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Na raiz de um doce problema

O gengibre se consagra como aliado no controle do diabete. Descubra essa e outras virtudes da especiaria de sabor marcante, apreciada desde tempos antigos.

Por Alexandre de Santi (colaborador)
Atualizado em 26 ago 2019, 16h08 - Publicado em 20 jul 2015, 08h28
Alex Silva
Alex Silva (/)
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Quando Cristóvão Colombo (1451-1506) cruzou o Atlântico, o navegador e seus companheiros buscavam temperos, tecidos, pedras e outros itens exóticos que turbinassem o comércio entre o Ocidente e o Oriente. Mas, ao desembarcar em terras americanas em vez de pisar nas Índias, os exploradores foram compensados com um solo tão fértil que poderia aumentar a produção e a oferta de algumas especiarias. Como o gengibre, a primeira planta trazida pelos europeus para ser cultivada na América, mais especificamente na Jamaica, e depois levada de volta ao Velho Continente. Isso lá em 1585.

Não foi aleatória a escolha por este caule subterrâneo – um rizoma no beabá dos botânicos, que muitas vezes é confundido com raiz. Desde a Antiguidade o tempero picante tinha alto valor de revenda. Pelas bandas orientais, além de dar seu toque a receitas, ele frequentava os empórios medicinais. Aliás, é graças a essas propriedades que, séculos depois, o gengibre virou alvo de experimentos científicos. E boa parte deles, hoje, foca seu efeito contra a diabete.

Controle da glicemia

Uma das últimas pesquisas nessa linha vem lá do outro lado do globo, da Universidade de Teerã, no Irã. Setenta diabéticos do tipo 2 foram divididos em dois grupos: o primeiro recebeu uma dose diária de 1,6 grama de gengibre em pó (menos que uma colher de chá), e o outro, uma cápsula de mentira. Após 12 semanas de uso, a turma que ingeriu o rizoma teve um melhor controle do açúcar no sangue, bem como uma redução nas taxas de colesterol e triglicérides. Os autores não hesitaram em concluir, no artigo publicado no International Journal of Food Science and Nutrition, que “o gengibre pode ser efetivo na prevenção das complicações do diabetes”.

De acordo com a nutróloga Vivian Suen, professora da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, uma das hipóteses para justificar como o tempero contribui para o controle da glicemia recai sobre componentes que atuam em receptores das células. Eles facilitariam a entrada das moléculas de açúcar ali, reduzindo, por consequência, o excedente que dá sopa no sangue.

Também há indícios de que a especiaria inibe uma enzima no fígado, que aciona a quebra das reservas de glicogênio – glicogênio é a forma como a glicose se estoca no corpo para os momentos de emergência. Tirando essa enzima de jogo, menos açúcar seria redirecionado para a corrente sanguínea. É mais uma explicação para o achado de outra investigação iraniana, em que diabéticos que adotaram o gengibre em pó tiveram uma queda de 10%, em média, na glicemia de jejum, evidência de que o organismo está aproveitando melhor o açúcar.

Para manter ou perder peso

A popularização do gengibre do sul da China, de onde é nativo, para o resto do mundo tem muito a ver com um grupo específico de substâncias: gingeróis. São eles que conferem o sabor picante, tão apreciado na culinária. Mas essa qualidade não se restringe ao campo gastronômico. “Os gingeróis e outros componentes do gengibre têm efeito termogênico e, por isso, ajudam a manter ou perder peso”, explica a engenheira agrônoma Rita de Cássia Alves Pereira, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a Embrapa.

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Efeito termogênico quer dizer que o composto faz o organismo suar mais para processá-lo. É o mesmo princípio de aumento do gasto calórico presente na alicina do alho, no aldeído cinâmico da canela e na capsaicina da pimenta. Portanto, se o tempero for incluído na rotina e você não se exceder nas refeições, é provável que vá emagrecer. “Também existe a tese de que as substâncias do gengibre atuem sobre a mitocôndria, a estrutura que provê a energia das células. Isso elevaria a eficiência de seu gasto energético e, em larga escala, ajudaria a perder peso”, relata Vivian.

Câncer e problemas respiratórios

A lista de benfeitorias não para no combate ao diabete e à obesidade. Estudiosos também estão de olho na capacidade que a raiz (ops, rizoma) tem de encarar dois fenômenos que tomam conta do corpo: o estresse oxidativo e a inflamação. Eles estão mancomunados com uma penca de males, caso dos tumores e doenças cardiovasculares. “Os antioxidantes do gengibre capturam os radicais livres e anulam seu potencial de danificar o DNA e outras estruturas das células”, aponta a farmacêutica Rochele Rossi, do Instituto Tecnológico de Alimentos para Saúde da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, na região metropolitana de Porto Alegre. É o que explicaria sua habilidade de podar os primeiros passos para um câncer, por exemplo.

E, já que o tempo esfriou e encrencas respiratórias se avizinham, saiba que há evidências de que o gengibre tem também um efeito antimicrobiano. “Ele atuaria contra várias bactérias, inclusive algumas que se instalam na cavidade bucal”, conta Isabela Sell, professora de nutrição da Universidade do Vale do Itajaí, em Santa Catarina. Como já intuíam os orientais, o gengibre parece ter vocação para cortar problemas pela raiz.

Bala de gengibre pode, doutor?

Os estudos sugerem que diabéticos devem incluir o gengibre no cardápio, mas não é qualquer forma de consumo que está liberada. É melhor fugir de balas e confeitos elaborados com a especiaria. “O diabético já tem glicemia elevada, e esses doces só aumentarão esse índice”, justifica a nutricionista Isabela Sell, professora da Universidade do Vale do Itajaí. Aí é pura matemática: a alta carga de açúcar na bala anularia as propriedades benéficas do gengibre, inclusive sua capacidade de acelerar o gasto energético. Por isso, se quer sentir seu sabor peculiar, msaque o próprio gengibre em lascas – bala, só de vez em quando.

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Vai um copo de gengibre?

Calma, não vamos falar do quentão ou do vinho quente que aquecem as festa juninas e julinas – eles até podem ser degustados com moderação. Mas, para aproveitar as propriedades do gengibre, a dica é deixá-lo de molho na água durante a noite e beber o líquido no dia seguinte. Isso porque os bem-vindos gingeróis passam facilmente para a água. Achou estranho? Estão pegue uma jarra de vidro, pedaços de gengibre, limão e hortelã e bote na geladeira para um pernoite. No outro dia você terá uma água saborizada gostosa e com efeitos termogênicos, antioxidante e anti-inflamatório. Goles que ajudam na manutenção do peso e afastam dores de garganta.

Como consumir

Saiba aproveitar o gengibre no dia a dia

Em chá

O gengibre não deve ser fervido em água. Aqueça o líquido e, antes de atingir o ponto de fervura, retire do fogo e coloque-o em uma caneca com as raspas do gengibre. Espere dez minutos e beba a infusão.

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Em pó

Pode ser misturado em suco, bebidas quentes ou salpicado como tempero nas refeições. A versão concentrada em cápsulas só deve ser tomada sob orientação de um profissional.

Em molho

Basta deixar o gengibre na água por 12 horas (ou no azeite, por um tempo um pouco maior) para extrair os óleos essenciais da raiz e adicionar um sabor refrescante a bebidas e saladas.

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Em lascas

Acompanha pratos e pode ser mascado como chiclete, inclusive para aliviar incômodos na garganta.

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