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Falta de oxigênio para Covid-19: como não se comover e mudar as atitudes?

O apelo de um médico para que a população brasileira se proteja adequadamente do coronavírus em 2021

Por Alexandre Ruschi, presidente da Central Nacional Unimed*
Atualizado em 21 jan 2021, 17h09 - Publicado em 21 jan 2021, 11h50
Desenho de pulmões azuis com ponte de exclamação no meio
A Covid-19 faz com que muitas pessoas precisem de ajuda para respirar. (Ilustração: Pedro Hamdan/SAÚDE é Vital)
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O comportamento de grande parte da nossa população diante da pandemia causada pelo coronavírus vai nos deixar sem ar. Apesar de todas as advertências globais e dos inúmeros apelos feitos para que as pessoas se mantenham em isolamento, o que se vê é o desprezo à morte de mais de 200 mil brasileiros. Um número que, infelizmente, tende a atingir patamares difíceis de prever.

O viés político que contaminou a resposta à maior crise sanitária do último século continuará a incrementar de modo drástico essas estatísticas. As atitudes irresponsáveis daqueles que insistem em quebrar o isolamento social alimentam mentes mal informadas e aumentam a dor de muitas famílias.

A Covid-19 não pode ser banalizada. Estamos falando de uma doença que mata. Sabemos que a vacina simboliza um sopro de esperança para que voltemos a viver de modo (quase) normal outra vez. Ela é extremamente importante, mas os cuidados devem continuar, porque levará tempo até que todos estejam imunizados.

Tenho dúvidas se as pessoas compreendem a ação mortal do coronavírus no organismo. Para ter uma ideia da gravidade, o tempo médio da infecção até a morte é de 19 dias. Sem contar o curso da doença no corpo, que deteriora aos poucos a saúde até mesmo dos mais bem providos dela.

A despeito de todos os esforços para conscientizar a sociedade, creio que chegou a hora de nos unirmos em prol de uma campanha de comunicação em massa que exponha de forma mais enfática o que significa não ter leitos para todos que precisarem. E o que é não ter oxigênio para respirar. Alguma ação que faça os brasileiros saírem dessa sensação de torpor e, francamente, de desrespeito.

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Sou médico há exatos 40 anos. Conheço bem a rotina de um hospital e de uma UTI, tão bem quanto sei o que ocorre com o corpo humano se pararmos de respirar por mais de cinco minutos. É o oxigênio que permite a obtenção de energia para as nossas células. Se paramos de respirar, essas células não têm mais como produzir energia para o corpo, culminando em falência dos órgãos, o que termina em morte.

Será que não entendemos a gravidade da situação mesmo quando o corpo humano não consegue mais respirar por conta própria, e passa a demandar equipamentos que garantam a chegada de oxigênio aos nossos pulmões? Ou mesmo quando o número de dependentes desse oxigênio passa a ser muito superior à capacidade instalada? No momento, me parece que a resposta é um sonoro não.

Se o brasileiro continuar a agir como se a pandemia já tivesse acabado — ou nem começado —, todo o sistema de saúde ficará comprometido: sem leitos, sem equipes para tantos atendimentos, sem perspectivas de sairmos disso e sem o oxigênio que nos mantém vivos. É uma morte horrível, algo como morrer afogado no seco. Nem mesmo essa triste imagem vai gerar comoção?

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Não pretendo ser alarmista ou trágico. Mas olho para o caos decretado em nossas rotinas há quase um ano e me preocupo, cada dia mais, com a falta de consciência sobre um risco já comprovado.

Ao nascermos, a primeira coisa que fazemos é chorar, o que possibilita a expansão dos pulmões para receber o ar externo. E assim permaneceremos até o fim das nossas vidas: respirando. Que o ato de respirar não careça de aparelhos para assegurar a entrada de oxigênio até o último suspiro de cada um de nós.

*Alexandre Ruschi, médico e presidente da Central Nacional Unimed

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