após 20 minutos livres do cigarro. E a diminuição das taxas de oxigênio no sangue ou nos tecidos, decorrente da intoxicação crônica por gás carbônico, tende a desaparecer depois das primeiras oito horas sem fumar. Após um dia de abstinência, há melhora da circulação sanguínea e, após duas a 12 semanas, caem os riscos de trombose e doenças cardíacas.

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Parar de fumar é uma medida de proteção decisiva e que deve ser encorajada pelos profissionais de saúde aos pacientes como uma das melhores ações para minimizar problemas sérios pelo Sars-CoV-2.

Os médicos precisam investigar se o paciente fuma — isso é indissociável da história e do exame clínico — e incluir a cessação do vício no rol de boas práticas para o controle da pandemia.

É nosso dever alertar a população sobre o perigo do elo entre o tabaco e a Covid-19. Fumar ou vaporizar não é essencial para a vida nem durante a pandemia nem depois dela.

* Dr. Alberto José de Araújo é médico sanitarista e presidente da Comissão de Combate ao Tabagismo da Associação Médica Brasileira (AMB). Dr. Luiz Maltoni é cirurgião oncológico e diretor-executivo da Fundação do Câncer

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