Afinal, há uma dieta que ajude a engravidar?
Médica explica o elo entre a alimentação e a fertilidade. Alguns alimentos merecem ser privilegiados, enquanto outros pedem moderação
Cada vez mais o lema “você é o que você come” direciona a nossa saúde. E, de fato, hábitos saudáveis levam a uma vida mais longeva e com menos doenças. Atualmente, fala-se muito em uma medicina voltada para prevenção — e não somente para o tratamento. Diante disso, a alimentação tem papel fundamental. Mas, falando em fertilidade, a dieta tem alguma influência ou importância? O que a gente come facilita ou atrapalha as chances de engravidar?
A verdade é que não existe uma dieta mágica e muito menos uma única “receita de bolo” que ajuda as mulheres a terem filhos. Agora, existem hábitos e escolhas alimentares mais conscientes e saudáveis que podem, sim, alterar significativamente a fertilidade.
Hoje em dia, as pessoas consomem muitos alimentos com potencial inflamatório. A maioria industrializados, cheios de conservantes. São comidas rápidas e práticas, mas que carregam poucos nutrientes e muita gordura trans, sal, açúcar e carboidratos com alto índice glicêmico. Além disso, essas refeições têm alto potencial alergênico, podendo desencadear uma reação imunológica no organismo.
Para quem não sabe, o índice glicêmico se refere à quantidade de glicose presente em cada alimento. O volume ingerido determina a velocidade com que o açúcar cai na corrente sanguínea e, com isso, a maior ou menor liberação de insulina pelo pâncreas. É a insulina que permite ao açúcar ser aproveitado pelas nossas células, equilibrando também seu nível no sangue.
Comidas que afetam pouco a resposta de insulina são consideradas de baixo valor glicêmico. Quanto mais consumimos alimentos com alto índice glicêmico, maior a chance de desenvolver resistência à insulina, e elevar cada vez mais a produção desse hormônio.
Quando se mantêm os índices glicêmicos elevados, o corpo entra num estado inflamatório, podendo desenvolver diabetes. Essa inflamação, por sua vez, pode ser crucial para a qualidade dos óvulos, espermatozoides e também para a implantação do embrião no útero.
Também está associada à maior produção de radicais livres, moléculas que dificultam a vida das células. Pelo menos conseguimos minimizar a atuação delas ingerindo fontes de antioxidantes (como frutas, verduras e outros vegetais), que melhoram o funcionamento do organismo como um todo.
Um estudo publicado pela Universidade Harvard, nos Estados Unidos, avaliou 18 mil mulheres que desejavam engravidar e estabeleceu uma relação sólida entre alimentação e fertilidade. Alguns dos achados foram a importância do consumo de proteínas ricas em gorduras boas — como as presentes nos peixes — e da redução do consumo de carnes vermelhas.
Carboidratos simples de alto índice glicêmico — como farinha branca — devem ser evitados. Melhor priorizar aqueles mais complexos, como batata doce e produtos integrais. Outro grupo a se moderar, segundo a pesquisa, é o do leite e derivados. Na contramão, vale ampliar o consumo de vegetais. Alimentos ricos em vitamina C, coenzima Q10 e selênio (todos antioxidantes) são particularmente bem-vindos.
Alguma dúvida que adquirir bons hábitos alimentares pode trazer vantagens? Claro que não! São atitudes que visam melhorar o funcionamento do organismo e, certamente, trarão benefícios à fertilidade. Uma dieta balanceada, rica em nutrientes, minerais e vitaminas, aliada à manutenção do peso adequado e à prática de exercícios físicos de forma regular, contribui para a diminuição de fatores inflamatórios e radicais livres. Como consequência, aumenta as chances de engravidar.
* Rafaella Petracco é ginecologista do Fertilitat